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Joaquim Levy diz que governo não tem espaço para ‘fazer besteira’ e projeta queda da Selic ainda neste ano

30 abr 2025, 12:22 - atualizado em 30 abr 2025, 12:24
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Joaquim Levy em palestra durante a Agrishow 2025 (Foto: Gustavo R. Silva/Money Times)

O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy diz considerar que o Brasil possui as ferramentas necessárias para passar com tranquilidade pelos próximos anos, mesmo diante de um cenário internacional ainda incerto. 

No entanto, o atual diretor de estratégia econômica do Safra vê necessidade de discursos estratégicos no período eleitoral de 2026, discutindo os amplos desafios econômicos do país. 

“Temos um desafio arrecadatório, tem as emendas dos parlamentares e outras coisas que vão precisar ser tratadas, principalmente a partir de 2027, por qualquer que seja o governo”, afirmou Levy.

Em apresentação durante a Agrishow, o economista projetou baixo risco para a economia brasileira até o próximo ciclo eleitoral, desde que o Banco Central (BC) mantenha a cautela. A respeito do temor do mercado sobre medidas eleitoreiras, Levy vê o governo “encurralado”.

“O governo tem que continuar andando nos trilhos. De vez em quando vem aquela tentação de fazer uma besteira, mas na verdade não tem espaço para isso. Não tem porque o Congresso não vai deixar e porque não tem dinheiro”, disse Levy.

Tarifas de Trump e os efeitos para o agronegócio brasileiro

A respeito da conjuntura internacional, Levy considera que ainda é cedo para saber como a guerra tarifária vai acabar. Segundo ele, a grande preocupação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve ser com o orçamento do país.

Com a tentativa de levantar recursos por meio das tarifas, Trump pode acabar ampliando o déficit comercial americano, desencadeando efeitos nas taxas de juros. De acordo com o ex-ministro, em algum momento o Federal Reserve vai ter que decidir o que fazer.

“Ele vai ficar preocupado com o aumento da inflação, porque você botou as tarifas, ou ele vai tentar dar uma agraciada, porque a economia vai andar mais devagar. Se ele resolver ser muito bonzinho, o que vai acontecer? O dólar vai começar a desvalorizar”, afirmou Levy.

Neste cenário, o economista destacou que as importações chinesas dos EUA já estão caindo, se redirecionando para outros exportadores como o Brasil, sobretudo para as commodities agrícolas.

Na visão do atual diretor do Safra, a posição do ministério da Fazenda precisa ser de cautela e abertura ao diálogo. “O Brasil tem que conversar com todo mundo. Não tomar partido de um, nem de outro. A gente produz coisas que as pessoas precisam, produtos de qualidade, tanto no agro, quanto na energia, quanto no minério”, disse.

Levy não vê o cenário tão favorável quanto em 2021 e 2022, quando o preço das commodities estavam mais elevados. No entanto, o Brasil é menos vulnerável ao choque causado pelas tarifas do que outros países

O economista afirmou que é possível que investidores internacionais voltem a olhar para o Brasil, considerado barato com o câmbio nos patamares atuais.

Inflação e juros no Brasil

Para a economia brasileira, Levy destacou que os problemas relacionados à inflação são causados pela alta do dólar, que chegou a bater R$ 6,30 no final do ano passado.

Com o câmbio afetando os preços, o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer 1,5%, puxado pelas exportações.

Segundo o especialista, o Brasil deve atingir em 2025 o terceiro maior saldo comercial da história do Brasil, com cerca de US$ 75 bilhões. “Não vai ser a mesma coisa que a gente teve em 2023, que chegou a US$ 98 bilhões, mas não está ruim. É bem melhor que a média de uns entre US$40 bilhões e US$ 50 bilhões”, disse.

Levy ainda afirmou que o crescimento deve ser puxado pela forte safra, que aumentou 15% e até mesmo pela elevação da produção de petróleo. Já a demanda doméstica anda de lado, com um possível crescimento de 1% no consumo das famílias.

Diante disso, o ex-ministro fez suas projeções para o momento em que os juros podem voltar a cair no Brasil. A projeção é de que o BC está chamando a atenção para uma eventual desaceleração e a gradual diminuição da pressão inflacionária, com o dólar mais baixo do que no ano passado.

“Provavelmente, agora em maio o BC deve elevar os juros em 0,5 ponto. Depois ele vai parar e ficar observando, provavelmente até o final de setembro. Se lá estiver tudo bem demais, ele vai fazer um corte, ou ele vai esperar novembro e começa a cortar. Corta em novembro e depois em dezembro, e aí entra em 2026 já com a capacidade de ir relaxando”, afirmou Levy.

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Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
gustavo.silva@moneytimes.com.br
Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
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