Leilão do túnel Santos-Guarujá: R$ 6,8 bilhões e disputa internacional começam hoje

Os governos federal e estadual de São Paulo promovem hoje (5), na sede da B3, o leilão para a concessão do Túnel Santos-Guarujá, a primeira travessia submersa do Brasil. O início está programado para as 16h.
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A relevância do projeto é tamanha que, no lançamento do edital do túnel Santos-Guarujá, em fevereiro, o evento reuniu dois rivais políticos — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) — simbolizando a união institucional em torno de um projeto estratégico para a mobilidade e logística da Baixada Santista.
O leilão tem valor estimado em R$ 6,8 bilhões e será conduzido pelo governo estadual em PPP (parceria público-privada) de 30 anos, com apoio do Ministério dos Portos e Aeroportos.
Grandes construtoras nacionais, como Odebrecht-Álya e Andrade Gutierrez, já anunciaram desistência da disputa, citando falta de fôlego financeiro e dificuldade de acesso a financiamentos públicos e privados.
Isso abriu espaço para grupos internacionais, como a portuguesa Mota-Engil e a espanhola Acciona, mas também acendeu alertas sobre a competitividade das empresas brasileiras.
O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou 24 falhas no edital, e o Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) chegou a solicitar a suspensão do leilão, citando possíveis favorecimentos a estrangeiros.
Projeto atual do túnel Santos-Guarujá
O plano prevê uma ligação submersa moderna, com tecnologia de túnel imerso, consolidada na Holanda, Japão e China. A licença ambiental prévia foi concedida pela Cetesb em agosto de 2025, permitindo que o projeto avance para o modelo PPP.
O túnel terá três faixas por sentido, incluindo uma dedicada ao VLT, ciclovia e galeria para pedestres, substituindo a travessia por balsas utilizada atualmente por mais de 21 mil veículos por dia.
A estimativa é reduzir o tempo de viagem de 1 hora por estrada ou 18 minutos de balsa para apenas 5 minutos.
O projeto impacta diretamente a logística do Porto de Santos, o maior da América Latina, além de beneficiar milhões de habitantes e trabalhadores da região.
Um século de promessas e frustrações
A ideia de criar uma ligação seca ou submersa entre Santos e Guarujá remonta a 1927, quando o engenheiro Enéas Marini apresentou o primeiro túnel inspirado no Túnel Holland.
O trajeto teria 900 metros e atenderia bondes, automóveis e até carroças. A falta de recursos e concessão impediu sua execução.
Outros projetos anunciados ao longo do tempo também não avançaram, provocando frustração ao longo das décadas. Entre eles, destacam-se os três mais recentes:
Ponte estaiada de José Serra (2010): 4,6 km de extensão, altura livre de 80 metros, custo estimado em R$ 700 milhões. Abandonada devido à complexidade técnica e impacto no Porto de Santos.
Túnel submerso de Geraldo Alckmin (2013): custo previsto de R$ 2,4 bilhões, início das obras planejado para 2015. Entraves financeiros e burocráticos impediram a execução.
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Ponte de 7,5 km analisada pela Ecovias (2019): orçada em R$ 2,9 bilhões, enfrenta resistência do setor portuário e falta de consenso.
Por que o túnel Santos-Guarujá é estratégico
Além de reduzir drasticamente o tempo de viagem, o túnel pode ajudar a:
- Melhorar a mobilidade da Baixada Santista;
- Apoiar a logística do Porto de Santos;
- Modernizar a travessia atualmente dependente de balsas;
- Integrar transporte público, ciclovias e pedestres em um mesmo projeto.
Hoje, o leilão do túnel Santos-Guarujá será decisivo. Quase 100 anos depois, o sonho de conectar Santos e Guarujá de forma rápida e segura continua cercado de expectativa, algum ceticismo e atenção internacional.