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Lições do caso FTX: Evite descontos de Black Friday em seu patrimônio

22 nov 2022, 14:58 - atualizado em 22 nov 2022, 15:02
FTX Alameda FTT
O que aprender com fatídico caso da FTX, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo. Leia a coluna do Beto Assad, consultor para o Kinvo. (Imagem: Virgile Simon Bertrand para Forbes)

2022 vai ficar marcado como o ano mais problemático para o universo das criptomoedas (pelo menos até agora e com o plus da FTX).

Não à toa, o período vem sendo chamado de inverno cripto, um verdadeiro pesadelo para os investidores destes ativos, que nem se animam com preços de Black Friday.

As duas principais criptomoedas do mundo, bitcoin (BTC) e ether (ETH), estão caindo mais de 50% no ano. Já os tokens Cardano (ADA) e Solana (SOL) caem na faixa de 70%.

Em maio deste ano, o mundo foi pego de surpresa com o colapso da rede Terra, uma blockchain que estava em franca ascensão, junto com a sua criptomoeda Luna. Investidores encontraram vários problemas no mecanismo da blockchain, que mais se parecia com uma típica pirâmide financeira.

O resultado foi a mega desvalorização da Luna, que acabou com a confiança do mercado e tem ajudado na desvalorização das criptomoedas ao longo do ano. Afinal de contas, a segurança de se investir em criptomoedas passou a ser questionada como nunca havia acontecido.

Então chegamos agora ao fatídico caso da FTX, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo.

Resumão do caso da FTX

Para quem ainda está por fora do que estou falando, vai aí um resumo:

Sam Bankman-Fried criou em 2017 a Alameda Research, uma empresa de trading que buscava fazer operações de arbitragem em criptomoedas com o dinheiro de clientes, ou seja, comprava criptomoedas em algum local para vendê-las imediatamente em outra praça em que a moeda estivesse mais cara.

Até aí nada demais, já que as operações de arbitragem são extremamente comuns no mercado financeiro.

Em 2019, para tornar seu negócio mais lucrativo, Sam resolveu criar sua própria exchange. Assim, ele não teria que pagar as taxas para outras corretoras de criptomoedas e embolsaria também essa receita. Nasceu então a FTX.

Uma prática comum entre as grandes exchanges é elas criarem a sua própria criptomoeda, oferecendo algumas vantagens aos clientes que mantenham sua reserva de cripto na moeda da casa. Logo a FTX criou a FTX Token (ou FTT).

Em 2021 e FTT chegou a subir mais de 1200% até novembro, marcando o “melhor” momento do ativo e da empresa.

Porém, um detalhe “enorme’ passava despercebido para a maioria dos investidores. A maior compradora da FTX era a Alameda Research, lembram dela? Isso ajudava a inflar o preço da FTT e atraía cada vez mais pessoas na expectativa de que essa cripto seria a nova “bolsa da vez”.

O começo do fim

Com o bom momento das criptos no mundo, a operação seguia muito tranquila. A Alameda comprava a FTT, puxando o preço do ativo, fazendo os clientes comprarem cada vez mais caro, fazendo a roda girar e inflar ainda mais os valores da FTT. E tudo saía e entrava do bolso de Sam pela movimentação por meio das duas empresas.

Com a valorização “artificial” do FTT, Sam começou a usar sua criptomoeda como garantia para levantar empréstimos em dólar, além de realizar rodadas de investimentos que capitalizaram a empresa em mais de US$ 400 milhões em troca de uma pequena parcela da empresa.

Voltamos então ao caso Terra Luna. A quebra da blockchain iniciou um processo de venda muito forte de criptomoedas, que se estendeu para a FTT.

A moeda da FTX despencou, as garantias dos empréstimos zeraram, e a quantidade de pessoas vendendo a criptomoeda tornou insustentável a estratégia de manutenção do valor inflado.

Com pouco caixa, a empresa passou a usar o dinheiro dos clientes para pagamento de credores e saques.

Porém, no início de novembro o mercado descobriu que as reservas da Alameda estavam em FTT, e que o valor que a companhia afirmava ter era maior do que o valor de todos os FTTs emitidos. Ou seja, a empresa estava mentindo.

Quando a Binance, a maior exchange do mundo, afirmou ainda que iria liquidar toda a sua posição em FTT, criou-se então o clima para a tempestade perfeita. A FTT continuou despencando e Sam declarou a falência de suas empresas FTX e Alameda.

O fato trouxe mais problemas para a credibilidade do universo cripto, O economista Peter Schiff, famoso pela sua posição anti-criptomoedas e por ser um dos economistas que previram a crise de de 2008, afirmou inclusive que os eventos deste ano fazem parte do processo de “extinção das criptomoedas”.

Lições para você investir melhor

Não sei realmente dizer se as criptomoedas vão acabar, mas algumas duras lições devem ser tiradas dos acontecimentos deste ano.

A primeira é uma frase famosa que vem sendo disseminada ao longo da semana: “Not you keys, not your cripto”.

O ditado em inglês, que pode ser traduzido literalmente como “não são suas chaves, não é sua a cripto, expressa a crença que os investidores não possuem de fato as suas criptomoedas, a menos que estejam armazenados em uma carteira para a qual tenham as chaves.

Assim, se você quer investir em criptomoedas, utilize uma exchange para comprá-las e depois as armazene numa “wallet” de sua preferência.

Exige um pouco mais de trabalho, além do custo da carteira. Mas num mercado altamente desregulamentado como o de criptomoedas, a maioria dos especialistas considera mais seguro usar a wallet do que deixar seu dinheiro na exchange.

O segundo ponto é gestão de risco. A ganância tem feito muita gente perder muito dinheiro. O sonho de achar a próxima galinha dos ovos de ouro têm consistentemente se transformado no pesadelo de perder todas as economias de uma vida.

Vale a pena investir em criptomoedas?

O mercado de criptomoedas é extremamente volátil, e as pessoas parecem considerar apenas a chance de ganhar dinheiro, esquecendo que a volatilidade funciona tanto pra cima quanto pra baixo.

Portanto, quer se aventurar no mercado cripto? Tudo bem, mas vá com calma. Quando for alocar o capital, pense primeiro na possibilidade de perder todo aquele dinheiro e como você iria se sentir se isso acontecesse.

Dessa maneira, você terá uma ideia mais clara do tamanho da posição que você pode alocar em determinado ativo.

A próxima lição é: se você quer segurança, fique longe das criptomoedas. Claro que a renda variável traz um certo grau de incerteza e a possibilidade de se perder dinheiro é real.

Mas no mercado de ações, pelo menos, existe uma regulamentação e um ativo “real” que traz mais segurança para investidor. No mercado de criptomoedas, fica cada vez mais claro que a falta de uma regulamentação efetiva abre espaço para oportunistas explorarem a boa vontade das pessoas.

Mais uma vez, invista em criptomoedas desde que esteja realmente ciente dos riscos envolvidos, seja de regulação, seja de mercado. Use o ano de 2022 para entender, de uma vez por todas, que rentabilidade passada não é sinônimo de ganhos no futuro.

As criptomoedas podem se recuperar e voltar aos patamares vistos no pós-pandemia? Claro que podem. Mas o investidor tem que estar vivo, financeiramente falando, para poder tentar aproveitar estes movimentos. E este ano, com certeza, tirou muita gente de vez do mercado cripto.

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Disclaimer

Money Times publica matérias informativas, de caráter jornalístico. Essa publicação não constitui uma recomendação de investimento.

Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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