Opinião

Mais uma grande redução de estoques nos EUA pode ajudar os preços do petróleo?

04 set 2019, 14:06 - atualizado em 04 set 2019, 14:09
Petróleo
Essa notícia sacudiu o mercado, principalmente quem estava vendido a descoberto (Imagem: REUTERS/Vasily Fedosenko/File Photo)

Por Barani Krishnan/Investing.com

Até os touros mais convictos do petróleo não esperavam uma retirada de 10 milhões de barris dos estoques, segundo a Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês), em comparação com os 2 milhões previstos pelos analistas. Com razão, essa notícia sacudiu o mercado, principalmente quem estava vendido a descoberto.

É comum haver uma enorme retirada de estoque durante a metade do ciclo da temporada de viagens automotivas de verão nos EUA. Como essa redução ocorreu mais no final – na semana terminada em 23 de agosto – naturalmente levantou questões sobre o que poderia tê-la impulsionado, especialmente quando a atual narrativa do mercado se resume a demanda fraca, temores com a guerra comercial EUA-China e uma possível recessão mundial.

Na esteira dessa redução de 10 milhões de barris, as importações caíram mais de 1 milhão de barris, para menos que os costumeiros 6 milhões, validando a teoria da desaceleração.

Mesmo assim, a retirada de gasolina e destilados, de 2 milhões cada, e as fortes exportações, acima de 3 milhões, destoaram da narrativa do mercado. Alguns chegaram a se perguntar se as refinarias entraram em alguma fase maluca de produção antes do Furacão Dorian, com medo de que fosse em direção às plataformas de energia na Costa do Golfo dos EUA, em vez atingir apenas a Flórida, onde terminou.

A próxima retirada será satisfatória?

Seja qual for o caso, tudo agora é literalmente ventos passados. O que importa no momento é se a EIA anunciará outra retirada na semana terminada em 30 de agosto. Isso é o que os analistas esperam, uma vez que pode ter sido o último sinal de vigor dos motoristas norte-americanos, culminando no fim de semana antes do feriado do Dia do Trabalho, na segunda-feira. Se houver uma retirada, será que ela ficará perto da última ou pelo menos será “decente”, isto é, de dois milhões de barris ou mais, como se previa?

As retiradas de estoque geralmente caem a partir do início de setembro. Mas existe a possibilidade de que continuem fortes por enquanto. Por exemplo, na penúltima semana de agosto de 2018, a EIA apurou uma queda de 5,8 milhões de barris. Nas quatro semanas seguintes, os estoques nos EUA continuarem apresentando quedas, perdendo cumulativamente 14,2 milhões de barris.

Em 2017, as retiradas de petróleo nos EUA cessaram abruptamente na semana final de agosto, antes de três semanas consecutivas de acúmulos que adicionaram quase 15 milhões de barris aos estoques. Mas praticamente todo esse volume foi consumido nas quatro semanas subsequentes, quando os estoques caíram sem parar.

As quedas nos estoques são capazes de provocar um rali duradouro no petróleo?

Mas talvez a pergunta mais importante a ser feita seja: qual seria a ajuda de outra grande retirada de estoque para os preços do petróleo?

Tomando como base o comportamento dos preços desde a última divulgação de dados pela EIA, a resposta é: “muito pouca”.

Gráfico 60 Min WTI - Powered by TradingView
Gráfico 60 Min WTI – Powered by TradingView

O petróleo norte-americano West Texas Intermediate fechou com queda de cerca de 1%, a US$ 53,64 por barril, no dia 26 de agosto, um dia antes de o Instituto Americano do Petróleo (API) alertar os traders sobre a possibilidade de a EIA anunciar uma queda na ordem de 11 milhões de barris.

Depois do boletim do API e a confirmação da EIA da maior parte desse número, o WTI se valorizou quase 2% em cada um dos três dias seguintes. Em seguida, com a chegada do fim de semana, o WTI despencou quase 3%, quando a China surpreendeu o governo Trump com tarifas retaliativas, após os EUA terem tomado medida semelhante. Os preços do petróleo continuaram caindo na segunda e na terça-feira por temores de uma recessão.

No fechamento de terça-feira, antes do boletim seguinte do API, o WTI permaneceu a US$ 53,84, apenas 20 centavos mais alto do que uma semana antes.

Isso prova que a guerra comercial e a recessão são os dois fatores principais que pesam sobre o mercado, de forma que até mesmo os maiores números de queda de estoques nos EUA podem ser completamente varridos pelo sentimento baixista que predomina no petróleo.

E não são apenas os temores com a demanda que estão minando os preços do petróleo.

Opep e Rússia não estão ajudando o mercado

A superprodução da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), bem como o fato de a Rússia não estar realizando os cortes de produção que prometeu ao cartel pioraram o sentimento.

Uma pesquisa da Reuters na semana passada mostrou que a produção petrolífera da Opep aumentou em agosto pela primeira vez em 2019. O grupo produtor de petróleo bombeou 29,61 milhões de barris por dia (mbpd) no mês passado, um aumento de 80.000 bpd desde julho.

O ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, por sua vez, admitiu na sexta-feira que Moscou não estava honrando os cortes produtivos acordados, interrompendo de forma estridente o rali do petróleo da semana passada.

Se, por qualquer razão, o WTI e o Brent, referência mundial do petróleo, caírem abaixo de US$ 50 por barril, não seria demais supor que a Arábia Saudita e as forças combinadas da Opep fariam de tudo para “rebalancear” o mercado, como sugeriu o reino duas semanas atrás. Mesmo com a queda de agosto, o cartel prometeu manter 1,2 mbpd fora do mercado, embora só a Arábia Saudita tenha se esforçado mais.

Ainda que o petróleo dispare com cortes mais fortes da Arábia Saudita, a probabilidade maior é que a guerra comercial e os temores de uma recessão dominem o sentimento do mercado. O que podemos ter são mais oscilações de mercado que ajudaram os traders de volatilidade nas últimas semanas.