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Matheus Spiess: Inflação, ouro e… criptos?

05 mar 2021, 20:31 - atualizado em 05 mar 2021, 20:33
Ouro
“O ouro geralmente tem um bom desempenho quando os preços sobem (inflação), uma vez que é um ativo tangível com oferta limitada”, afirma (Imagem: Pixabay)

Desde o início de 2021, os investidores têm precisado apertar o cinto todo final de mês. Se em janeiro tivemos os investidores de varejo desafiando os institucionais vendidos a descoberto, na semana passada foram os temores relacionados à inflação nos EUA e a resposta dos bancos centrais que assombraram os mercados.

Enfim, a volatilidade, tão presente na vida dos financistas, tem feito mais manchetes ultimamente.

Você pode argumentar que isso não é um bom presságio para os mercados que deveriam ser líquidos o suficiente para suportar eventuais fluxos adicionais.

No entanto, prefiro interpretar isso como um sinal de posicionamento excessivo no curto prazo, natural em momento de maior sensibilidade como o que vivemos.

Pense assim: o mercado é um teatro grande com uma porta pequena.

Se todos correrem para a saída ao mesmo tempo, ocorrerão grandes oscilações nos preços.

Para ilustrar mais da situação, o gráfico abaixo pode nos ajudar a lembrar que, em geral, ações não gostam muito de inflação ou deflação.

O ponto ideal da inflação, em termos de impacto nas relações de preço sobre lucro (P/L ou P/E) para ações, é de cerca de 2% – curiosamente, a meta de inflação do Fed, o Banco Central americano.

Note como os valuations declinam em ambas as direções a partir daí.

Tabela

Com a escalada da expectativa de inflação nos EUA, naturalmente, enfrentaríamos maior volatilidade – agentes reavaliando posições e preponderando suas relações de risco e retorno.

Investidores ficam mais avessos ao risco e, quando o compram, preferem teses menos sensíveis aos juros e que se comportam melhor em ambientes de inflação.

Damos a este movimento o nome de reflation trade.

Assim sendo, estabelecemos que as preocupações com a inflação estão alimentando a volatilidade nos mercados de ações e de títulos em geral.

Se a ansiedade persistir, isso pode ser bom para o ouro – uma posição clássica para momento de medo que vem enfrentando dificuldades nos últimos meses.

Os preços do ouro caíram mais de 10% este ano e estão sendo negociados cerca de 17% abaixo d o recorde histórico de mais de US$ 2.000 a onça, estabelecido em agosto do ano passado.

Mas o ouro geralmente tem um bom desempenho quando os preços sobem (inflação), uma vez que é um ativo tangível com oferta limitada.

Observe o gráfico abaixo.

O ouro não paga juros nem paga dividendos. Assim, se torna correlacionado negativamente às taxas reais dos EUA. Quando as taxas reais dos EUA atingiram -1,10%, o ouro atingiu mais de US$ 2.000. Agora, com as taxas reais subindo para cima de -0,80%, o ouro está em US$ 1.700.

Recentemente, porém, o ouro perdeu um pouco de seu brilho à medida que os investidores olham para o bitcoin.

A ideia seria de que a criptomoeda também é um recurso escasso, uma vez que apenas 21 milhões podem ser criados, por seu código-fonte, e cerca de 18,6 milhões já estão em circulação.

Como há um número finito de moedas, há quem defenda que o bitcoin possa substituir o ouro em um momento em que as taxas de juros estão subindo – lembre-se: quando as taxas sobem drasticamente, isso prejudica os retornos sobre o ouro.

E o que tem acontecido com ele recentemente? Bem, o bitcoin tropeçou no final de fevereiro, oscilando violentamente enquanto alguns investidores questionavam se a enorme alta nos últimos meses foi exagerada.

A criptomoeda agora está sendo negociada por volta de US$ 50 mil.

Eu entendo, no entanto, que as comparações entre os dois ativos são insuficientes. O bitcoin não é um ativo tangível e, portanto, não tem valor inerente.

Esse debate pode se intensificar nos próximos meses, especialmente se o ouro perder atratividade de curto prazo relativa – se a inflação aumentar estruturalmente, a taxa de juros nos EUA pode subir mais ainda.

Como acredito que o estresse nas taxas de juros nos EUA seja momentâneo, entendo que o ouro será um dos ativos de melhor desempenho nos próximos anos.

Além disso, existem benefícios comprovados para carteira diversificadas de se manter posições para o carregamento de longo prazo em metais preciosos.

Claro, por conta da volatilidade dos metais em si, nunca se é bom ter demais. Mas um pouquinho para o longo prazo pode fazer sentido.

Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.

Economista e especialista em investimentos da Empiricus
Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia pela PUC. Pós-graduado no Programa Avançado em Finanças do Insper, trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimentos da América Latina, além de ter feito parte de uma boutique voltada para fusões e aquisições, na área de modelagem financeira e pesquisa. Hoje faz parte no time de analistas da Empiricus, participando de séries como Palavra do Estrategista e Double Income, além do programa Empiricus Private junto do Felipe Miranda, estrategista-chefe e um dos fundadores da casa. É analista CNPI e especialista em investimentos CEA.
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Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia pela PUC. Pós-graduado no Programa Avançado em Finanças do Insper, trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimentos da América Latina, além de ter feito parte de uma boutique voltada para fusões e aquisições, na área de modelagem financeira e pesquisa. Hoje faz parte no time de analistas da Empiricus, participando de séries como Palavra do Estrategista e Double Income, além do programa Empiricus Private junto do Felipe Miranda, estrategista-chefe e um dos fundadores da casa. É analista CNPI e especialista em investimentos CEA.
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