Governo Federal

Lula, BC e metas de inflação: uma questão de expectativas do mercado

12 fev 2023, 16:00 - atualizado em 14 fev 2023, 8:24
Codorna
Mercado e governo vivem dilema sobre criar expectativas ou codornas; enquanto o primeiro segue firme às metas (dados) o segundo mira a realidade (Imagem: Divulgação)

A queda de braço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central trouxe à mesa de discussão temas considerados caros aos mercados. Entre eles, a autonomia da autoridade monetária, o nível elevado dos juros básicos e as metas de inflação

Dos três, este último foi colocado em evidência mais recentemente. Instituído desde 1999, quando o Brasil passou a adotar o regime de metas, Lula tratou da questão ainda na primeira entrevista exclusiva à imprensa nacional

A partir daí, ele passou a ser o negociador do tema, convocando outros atores para o debate. Desde o início, a proposta do governo é mostrar o descompasso entre a taxa Selic, a inflação e o alvo perseguido pelo BC

De um lado, a discussão faz sentido. Afinal, à medida que o índice oficial de preços ao consumidor (IPCA) começou a desacelerar, o Brasil voltou a figurar no topo do ranking dos países com maior taxa de juro real do mundo

Nesse caso, “quem tem grana ganha; quem não tem ‘toma fumo’”, resumiu um profissional experiente do mercado financeiro. Além disso, há quem diga que passou da hora de rever (corrigir?) as metas, já que fazem três anos que o Brasil simplesmente não consegue cumpri-las – tendo ultrapassado o centro da meta em dois deles. 

De outro lado, muitos avaliam que a questão é mera distração. Ou seja, o governo está criando mais um “não problema” para resolver. Ao invés disso, deveria estar preocupado com assuntos mais importantes e debates realmente difíceis que precisam ser enfrentados. Na visão do mercado, leia-se uma nova âncora fiscal e a agenda de reformas.

Dobrar a meta e criar codornas

Seja como for, o assunto deve concentrar as atenções dos investidores nesta semana, diante do rumor de revisão das metas de inflação já na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), no dia 16. Ao que tudo indica, pode acabar subindo para 3,50% em 2024 e 2025.  

Para entender o debate na “linguagem popular”, o sócio e economista-chefe da Quantitas Asset Management, Ivo Chermont, explica, em uma postagem no LinkedIn:

“Se o seu filho tira 4 na P1, e 5 na P2, e o colégio decide, depois de realizadas as provas, mudar a média de 6 para 4,5 para que ele passe de ano, isso te traria mais tranquilidade ou preocupação em relação à escola? Você acha que no ano seguinte, dada a mudança de regras para acomodar os problemas, seu filho estudaria mais ou menos?”

Nesse embate, é inevitável recorrer à célebre frase da ex-presidente Dilma Rousseff, quando questionado sobre a meta, fiscal, no caso: “Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”. 

À época, o termo “meta” virou sensação na internet, com os internautas criando várias situações em que o termo pode ser adaptado. Agora que a palavra volta a ficar na moda, é válido lembrar do famoso meme sobre os dilemas da Ivana. 

Afinal, enquanto ela decidiu criar expectativas, outra menina, Maiara, criou codornas. No fim, a primeira não tinha nada e deixou de ser uma criança feliz. Já a segunda tinha ovos, de codorna.

Moral da história

Brincadeiras à parte, a mensagem, em tom jocoso, dialoga com um texto de André Lara Resende que também circulou pelas redes sociais nos últimos dias. Já lá no fim do artigo sobre “O precipício e a realidade”, o economista e um dos “pais do Plano Real” diz que o Brasil continuará a ter a taxa real, descontada a inflação, mais alta do mundo, de quase 8% ao ano. 

“A razão? A necessidade de ancorar as expectativas. Expectativas de quem? Do mercado financeiro, divulgadas pelos seus próprios analistas. Por que estariam desancoradas? Por causa do risco fiscal que eles mesmo decretaram ser muito alto e se encarregam de propagar por toda a mídia”. 

Ou seja, quando se leva em conta os dados e a realidade, os mercados antecipam os “fatos alternativos”, como dizia Nelson Rodrigues.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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