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Mercado Pago ‘entra em guerra’ contra BC argentino, em sinalização de desgaste de governo Fernandéz com empresários

27 set 2023, 15:56 - atualizado em 27 set 2023, 15:56
Mercado Pago Mercado Livre
Mercado Livre entra em rota de colisão com BC argentino (Imagem: divulgação)

O Mercado Pago, a fintech do Mercado Livre, fez uma crítica pública ao Banco Central argentino na última segunda-feira (25).

O Banco Central do país aprovou uma resolução, vigente a partir do dia 1º de dezembro, obrigando empresas cadastradas no sistema nacional de pagamentos da Argentina a substituir o “Débito Imediato” (Debin) pelas “Transferencias Imediatas Pull” (TIP).

O débito imediato é um mecanismo de transferências que se assemelha ao Pix e que vem ganhando adesão em um momento de popularização das carteiras digitais, sobretudo por trazerem retornos que conseguem proteger parte do poder aquisitivo dos clientes diante da inflação corrosiva.

Dentro do Mercado Pago, o Debin é utilizado para que clientes façam transferências imediatas, sem taxas ou uso de cartões, entre as carteiras cadastradas no aplicativo.

A fintech usou a sua conta no X (antigo Twitter) para criticar a nova resolução. Diz o post: “por conta de uma medida apoiada pelos bancos tradicionais, mais de 4 milhões de pessoas terão dificuldades para acessar suas contas digitais no Mercado Pago.”

O Mercado Pego alega que o sistema Debin é o meio de transferência mais seguro que existe, com índice de fraude que corresponde a 0,02% de todo volume transicionado.

O argumento da fintech busca contrapor a autoridade monetária, que justifica a aprovação da nova resolução a partir da necessidade de se combater fraudes financeiras.

No comunicado oficial, o Mercado Pago alega que os testes de transferência por solicitação causaram falhas em 90% das vezes. Em vários casos, clientes necessitaram se deslocar até caixas eletrônicos para confirmar suas identidades.

Disputa de interesses

As instituições tradicionais também estiveram no alvo das críticas do Mercado Pago. “Com uma inflação de 124% anual, os bancos tentam impedir que milhões de argentinos enviem dinheiro através de suas contas digitais. Hoje, esta conta rende 94,6% anualmente e é uma ferramenta conveniente para se proteger, ao menos parcialmente, da perda do poder aquisitivo.”

Na outra ponta, os bancos tradicionais alegam que o alto retorno das contas digitais é uma vantagem concorrencial ilegal, já que as plataformas não precisam cumprir as normas de um credor financeiro institucionalizado.

Governo Fernandéz coleciona medidas anti-empresariais

O episódio envolvendo o Mercado Pago chama atenção ao marcar uma rara manifestação pública do Mercado Livre sobre a administração de Alberto Fernandéz. O fato dá sinais do mal-estar dos empresários argentinos com o governo.

Desde que assumiu, o governo peronista é criticado por assumir medidas antiempresariais através do BC local, como controles cambiais. Diferentemente do caso brasileiro, a política monetária argentina é subordinada ao governo.

Em 2020, Alberto Fernandéz tentou nacionalizar a trading agrícola Vicentin, gigante exportadora de soja e dos biocombustíveis na Argentina. Na oportunidade, o governo chegou a assumir o controle da companhia por cerca de 31 dias, aproveitando-se de uma recuperação judicial da companhia.

O presidente recuou, revogando o decreto no dia 31 de julho daquele ano, após pressão de produtores rurais e da oposição ao peronismo.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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