Internacional

Mesmo ingovernável, Peru consegue blindar sua economia

17 dez 2022, 15:00 - atualizado em 16 dez 2022, 18:04
Peru
Peru enfrenta protestos violentos pela libertação de Pedro Castillo (Imagem: REUTERS/Angela Ponce)

Desde que Pedro Castillo tentou dissolver o Parlamento para evitar a aprovação de seu impeachment o Peru enfrenta uma convulsão social.

Até agora, são 12 manifestantes mortos em decorrência de confronto com as Forças Armadas e a Polícia Nacional, que assumiram a patrulha das ruas do Peru através da declaração de um estado emergencial pela presidente Dina Boluarte. 

Os manifestantes  exigem a liberação de Pedro Castillo, preso imediatamente após a tentativa de dissolução do Congresso, e a convocação de novas eleições para o poder Legislativo. O agora ex-presidente teve a sua prisão preventiva decretada pela justiça do país.

A situação dos protestos é pior no Sul do Peru, base eleitoral de Castillo, onde cinco aeroportos estão fechados e um toque de recolher foi instaurado. Entremeio ao caos, a linha de trem que dá acesso a Machu Picchu, principal ponto turístico do país, também foi paralisada, isolando cerca de 5 mil turistas na região.

O governo de Dina Boluarte, vice na chapa de Castillo, não enfrenta contestação somente nas ruas. Em Ayacucho, o governo regional tem demandado a renúncia imediata da presidente e dos ministros do Interior e da Defesa, bem como a cessação imediata do uso de armas de fogo pelas polícias.

Luis Arce, presidente da Bolívia, também tem usado suas redes sociais para demonstrar repúdio ao que ele entende como um  “constante assédio das elites antidemocráticas”.

Peru teve seis presidentes nos últimos seis anos

A crise institucional envolvendo a remoção de Castillo do poder é somente mais um episódio conturbado da recente história peruana. Além de Dina Boluarte e do próprio Pedro Castillo, Pedro Pablo Kuczynski, Martín Vizcarra, Manuel Merino e Francisco Sagasti também foram removidos do cargo dado uma relação conflituosa com o Congresso.

Como mostra apuração da BBC News, é a própria Constituição Política do Peru, aprovada nos anos de Alberto Fujimori no poder, que facilita essa instabilidade institucional.

Segundo a Carta Magna do país, a Presidência da República fica vaga por “incapacidade temporária ou permanente do presidente, declarada pelo Congresso”. Para declarar tal vacância, basta ao congressistas reunirem 87 votos,

No caso de Castillo, o quórum foi alcançado após um ano e meio de grande desgaste político. O ex-mandatário era acusado de comandar uma rede de corrupção, com envolvimento direto de secretários do governos e familiares. Pesava também contra ele as relações política que possuía com movimentos radicais com atuação na zona rural do país.

Pedro Castillo
Empossado a menos de um ano e meio, Castillo foi destituído e preso por rebelião (Imagem: Presidência do Peru/Divulgação via REUTERS)

BC independente e proteção de contratos salvam economia da ingovernabilidade

A sucessão de instabilidades políticas tem prejudicado os negócios no Peru, com uma queda acentuada do investimento privado e, consequentemente, da competividade e da produtividade.

Especialistas consultados no assunto pelo Valor Econômico dizem, no entanto, que o estrago na economia só não é maior porque o país dispõe de um Banco Central independente, conferindo estabilidade monetária, e mecanismos jurídicos que previnem contratos comerciais de serem alterados por leis posteriores.

A resiliência econômica foi testada com êxito nos acontecimentos dos últimos dias. Momentos após a tentativa da ruptura institucional, a moeda peruana, o sol, voltou a se valorizar em relação ao dólar e os mercados de capitais também souberam suportar o solavanco.

Em 2021, o país andino cresceu surpreendentes 13.3% a despeito da crise política, recuperando-se da queda de 11% experimentada em 2020, por conta da covid-19.

Para 2022, a projeção é que o PIB avance 2,9%, com a nova onda de protestos podendo representar um corte de até 0,2 ponto-percentual do crescimento.

Isso, porque os bloqueios nas rodovias impedem o escoamento da produção mineral do Peru — que é a principal atividade econômica do país — para grandes compradores como a China, a União Europeia e os EUA. A imensa reserva de cobre que possui torna o Peru uma peça importante na transição energética.

A atividade turística, como visto pelo isolamento de turistas em Machu Picchu, também pode ser preocupante para a economia. O país é um dos destinos mais procurados na América Latina em razão de seu turismo histórico, cultural e gastronômico.

Para 2023, a coalização da nova presidente, que pertence ao Peru Livre, pode adotar uma posição mais favorável às liberdades econômicas do que o antigo governo.

Apesar de uma inflação de 6%, o Peru tem uma situação fiscal controlada e não deverá passar por solavancos econômicos consideráveis no ano, esperam analistas.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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