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Coluna da Tatiana Sendin

Nova regra trabalhista mira estresse e burnout: veja o que muda nas empresas

10 jun 2025, 7:00 - atualizado em 09 jun 2025, 15:02
trabalho carreiras burnout
Nova regra trabalhista exige que empresas tratem riscos psicossociais como pressão, sobrecarga e insegurança no emprego. (Imagem: Elisa Ventur/Unsplash)

Ansiedade, estresse, cansaço, irritação. Esses são alguns dos sintomas que os trabalhadores brasileiros têm associado diretamente ao trabalho.

No mundo moderno, as horas dedicadas ao serviço extrapolaram — e muito — o tempo que deveria ser reservado para atividades físicas, lazer, sono e convivência com a família. Uma nova pesquisa da Think Work, que ouviu mais de 700 pessoas de diferentes gerações e profissões, revela que a carga de trabalho está empurrando muita gente para o limite.

Quase seis em cada dez participantes consideram o volume de tarefas regular ou ruim. E 17% afirmam que a situação piorou nos últimos três meses. Para dar conta de tudo, a maioria estica o expediente: só 22% dizem nunca fazer hora extra, enquanto 16% trabalham além do horário todos os dias.

Mesmo sem querer, um terço dos profissionais segue recebendo demandas após o expediente. A tecnologia e a cultura da urgência apagaram de vez a linha entre tempo de trabalho e tempo de vida.

Esse cenário ajuda a explicar a insatisfação crônica com o mundo corporativo, as altas taxas de demissão voluntária e o crescimento das alternativas de renda oferecidas pela gig economy. E confirma o que ouvidos atentos já captaram por aí: as pessoas estão doentes.

Cerca de 65% dos respondentes da pesquisa Think Work se sentem, em algum grau, próximos de um burnout. Quatro em cada dez já receberam esse diagnóstico em algum momento da carreira. Desde janeiro de 2022, o burnout é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, causado exclusivamente pelo trabalho.

O emprego gera um nível de estresse elevado para 48% dos profissionais e chega a afetar a saúde de 12%.

Ambientes barulhentos, tarefas repetitivas, metas inalcançáveis, pressão constante, sensação de isolamento e medo de demissão fazem parte do cotidiano de muitos — se não de todos — os trabalhadores.

E isso tem um preço alto. Nos Estados Unidos, estima-se que até 80% dos acidentes de trabalho estão relacionados com o estresse, e o seu custo total pode chegar a US$ 300 milhões por ano. A conta aparece na forma de absenteísmo, presenteísmo, queda de produtividade, erros e processos trabalhistas.

Mas, convenhamos, nem precisamos olhar planilhas: basta conversarmos com as pessoas para perceber o desgaste nas equipes.

A saúde mental de uma pessoa não depende só do trabalho. Questões familiares, financeiras e sociais também pesam. Mas ignorar o papel das empresas nesse desequilíbrio é desonesto. Quando 33% dos profissionais seguem recebendo demandas fora do horário e 25% dizem que não podem ser autênticos no ambiente de trabalho, o problema é estrutural.

Trabalhamos para viver. Mas, como provocou Jeffrey Pfeffer, professor de Stanford, no livro Dying for a Paycheck, estamos morrendo por um salário.

A boa notícia é que cuidar da saúde mental agora é obrigação legal. Desde maio de 2025, a nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que trata da saúde e segurança no trabalho, passou a exigir que todas as empresas com funcionários em regime CLT avaliem e tratem os riscos psicossociais em seus ambientes.

Isso significa que o RH precisa medir sobrecarga, horas extras, pressão emocional, falta de autonomia e insegurança no emprego.

A atualização da NR-1 pode parecer um tema técnico de recursos humanos, mas toca em uma das maiores dores do trabalho contemporâneo: o adoecimento mental.

Na prática, ela coloca a saúde emocional dentro da lógica de risco ocupacional e no centro da responsabilidade das organizações.

No Brasil, o número de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais cresceu 400% nos últimos cinco anos, de acordo com dados da Previdência Social. Só em 2024 foram registrados 472.328 afastamentos do trabalho por doenças emocionais, o maior número da série histórica iniciada em 2014.

A partir de agora, as empresas terão de mapear riscos, ouvir os trabalhadores, elaborar planos de ação e monitorar resultados continuamente. Não basta mais oferecer meditação no aplicativo, sala de descompressão ou massagem uma vez por semana.

Deve ser também o fim do discurso de que “saúde mental é coisa do RH”. A questão agora é um tema de gestão de risco, com impactos diretos na reputação e no passivo judicial das organizações.

No fim das contas, a nova lei tenta garantir que o trabalho não adoeça. Que seja um lugar onde as pessoas possam existir — e não apenas produzir. Uma vitória para os trabalhadores.

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Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
tatiana.sendin@moneytimes.com.br
Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
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