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O “galinheiro blockchain”: a revolução tecnológica na zona rural da China

28 nov 2020, 16:59 - atualizado em 28 nov 2020, 17:03
Blockchain pode ajudar a impulsionar cadeias de abastecimento alimentar, mas também pode gerar desigualdade em regiões mais remotas (Imagem: Crypto Times)

Em um amplo artigo sobre a revolução tecnológica em zonas rurais da China, Decrypt narra a viagem de Xiaowei Wang, que trabalha com arte, programação e escrita, pela vila montanhosa de Guizhou.

Em entrevista sobre seu livro, intitulado “Blockchain Chicken Farm and other stories of tech in China’s countryside” (“O galinheiro blockchain e outras histórias sobre tecnologia no interior da China”, em tradução livre), afirma que não é apenas mais um livro sobre blockchain.

Em vez disso, é uma disquisição sobre como a tecnologia, em geral, está transformando a China rural a um piscar de olhos mas, nem sempre, para o bem.

A China é conhecida por sua ampla densidade demográfica, cercada por grandes startups, centros de dados e fábricas, fundados pelo governo ou por grandes corporações. Porém, essa grande revolução tecnológica não acontece apenas na parte urbana.

O livro contrasta o grande choque das recentes transformações sobre o modo de vida ancestral e a emergente cultura hacker, conforme as pessoas modificam a tecnologia para que esta atenda suas próprias necessidades.

A China possui uma das taxas mais altas de desigualdade econômica, resultado da diferença salarial entre rural/urbano.

O blockchain é um grande aliado para impulsionar a confiança em cadeias de abastecimento alimentar.

Grandes empresas — como Alibaba, JD.com e NetEase — entraram para o setor alimentar e, apesar do grande desenvolvimento tecnológico auxiliado por inteligência artificial, informática, blockchain e sensores, a produção agrícola tem um alto custo tecnológico.

Em Guizhou, uma fazenda fornece aves à rede GoGoChicken em uma parceria entre o governo local e a empresa Lianmo Technology, que desenvolve tecnologia de rastreamento sobre o paradeiro das aves em um blockchain.

Fazenda de galinhas em Guizhou (Imagem: Xiaowei Wang)

São vendidas a ¥ 300 (ou US$ 40) na plataforma de comércio on-line JD.com, em que os lucros são distribuídos entre o fazendeiro e 300 outras famílias da vila.

As galinhas usam um tipo de bracelete com código QR que rastreia seus movimentos e sua localização. Esse é um grande avanço na infraestrutura de tecnologias de última geração. Anlink é um blockchain próprio, desenvolvido para registrar os avanços mais recentes na tecnologia de cadeia de abastecimento.

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Apesar de toda essa tecnologia, os moradores da vila não fazem ideia do que é blockchain. Segundo Wang:

Foi uma visita bem estranha… Quando comecei a perguntar às pessoas “o que você acha sobre blockchain”, me perguntaram: “por quê? Do que você está falando?”. Acharam que eu estava tirando sarro delas.

O fazendeiro Jiang, dono do galinheiro blockchain (Imagem: Xiaowei Wang)

O fazendeiro disse que vendeu seis mil aves graças ao projeto, criado por seu filho.

Apesar de parecer ser a solução perfeita aos problemas — falta de um mercado confiável, baixas margens de lucro e compradores que não confiam na criação livre de galinhas e no preço pedido —, o futuro é incerto.

Isso porque Lianmo não deu realizou mais compras ou deu assistência à infraestrutura complexa do galinheiro blockchain. Assim, as despesas gerais do fazendeiro em lidar com a tecnologia só aumentaram.

Wang descobriu que Lianmo e outras empresas envolvidas no projeto abandonaram Guizho por conta de seu ar remoto, mas que a ideia continua em outros lugares:

Na verdade, existem muitas dessas pequenas empresas de tecnologia na China, que estão realizando todo o tipo de projetos pequenos, fragmentado e fascinante. É surpreendente o quão fácil é criar uma pequena startup na China.

As “big techs” são responsáveis por grande parte da inovação, em iniciativas como “as vilas Taobao”, indústria campestre criada pela Alibaba para atender cerca de 600 milhões de clientes e pequenos comerciantes.

Bandeira da China
O receio é que, se não for bem-aplicada, a tecnologia poderá gerar ainda mais desigualdade nas zonas rurais chinesas (Imagem: Pixabay)

Desde 2012, cerca de três mil vilas foram transformadas por empresas que atendem a Taobao e, agora, produzem desde vestidos de princesa a equipamentos eletrônicos. De acordo com Wang, todos sabem utilizar o aplicativo WeChat para realizar transações.

Para alimentar 22% da população global em apenas 10% de área para plantio é uma tarefa difícil, pondo muita pressão sobre os fazendeiros, apesar das incursões de grandes empresas de tecnologia.

O livro descreve como as grandes corporações visam otimizar a produção agrícola, combinando-a com “internet thinking” — forma de reunir ideias inovadoras e aplicá-las com tecnologia — para a criação de porcos, uma das maiores indústrias do país.

Dados são enviados ao “ET Agricultural Brain” da Alibaba e a inteligência artificial fornece comida de alta qualidade, exercícios e até música para evitar que os animais se estressem.

Porém, essa inovação pode causar a homogeneização de porcos, fazendo com que algumas espécies sejam extintas, além da possibilidade de o blockchain tornar a comida em uma commodity em vez de um direito humano básico.

Segundo Wang, a prosperidade da tecnologia na China não virá de uma maior confiança das pessoas no blockchain do que no governo, pois isso depende mais da expansão e diversificação da comunidade.

Além disso, muitos empreendedores estão voltando para suas cidades natais, podendo impulsionar a revitalização nessas regiões remotas. De acordo com Wang:

[A] quantidade de criatividade ou tipo de uso não intencional [da tecnologia] é algo bem interessante de se acompanhar e me dá muita esperança.

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