Opinião

O mundo no combate ao coronavírus: lições para o Brasil

29 mar 2020, 20:04 - atualizado em 27 mar 2020, 19:21
Coronavírus Máscara Saúde
Os EUA produzem apenas 1% das máscaras cirúrgicas de que necessitam. Querem banir as exportações de produtos médicos e obrigar as empresas a produzi-los internamente (Imagem: Unsplash/@taiscaptures)

Produzir importa! Brasil irá facilitar a importação de produtos médicos para tratar o coronavírus.

O problema vai ser encontrar fornecedores. No mundo, dezenas de países já baniram as exportações destes produtos devido à escassez mundial.

Nos EUA, Donald Trump segue sendo pressionado para que o governo federal lidere a reconversão por meio do Defense Production Act @nytimes mostra que, sem a coordenação e os estímulos federais, empresas não estão alcançando escala nem qualidade.

A lei foi reautoriza mais de 50 vezes pelo Congresso, tendo permanecido em vigor quase todo o tempo Trump já invocou a lei antes. A última para expandir a produção de imãs de terras raras tendo em vista a ameaça chinesa de restringir exportações.

A Lei é inspirada nos War Power Acts de 1941/42 Previa, além do racionamento de bens de consumo, a resolução forçada de disputas trabalhistas e até o estabelecimento de teto para preços e salários! Estes últimos ainda podem ser utilizados, desde que autorizados pelo Congresso.

Trump anunciou que invocará o Defense Production Act para combater o COVID-19 A lei concede a ele ampla autoridade para direcionar empresas privadas a atender às necessidades de defesa nacional.

Em essência, uma economia planificada. Já foi invocada mais de 50 vezes desde 1950. A intenção é garantir a oferta dos produtos essenciais à saúde dos seus cidadãos. E a preços estáveis.

Os EUA produzem apenas 1% das máscaras cirúrgicas de que necessitam. Querem banir as exportações de produtos médicos e obrigar as empresas a produzi-los internamente.

Produzir respiradores é difícil Exige centenas de partes, maior parte delas produzida no exterior Indústrias intensivas em impressoras 3D como automobilística e aeroespacial têm mais chances.

Respirador Coronavírus
Décadas de sucateamento da indústria não ajudam. Sobre ventiladores mecânicos: a Itália solicitou que o único produtor nacional quadruplicasse a produção (Imagem: REUTERS/Stephane Mahe/File Photo)

Mas precisam da expertise de produtores de respiradores. Assim, a pré-existencia de uma base industrial forte é crucial. Uma vez solucionados os gargalos, o próximo passo seria produzir + impressoras 3D. São feitas de milhares de partes complexas e levam muito tempo para serem produzidas.

Décadas de sucateamento da indústria não ajudam. Sobre ventiladores mecânicos: a Itália solicitou que o único produtor nacional quadruplicasse a produção. Mandou 25 técnicos treinados pelas Forças Armadas para ajudar Alemanha requereu mais 10 mil de um produtor nacional China doará 40 para a Itália.

Após perceber que os países limitarão suas exportações, governo britânico contatou 60 empresas para fabricarem 20 mil ventiladores. Mandou documento de duas páginas com o processo produtivo, vídeo no youtube e paper acadêmico.

Empresas não se sentiram capazes. Desindustrialização custa caro. Impressiona a obsessão chinesa com a autonomia tecnológica.

Em Wuhan, enquanto a cidade estava parada, uma produtora de semicondutores tinha vagões especiais em trens para transportar, com aprovação do governo, especialistas e trabalhadores para sua planta.

No Brasil a iniciativa da @thabataganga  é espetacular!  É uma engenharia reversa “moderna” para fabricar peças para respiradores utilizando impressoras 3D. Mas os limites apontados acima se aplicam. Estado precisa entrar em campo

A China produzia 50% das máscaras cirúrgicas mundiais. Com o corona, fábricas aumentaram a produção em 12 vezes! Virou Economia de Guerra.

Taiwan Taipei City Turismo Ásia
Taiwan também implementou uma política industrial de emergência para máscaras cirúrgicas (Imagem: Unsplash/@thevernon)

Estima-se que 10 mil empresas de bebidas, carros, fraldas e até naves espaciais passaram a produzir produtos médicos. Tudo com apoio do Governo, que flexibilizou licenças, concedeu subsídios e garantiu que comprará os estoques remanescentes

A China não está sozinha. Taiwan, por exemplo, também implementou uma política industrial de emergência para máscaras cirúrgicas.

Uma hipótese para o sucesso de países asiáticos no combate ao COVID-19 sem necessidade de quarentena decorre do % da população usando máscaras cirúrgicas. Estado chines esta estimulando a reconversão industrial logo e conscientizando a população sobre a necessidade de utilizá-las.

Agora, com a epidemia sob controle na China, países que não produzem o suficiente destes produtos dependerão da boa vontade dela, que já indica que utilizará sua relevância na produção mundial como instrumento de política externa Saúde é estratégico.

Analista entrevistado pelo Global Times, periódico ligado ao Partido Comunista Chinês, afirma que a China poderia banir exportações de produtos médicos aos EUA como retaliação às sanções americanas à Huawei.

Política industrial de emergência para conter o coronavírus em Taiwan:

i) Regulação,

ii) Articulação entre instituições públicas e privadas,

iii) Proibição das exportações. Compras governamentais Capacidade produtiva de máscaras deve aumentar 150% em um mês!

Escrito com Felipe Augusto

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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