Perspectivas 2022

O que pode mexer com a economia global em 2022?

01 jan 2022, 7:09 - atualizado em 23 dez 2021, 15:10
Desde a variante Ômicron, se tornou ainda mais difícil calcular como e quando as economias globais estarão prontas para uma retomada definitiva (Imagem: Berkah / GettyImages)

A economia do próximo ano já tem algumas peças colocadas no tabuleiro: um futuro incerto para a pandemia do coronavírus e a continuidade da inflação global, avaliam especialistas ouvidos pelo Money Times.

Economista, sociólogo e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política, William Nozaki cita a ômicron como exemplo que comprova o cenário confuso de 2022 — a variante levou parte do empresariado global a suspender decisões e projetos de investimento, lembra. 

Já a inflação global é em parte resultado da desorganização da cadeia de suprimentos provocada pelos momentos de paralisação da economia, aumentando os custos em toda a cadeia de produção. 

Para controlar a alta dos preços, os bancos centrais de grande parte do mundo já indicam uma política de redução de estímulos e uma eventual elevação da taxa básica de juros — o que tende a encarecer o crédito e desestimular o consumo. 

Política monetária e fiscal nos EUA

A última reunião do comitê de política monetária (Fomc) do banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), já indicou a redução dos estímulos fiscais e o aumento da taxa de juros ao longo dos meses de 2022. 

Na prática, a elevação dos juros significa que os Estados Unidos irão pagar mais aos credores que comprarem seus títulos de dívida. 

O coordenador do curso de economia da Faap, Paulo Dutra, explica que a maioria dos economistas considera a taxa de juros dos EUA o principal preço do mundo. “Quando ela [a taxa de juros] fica mais atrativa, ela tira moeda do mundo todo, o que pode gerar uma fuga de capital de outros países para os EUA”, diz.

Com investidores migrando seus investimentos para os títulos norte-americanos, há também uma desvalorização das demais moedas.

“Uma migração de investimentos para os EUA mexe com o fluxo de capitais global, e o que já temos sentido após a decisão do Fomc é exatamente a desvalorização das moedas”, resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Para Agostini, o real é uma das moedas que sofre mais nesse contexto, com o dólar a R$ 5,70. 

Enquanto de um lado o Fed reduz sua atuação monetária, o presidente Joe Biden expande sua intervenção fiscal com o seu pacote de infraestrutura trilionário.

Para Agostini, a situação entre Biden e Fed não deve preocupar neste momento. “Lá a situação é muito mais controlada, eles sabem o custo fiscal que tudo isso tem”, defende. 

O professor Dutra concorda com o economista-chefe. “Não tem como fazer essa contraposição no curto prazo, uma política fiscal como essa de infraestrutura não realiza todos os gastos agora [em 2022], mas faz o desembolso ao longo de anos”, enquanto a política monetária do Fed deve completar seu impacto em torno de alguns meses. 

Crescimento da China

Do outro lado do mundo, outro player importante para o cenário econômico global é a China, que pela primeira vez não indicou uma previsão clara de crescimento econômico para o próximo ano.

Segundo Nozaki, da Fundação Escola de Sociologia e Política, essa escolha do país evidencia o alto grau de incerteza na economia internacional.

O especialista ressalta o anúncio de pacotes importantes de recuperação econômica e reestruturação produtiva, com novos investimentos em alguns setores tecnológicos de ponta.

A finalização dessas medidas permite que o crescimento chinês possa se orientar mais para o mercado interno do que para a economia internacional a partir de agora, diz. 

O coordenador pontua que os países que cresceram nos últimos anos alavancados pela produção e exportação de commodities, como é o caso do Brasil, “não vão ter mais o mesmo espaço de crescimento porque uma parte da estrutura econômica chinesa estará voltada para o mercado interno”.

Agostini, da Austin Ratings, também demonstra preocupação com a desaceleração da China nos próximos anos, já que o país é o principal parceiro comercial do Brasil. Mas o economista afirma que esse efeito será mais concreto no médio e longo prazo. 

“Preocupa porque a China é, como a gente diz, a locomotiva no crescimento global, e com ela desacelerando o ritmo do crescimento global será menor”, conclui.

Disputa EUA e China

As disputas comerciais entre EUA e China é outro tema que seguirá no debate ao longo do próximo ano. O professor Dutra explica que o próximo capítulo dessa saga envolve a competição por tecnologia da informação. 

Segundo o especialista, os EUA já perderam a disputa no que se refere à tecnologia 5G, e portanto devem colocar muito investimento em tecnologia e educação para chegar na frente com o próximo avanço, a tecnologia 6G ou outro dispositivo. 

“O que eu vejo é uma possibilidade dos EUA incentivarem a entrada de mão de obra muito mais capacitada para desenvolver e recuperar o atraso nessa competição que é de tecnologia de informação”, explica.

Por outro lado, essa briga tecnológica também pode prejudicar os demais países do mundo. Agostini explica que os parceiros comerciais de ambas as potências se preocupam que os acordos comerciais estabelecidos provoquem uma postura de retaliação dessas lideranças, e prejudique as transações previstas. 

Segundo Agostini, isso é preocupante pois “gera uma uma redução da oferta de componentes eletrônicos extremamente importante para diferentes cadeias produtivas globais”. 

Demanda energética

Outro assunto em alta para compreender a dinâmica econômica global de 2022 é a dinâmica da comercialização do petróleo e outras fontes energéticas. 

Nozaki alerta que o pós-pandemia será marcado por alta volatilidade no preço do petróleo, devido às incertezas sobre os riscos envolvidos no processo de normalização econômica. 

Nesse sentido, os países produtores e exportadores devem exercer seu poder de mercado sobre a oferta do produto para ganhar o máximo com a alta dos preços, diz, enquanto os países demandantes organizam estratégias de diversificação da matriz energética, com investimento em energias renováveis. 

“Todo esse cenário provavelmente vai fazer com que o tema da energia, da segurança energética dos países e seus efeitos colaterais sobre o meio ambiente entrem em pauta  em 2022”, afirma o professor.

Repórter
Jornalista formada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e repórter no portal Money Times, com passagem pela redação da Forbes Brasil. Atualmente escreve e acompanha notícias sobre economia, empresas e finanças.
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