Opinião

Opinião: Poupança – ainda um patinho feio

14 jun 2017, 13:13 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

dinheiro

Por Beatriz Cuitat, editora do Você Investidor da Empiricus

Na segunda série, de tempos em tempos, eu enfrentava uma pequena competição de matemática na minha classe. A ideia era ver quem conseguia resolver contas aritméticas em menos tempo. O prêmio em si não era nada de mais, mas a satisfação   em conquistar o primeiro lugar e o respeito dos amigos era o suficiente para me fazer correr como nunca para quebrar a cabeça e levantar a mão antes de todos.

Estar entre os melhores alunos não bastava para ninguém. Todos queriam estar na posição mais alta do pódio.

Mais velha, na preparação para ingressar na faculdade, voltei a experimentar sensação semelhante. Ao prestar vestibular em uma universidade pública, me dei conta de que não bastava ter ido bem na prova. Tinha que superar a tal média! Alguns tentavam me conformar dizendo que meu curso estava entre os mais concorridos daquele ano, mas, sinceramente, em nada mudava o fato de que eu tinha ficado dois pontos aquém da média, sem garantir, portanto, minha vaga.

Mais recentemente, quando trabalhava em um jornal de economia, sempre me lembro de que não era suficiente ter uma boa matéria, recheada de informações novas, verdadeiros furos e entrevistados gabaritados para conseguir um lugar de destaque na capa do jornal impresso. A reportagem precisava ser mais relevante que a média do jornal, numa sistemática que levava os repórteres a praticamente concorrerem entre si.

Ao longo da vida, sempre soube que precisava fazer mais do que o suficiente para conseguir meus objetivos em momentos decisivos. Nunca me bastou estar na média para ser promovida, para ser aprovada em algum concurso, para efetivamente me destacar. Sempre soube que precisava estar um passo à frente.

Se pago taxa de gestão ou de administração para investir em algum ativo, espero um retorno acima da média do mercado e, por que não, de produtos concorrentes, certo?

Por isso, fiquei surpresa nessa semana quando li uma matéria publicada em um grande jornal indicando que, com a queda dos juros, os fundos de renda fixa perderiam para a poupança. A reportagem chegou ao ponto de sugerir que a caderneta estava deixando de ser um patinho feio.

A base para tal afirmação? Um estudo que apontava taxa média de administração dos fundos de 2,3 por cento ao ano, com um contexto de expectativa de taxa Selic de 8,5 por cento ao fim de 2017.

Veja, sabemos que grande parte dos produtos do mercado é sofrível. Não há dúvidas disso. Mas é justamente para tirar você de uma posição financeira mediana, mostrando as boas opções disponíveis, que somos pagos aqui na Empiricus.

Os três fundos do tipo DI recomendados pela Luciana contam com taxas de administração de 0,20 por cento ano. Sem crédito privado na carteira, o retorno anda bem próximo ao CDI e, consequentemente, da taxa Selic. Mesmo considerando o Imposto de Renda, que não incide sobre a poupança, esses fundos têm gerado maior retorno para o investidor. E tudo indica que essa vantagem vai continuar, como a própria Luciana vai falar amanhã.

Temos enfrentado uma verdadeira batalha para convencer você a sair de uma vez por todas da poupança.

E nada mudou nesse quadro. Mesmo com a redução dos juros no Brasil, que é inegavelmente desfavorável para o retorno de suas aplicações de renda fixa, não indicamos a poupança nem para o curto prazo.

Não enxergamos razões para pensar diferente tão cedo.

Além de os fundos selecionados por nossa equipe para esse tipo de reserva para disponibilidade imediata seguirem mais atrativos que a poupança, a reportagem deu pouca atenção a um produto tão simples quanto os fundos DI e que também tem se provado melhor opção mesmo em cenários de juros baixos: o Tesouro Selic.

Novamente, não fique na média. Você deve procurar corretoras que não cobrem taxas de administração para garantir a maior vantagem do Tesouro Direto. Falamos bastante delas no Você Investidor.

Para ser bastante didática, apresento a você um retrato de como foram os últimos 20 anos. Veja com seus próprios olhos o mau desempenho da poupança.

Bia

*Descontada a taxa de custódia de 0,3 por cento ao ano e com Imposto de Renda de 22,5 por cento

**De 1997 até abril de 2012, foi utilizada a regra antiga de remuneração da poupança (0,5 por cento ao mês mais TR). A partir de então, o cálculo considerou a regra mais “nova” (com retorno equivalente a 70 por cento da meta mensalizada da Selic, quando a taxa básica de juros for inferior a 8,5 por cento ao ano, mais TR)

***Até 08/06/2017

Como você pode notar, em todos os anos, sem exceção, a variação da taxa Selic, referencial de rendimento do Tesouro Selic, superou o retorno da poupança. E estou falando de uma Selic líquida, ou seja, descontada a taxa de custódia de 0,3 por cento ao ano cobrada pela Bolsa e considerando a maior alíquota de Imposto de Renda, de 22,5 por cento para resgates em até seis meses.

Na prática, essa comparação mostra que, mesmo no pior cenário, a Selic ainda ganhou da poupança de 1997 até 2016.

E um adendo fundamental: o histórico inclui 2012/2013, período em que o Brasil teve a menor taxa básica de juros de sua historia, de 7,25 por cento ao ano. Esse nível de juros não faz parte do cenário atual, já que o mercado projeta Selic a 8,5 por cento ao fim de 2017 e de 2018.

Neste ano, o investidor está embolsando um retorno L-Í-Q-U-I-D-O de 3,87 por cento com a Selic, ante 3,13 por cento da poupança. E com uma inflação de 1,48 por cento.

Portanto, por que estão querendo que você dê um passo para trás e passe a ser um investidor mediano?

Entendo você querer aumentar a parcela de risco de sua carteira de investimentos por conta da menor atratividade da renda fixa, mas não me venha falar de poupança. Essa ficou para o passado. Assim como o jornal de segunda-feira já foi para o lixo…