Agronegócio

Para a Cooabriel, não basta café robusta puro, agora tem que ser gourmet também

23 out 2019, 10:56 - atualizado em 23 out 2019, 11:43
produção de café robusta cresce com a maior cooperativa também incentivando a produção para marca própria (Imagem: Victor Moriyama /Bloomberg)

Aquele café de baixa acidez, mas intenso, e pouco mais amargo, poucos conhecem, na verdade. Quando muito adicionado a outra variedade ou bebido instantâneo – e por isso entendido como de baixa qualidade -, sem exprimir claramente as características. Agora, o conilon puro, torrado e moído, já tem marca própria e está prestes a ampliar para o segmento gourmet, com a Cooabriel chancelando a iniciativa.

A Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha, do Espírito Santo, desde março está no mercado com o Guardião 100% conilon e até o final do ano sai com o Guardião Gourmet, selecionado de grãos especiais dessa variedade também conhecida por robusta. “Vamos reposicionar os dois produtos para expandir a presença para outros estados”, explica Luiz Carlos Bastianello, presidente, avaliando também que não será tarefa das mais fáceis. A cooperativa també tem o Guardião tradicional, ‘blendado’ com o arábica.

O robusta carrega a fama de café de baixa qualidade, primo pobre do arábica, condicionado também às condições de mercado. Sempre usado no blend ou no ainda pouco apreciado café solúvel, os produtores tinham pouco incentivo para melhorarem os processos produtivos. Mas a Cooabriel, maior cooperativa mundial dessa variedade, que tem a concorrência do Vietnã no mundo, está tentando mudar a escrita, em um processo que já começou há muitos anos com o concursos do melhor robusta, e a partir deste ano potencializando com o apoio de marca própria no varejo.

“Não apenas para que tenhamos uma ótima matéria-prima para nossas marcas, mas também para fornecermos um café de qualidade (para torrefadoras e indústria de instantâneo)”, diz. E o principal ponto é na pós-colheita, já que no trato cultural das lavouras as exigência são semelhantes ao arábica – e até mais fácil, já que o robusta é menos sensível.

Além da armazenagem, a secagem é fundamental. E, ao contrário do fogo direto, o recomendado é o fogo indireto. Aí ainda está o gargalo, conta Edimilson Calegari, gerente corporativo da Cooabriel. Equipamento caro, de R$ 25 a 30 mil, que com as instalações elevam os custos a R$ 50 mil aproximadamente, longe ainda da realidade da maioria dos produtores, basicamente pequenos e familiares nessa região Norte e Noroeste do Espírito Santo, além de um pequena franja do Sul baiano.

“Precisamos de financiamentos para melhorar essa estrutura dos cooperados e dar conta de toda a produção que chega para a cooperativa”, argumenta, lembrando que na última safra foram recepcionadas 1,650 milhão de sacas, acréscimo de 30%. O crescimento, acima dos 20% do estado – maior produtor nacional do robusta – deu-se já com o estímulo que os produtores vêm tendo com a nova estratégia da cooperativa, o que fez aumentar o número de cooperados, para 1.053. A área produtiva estimada é de 30 mil hectares.

O café robusta normal tipo 7 está na faixa de R$ 265,00 a saca. O cereja descascado, de melhor qualidade, já sobe a R$ 320,00, elevando o prêmio ao produtor. E isso, para Calegari e Bastianello, também ajuda a conscientizar mais os produtores, apesar das dificuldades citadas para melhorar a pós-colheita.

E aqui, de certa maneira, a indústria de café solúvel, a principal compradora do conilon, deverá começar a fazer a diferença. O gerente da Cooabriel acentua que as empresas estão exigindo melhor qualidade – até há pouco compravam a matéria-prima até com 700 defeitos, agora já não aceitam mais de 250 -, além de selos de sustentabilidade. E certamente vão ter que pagar mais por isso.

Além disso, o segmento de solúvel cresce, e a Cia. Cacique de Café Solúvel inaugura sua nova fábrica em Linhares, também no Espírito Santo, sexta-feira (25).

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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