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Pedro Serra: A Vale no radar do investidor

22 abr 2021, 18:44 - atualizado em 22 abr 2021, 18:44
Vale
A combinação entre demanda extraordinariamente elevada e insuficiência na oferta levou o preço do minério de ferro 62% (Imagem: YouTube/Vale)

O Brasil e suas empresas são referências mundiais no mercado de commodities, se destacando pela sua capacidade produtiva e competitividade, sendo o minério de ferro um dos produtos mais importantes de nossa balança comercial.

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Como a Vale (VALE3) é uma das estrelas do portfólio de mineração no Brasil, e muito procurada pelos investidores na Bolsa de Valores, decidi traçar um panorama geral de como se encontra a companhia atualmente e suas relações com a China, país que mais consome esse tipo de produto atualmente.

Depois de um breve período de incertezas no início da pandemia do novo coronavírus, o mercado de minério se deparou com uma crescente demanda proveniente da China.

Diferentemente de outras nações como Estados Unidos e países da União Europeia, que incentivaram o consumo em seus pacotes de estímulos iniciais, a China agiu de maneira semelhante ao que foi observado depois da crise de 2008, suscitando geração de emprego por intermédio de estímulos à infraestrutura, implicando em recordes na produção de aço no país.

A combinação entre demanda extraordinariamente elevada e insuficiência na oferta levou o preço do minério de ferro 62%, principal matéria prima do aço, a um patamar comparável ao que foi observado no início da década passada, sendo que nesta semana, a tonelada do minério chegou a US$ 190 no porto de Qingdao.

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Ao longo de 2020, a China dificultou a importação de carvão e cevada dos australianos, e o receio de que o país asiático pudesse prejudicar as importações de minério da Austrália (Imagem: Unsplash/bmatangelo)

Impasses diplomáticos que beneficiaram o Brasil

Além disso, os impasses diplomáticos com a Austrália também contribuíram para a volatilidade no preço do minério de ferro.

Ao longo de 2020, a China dificultou a importação de carvão e cevada dos australianos, e o receio de que o país asiático pudesse prejudicar as importações de minério da Austrália, seu principal fornecedor, trouxe instabilidade ao preço da commodity.

Levando em conta este cenário, acreditamos que o guidance de produção divulgado pela Vale para 2021 seja factível e, dada a potência do mercado no qual está inserida, a companhia tem a capacidade de gerar bons resultados no decorrer deste ano.

Desde o início de 2021, a Vale tem resolvido de forma bem-sucedida seus problemas judiciais e operacionais, afastando grandes incertezas que já a rondavam há alguns anos.

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Em fevereiro, a companhia firmou um acordo no valor de R$37,7 bilhões para a reparação integral de Brumadinho, cifra que, pessoalmente, acredito ter sido positiva, levando em consideração que corresponde a dois terços do montante inicialmente demandado pelo Ministério Público.

Adicionalmente, sua dívida líquida disciplinada permitiu dispor de valores não provisionados sem maiores complicações. A Vale Nova Caledônia (VNC), planta de níquel da companhia que veio sofrendo ataques de grupos separatistas da região, e estava com suas operações suspensas desde o início de dezembro, também teve um desfecho satisfatório.

No início de abril, a companhia concluiu sua venda se livrando de desembolsos de US$ 100 milhões por ano para a manutenção da usina.

Resumindo, a Vale começou o ano com o pé direito. Resolveu boa parte dos seus impasses jurídicos, fechou acordos sem causar grandes transtornos em seu resultado (Imagem: REUTERS/Wolfgang Rattay)

Questões climáticas e os impactos na cadeia do aço

Mesmo com o comprometimento da China em neutralizar suas emissões de carbono até 2060, e as pressões das autoridades centrais chinesas sobre Hebei, principal província produtora de aço no país, para desacelerar a produção, a Vale não deve sentir impactos significativos, ao contrário de outras mineradoras.

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Isso se dá porque o teor de alumina de seu minério de ferro é muito baixo comparado ao dos australianos, reduzindo assim o consumo de coque (tipo de combustível utilizado na produção do ferro) e aumentando a produtividade nos altos-fornos, o que é importante especialmente durante os períodos de grande demanda e restrições ambientais.

Além disso, caso haja sucesso nas metas de descarbonização no território chinês, a companhia poderá se beneficiar pela constância nos altos patamares do prêmio por conta da produção de minério de melhor qualidade, que foi em média US$ 8,3 neste primeiro trimestre do ano.

Na hipótese de insucesso das autoridades chinesas frearem a emissão de gases poluentes neste ano, a Vale teria também grande potencial de desfrutar do preço médio mais elevado ao longo do ano na medida em que recupera sua capacidade produtiva.

Resumindo, a Vale começou o ano com o pé direito. Resolveu boa parte dos seus impasses jurídicos, fechou acordos sem causar grandes transtornos em seu resultado, tem recebido uma demanda consistente da maior produtora de aço do mundo e comercializa seu minério com maiores concentrações de ferro com prêmios relativamente altos, favorecendo suas margens.

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Além de tudo isso, enxergamos possíveis melhorias na governança, assim como no gerenciamento de dívida, o que pode possibilitar uma robusta distribuição de proventos.

Operando com um desconto em seus múltiplos frente aos pares australianos, acreditamos que isso seja suavizado na medida em que a companhia mostre ser capaz de agregar as vantagens de sua transformação em true corporation com a sua já conhecida competência operacional.

Isto posto, é possível concluir que a companhia deve estar no radar dos investidores que buscam boas oportunidades no mercado de commodities.

Como assinalado ao longo do texto, a Vale passa sinais concretos de que está organizando a casa, aproveitando as oportunidades trazidas pela alta demanda por parte da China e, principalmente, investindo constantemente em governança.

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Gerente de Research da Ativa Investimentos
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
pedro.serra@moneytimes.com.br
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.