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Pedro Serra: Ludibriando o mercado – o caso GameStop e IRB

04 fev 2021, 15:51 - atualizado em 04 fev 2021, 15:51
Fachada de loja da GameStop em Nova York
Os recentes casos da GameStop e da IRB nos fizeram enxergar como o mercado ainda é vulnerável a manipulações especulativas, e qual o papel de órgãos como a CVM e a B3 para contê-los e punir culpados (Imagem: REUTERS/ Nick Zieminski)

Na última semana, o universo das finanças assistiu ao aumento de 1.700% no preço das ações da rede americana de games GameStop, impulsionado por um grupo de pessoas que combinaram a compra maciça de ações por meio de um fórum na internet.

A façanha chegou ao Brasil e inspirou cerca de 30 mil investidores pessoa física a se organizarem em um grupo de Telegram, para acertarem a compra de ações da resseguradora IRB (IRBR3), levando a alta desproporcional de 17,2% em seu preço de mercado (leia a história completa aqui).

Ambos os episódios expuseram a fragilidade da bolsa de valores, e não somente a da brasileira, e nos fez refletir: Será que é tão simples assim inflar artificialmente os resultados de algumas empresas na bolsa?

Qualquer grupo, seja de grandes ou pequenos investidores, pode se organizar para agir de uma maneira que pode não ser ilegal, mas certamente é imoral, sem sofrer grandes penalidades?

Primeiramente, vamos analisar as providências tomadas tanto pela CVM e pela B3 (B3SA3), aqui no Brasil, quanto pela SEC, a comissão de valores mobiliário americana.

Aqui, com o objetivo de frear o efeito manada, a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) parou a cotação diária da IRB e iniciou um leilão, congelando também todas as ordens de compra de ações da companhia.

Além disso, as regras de mercado estabelecidas pela CVM e pela B3 limitam a quantidade de posições de venda a descoberto.

Adicionalmente, uma norma da B3 especifica que a quantidade de ações alugadas de uma empresa não deve ultrapassar os 20% das ações em circulação no mercado (“free float”), e a 5% por investidor. Nos Estado Unidos, essa limitação não existe, sendo que a posição vendida nos papeis da GameStop era de 125% do “free float”.

No Brasil, apesar de agir rapidamente para conter a bolha da IRB, evitando assim danos futuros aos investidores e ao sistema, a CVM ainda encontra dificuldade em tomar ações mais rígidas para penalizar devidamente casos de tentativa de manipulação de mercado por conta de seu frágil arcabouço regulatório em relação a este tema.

Já a B3 possui mecanismos que buscam mitigar os prejuízos deste tipo de ação.

O mercado no longo prazo tende ao equilíbrio e à eficiência, sendo insustentável manter os preços em patamares elevados por muito tempo (Imagem: Unsplash/nampoh)

Quais os riscos para o investidor?

É importante destacar que esse tipo de operação pode levar ao surgimento de bolhas, algo que sempre traz consequências negativas para o mercado e para os investidores, em especial os pequenos, que podem comprometer seriamente seu capital ao entrarem neste tipo de esquema.

O mercado no longo prazo tende ao equilíbrio e à eficiência, sendo insustentável manter os preços em patamares elevados por muito tempo.

A tendência é que eles caiam abruptamente após um movimento de alta artificial, causando grandes prejuízos aos investidores. O melhor a fazer quando se está nesse tipo de situação é vender os ativos o quanto antes, não se deixando levar pela ganância da valorização futura.

Também é sempre bom reforçar que acompanhar o desempenho operacional das companhias é fundamental para lucrar com ações. Pesquise, se informe, acompanhe as divulgações de resultados, essa é a melhor maneira de diminuir o risco de possíveis perdas de capital.

Gerente de Research da Ativa Investimentos
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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