Política

PM de SP começa a dissolver protestos bolsonaristas em estradas; no país, há mais de 200 pontos de bloqueio

01 nov 2022, 14:27 - atualizado em 01 nov 2022, 14:27
Greve
Puxados inicialmente por caminhoneiros, os grupos bolsonaristas pedem o desrespeito às urnas e em, alguns casos, clamam explicitamente por uma “intervenção” militar (Imagem: REUTERS/Rogerio Florentin)

Inconformados com a derrota eleitoral do último domingo, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) interditavam 230 pontos de estradas em 21 Estados e no Distrito Federal até o fim da manhã desta terça-feira, apesar de decisão do Supremo Tribunal Federal determinando o desbloqueio imediato das vias tanto pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) como pelas polícias militares estaduais.

Os protestos, que já provocam problemas pontuais de abastecimento, acontecem enquanto Bolsonaro segue sem reconhecer os resultados eleitorais que deram a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um terceiro mandato na Presidência no domingo.

Puxados inicialmente por caminhoneiros, os grupos bolsonaristas pedem o desrespeito às urnas e em, alguns casos, clamam explicitamente por uma “intervenção” militar que impeça o petista de assumir em janeiro.

Em São Paulo, após ordem do governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), a Polícia Militar começou a desbloquear vias estaduais. Segundo o balanço da PM, desde domingo, 48 rodovias foram liberadas, 102 foram parcialmente liberadas e 14 seguem interditadas no Estado.

Um dos primeiros protestos dissolvidos foi na rodovia que leva ao aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil, onde o bloqueio na noite de segunda-feira levou ao cancelamento de 25 voos, segundo a concessionária que administra o aeroporto.

“Nós brasileiros decentes e honestos somos contra a volta da quadrilha que saqueou o poder”, disse à Reuters Vando Soares, 49, motorista que participava do bloqueio que impedia a chegada ao terminal paulista. “Ele não pode assumir”, seguiu.

No final da manhã desta terça, uma equipe da Reuters acompanhou também o debloqueio parcial da rodovia Castelo Branco pelos policiais militares paulistas.

O governador paulista criticou a contestação das urnas. “As eleições acabaram, nós vivemos num país democrático, São Paulo respeita o resultado das urnas e nenhuma manifestação vai fazer com que a democracia do Brasil retroceda”, disse o tucano, que apoiou Bolsonaro no segundo turno. “Aos vencedores o mandato, aos perdedores o reconhecimento da derrota”, seguiu.

Também nesta terça, outro governador que apoiou Bolsonaro, o mineiro Romeu Zema (Novo) usou o Twitter para afirmar que ordenou o desbloqueio das vias no Estado. “A eleição já acabou,temos que assegurar o direito de todos de ir e vir, e também que mercadorias cheguem onde precisam pra não haver desabastecimento. Vamos cumprir a lei”, disse.

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, havia 236 pontos de bloqueio ou interdição em estradas de 20 Estados e do Distrito Federal pouco depois das 11h nesta terça.

Os Estados mais afetados eram Santa Catarina, Pará e Mato Grosso. Apenas Amapá, Alagoas, Ceará, Paraíba, Roraima e Sergipe não registravam protestos. A PRF disse que 288 manifestações foram desfeitas.

Entre outros pontos, os bloqueios impediam a chegada de caminhões ao porto de Paranaguá (PR), importante via de exportações agrícolas do país. Os bloqueios também começavam a causar desabastecimento nos supermercados, de acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras).

Moraes e MTST

Na noite de segunda-feira, Moraes determinou que forças policiais tomassem todas as medidas necessárias para desobstruir rodovias bloqueadas por protestos que eram “antidemocráticos”.

Na decisão, ele citou vídeos que mostravam a “passividade” da PRF e também determinou que o diretor-geral da instituição, Silvinei Vasques, adotasse imediatamente todas as medidas necessárias para a desobstrução das vias sob pena em caráter pessoal de multa de 100 mil reais, além de prever, “se for o caso” o afastamento do dirigente de suas funções e a prisão em flagrante pelo crime de desobediência.

Já nesta terça, em outra decisão, Moraes disse que as Polícias Militares dos Estados têm poder para desobstruir as estradas, mesmo as que sejam de responsabilidade federal, e mandou que os governadores de Estado e os comandantes-gerais da PMs sejam notificados.

A determinação do ministro foi referendada por 9 dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal.

O PT tem cobrado que o governo Bolsonaro resolva a crise com os bloqueios dos caminhoneiros. Lula ainda não se pronunciou sobre o caso.

Em nota publicada em sua conta no Twitter, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) orientou seus militantes a desmontarem as barricadas montadas pelos bolsonaristas nos pontos de bloqueios. O deputado federal eleito e ex-candidato à Presidência Guilherme Boulos (PSOL-SP) é um importante apoiador de Lula e dos coordenadores do MTST.

“A coordenação nacional do MTST orienta sua militância nos estados a organizar manifestações para desbloquear as principais vias de acesso, exigindo o respeito às eleições. Esperamos ser tão bem recebidos pelas forças de segurança quanto os bolsonaristas estão sendo”, afirma a nota.

Mais de 36 horas após a definição da derrota de sua tentativa de reeleição nas urnas, Bolsonaro seguia sem se manifestar sobre o resultado eleitoral e tampouco fez qualquer comentário sobre os protestos de seus apoiadores que bloqueiam estradas.

Ao longo de seus quatro anos de mandato, Bolsonaro lançou por diversas vezes suspeitas infundadas contra o sistema eleitoral e fez alegações falsas sobre as urnas eletrônicas.

O segundo turno da eleição geral, em que além de Lula foram eleitos 12 governadores de Estado, foi reconhecido como limpo e justo por autoridades de dentro e de fora do Brasil e não houve qualquer relato de fraude durante a votação.

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