Educação Financeira

Quais ações comprar para se aposentar? Veja os setores com melhores oportunidades da bolsa

08 out 2023, 15:00 - atualizado em 23 jan 2024, 23:48
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É possível se aposentar comprando ações? Para especialistas, sim (Imagem: Pixabay)

‘No longo prazo, todos estaremos mortos’, bradou certa vez o economista John Maynard Keynes. A crítica, feita em 1923, fazia sentido em um momento em que a economia vivia inflação e desemprego altos e a sociedade clamava por soluções rápidas. Mas para a aposentadoria, a frase, levada ao pé da letra, trará perdas na qualidade de vida (e nas noites de sono).

Isso porque quanto mais se demora para começar a juntar, maiores recursos deverão ser poupados. A boa notícia é que para quem está iniciando no mercado de trabalho, o maior tempo até velhice pode abrir caminhos promissores, como investimento em ações.

Aposentadoria pra quê?

Até o momento, o brasileiro não faz a sua lição de casa. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal Meu Bolso Feliz, mostrou que a maioria da população (57%) é despreparada financeiramente para a aposentadoria.

No caso das pessoas menos escolarizadas (até ensino fundamental completo), o número aumenta para 62%. Entre os homens, 54% não se planejam para essa fase da vida e entre as mulheres, 59%. Outro dado preocupante é que entre os mais jovens (de 18 a 24 anos), 59% dizem não se preparar para a velhice.

É certo que o Brasil possui um sistema de proteção social para aposentadoria, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Porém, depender só da seguridade social pode ser um risco. 

Segundo dados do próprio governo, o déficit do INSS, sistema público que atende aos trabalhadores do setor privado, deve mais que dobrar até 2060 e quadruplicar até 2100.

Os dados estão na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024 enviado ao Congresso. Para especialistas, outra reforma previdenciária deverá ser feita daqui a alguns anos. A última foi realizada em 2019, durante o Governo Jair Bolsonaro.

Se aposentar com ações

Na visão de especialistas que conversaram com o Money Times, investir em ações pode ser um bom caminho para poupar para aposentadoria de forma mais rápida do que a poupança ou os títulos de renda fixa, por exemplo. 

De acordo com um estudo da Vanguard, o índice S&P 500, que acompanha o desempenho das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, teve um retorno anual médio de 10,6% desde 1926. Esse retorno é superior ao retorno anual médio de 6,2% do índice Barclays Aggregate Bond, que acompanha o desempenho de títulos de renda fixa de longo prazo. 

No Brasil, o Ibovespa também possui um histórico positivo versus a inflação, com rendimento médio anual de cerca de 10,60%.

Porém, o caminho é tortuoso. O investidor terá que aprender a conviver com os solavancos diários das ações, que se movimentam ao sabor dos acontecimentos, como guerras, mudanças do governo, crises econômicas, pandemias etc. 

“É necessário que o investidor tenha uma visão de longo prazo, e seja educado financeiramente, que ele compreenda principalmente o comportamento das ações e que tenha muito bem definido seus objetivos para sua aposentadoria”, explica Andrew Deodoro, assessor na iHUB Investimentos

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, lembra que o brasileiro é acostumado a ser “rentista” e boa parte da população só investe (isso quando investe) em renda fixa, visto que “nossas taxas de juros historicamente são altas”

“Mas esquece do bom potencial que o mercado de ações tem a oferecer, e que tem a mesma facilidade de se investir, podendo fazer as compras e vendas diretamente, ou via uma assessoria de investimentos, o que for melhor para o perfil do investidor”, completa.

Ricardo Schweitzer, analista independente, observa que o uso de ações como fonte de renda passiva tem como grande vantagem o potencial de crescimento de renda acompanhando os lucros das empresas — que, geralmente, tendem a superar com boa margem a inflação. 

“Além disso, à luz da legislação atual, dividendos são rendimentos isentos de imposto de renda — e, a depender do avanço da reforma tributária, mesmo que sejam tributados o serão em alíquotas inferiores do que outras fontes de renda”, completa.

Quais os cuidados o investidor deve ter?

Para Fernandes, da A7 Capital, o principal cuidado é filtrar dados.

“O mundo evoluiu e as informações hoje chegam muito mais rápido que antigamente, e isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Bom por conta da facilidade de você se informar e aprender sobre o mercado e ruim, por ter muita coisa na internet que não condiz com a realidade do mercado de ações. O investidor cai em armadilhas e perde dinheiro com isso”, explica.

Já para Schweitzer, o importante é avaliar criteriosamente a saúde financeira da empresa e as perspectivas de seu segmento de atuação. “E, mesmo assim, convém ter razoável diversificação em função do eterno potencial de situações adversas”, coloca.

Por outro lado, o investidor não pode escolher uma empresa simplesmente por ela ter um bons dividendos. É preciso identificar a sua verdadeira capacidade de pagamento, evitar empresas voláteis, endividadas, ou se setores não tão promissores, explica Deodoro, assessor na iHUB Investimentos.

Quais setores não devem faltar na carteira do investidor?

Atualmente, a bolsa possui mais de 300 empresas listadas de diversos setores da economia. Para os analistas, ao se pensar a longo prazo, é necessário ter em mente ações seguras e com bons históricos e, principalmente, que paguem dividendos, as parcelas dos lucros distribuídas aos acionistas.

“Alguns segmentos se destacam como sendo boas alternativas para se investir, como o setor de energia e transmissão, que se destaca pela longevidade dos seus contratos e bom histórico de pagamentos de proventos, além do segmento bancário pela sua resiliência a diferentes cenários econômicos”, sugere Miguel Rodrigues, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Corp, aponta que em um primeiro momento, é natural que o investidor assuma um pouco mais de risco, tendo em vista que possui um prazo e horizonte maiores de tempo.

“Naturalmente, ao passo que vai construindo um portfólio mais robusto, e também com uma idade mais avançada, é comum a troca no perfil do portfólio para ações mais maduras, com foco em pagamento de proventos e com menos volatilidade. Neste caso, estaríamos falando das ações dos segmentos mais resilientes, como bancos, seguradoras, elétricas e saneamento”, explica.

Já Fernandes argumenta que não há um setor específico, pois o mercado funciona em ciclos.

É essencial que se procure entender esses ciclos, para se posicionar para tal. Haverá ciclos em que ações de commodities serão melhores, assim como haverá ciclos em que ações ligadas ao consumo doméstico, ou do setor elétrico, podem ser uma alocação mais favorável”, sintetiza.

Por último, é crucial que o investidor tenha a disciplina de reinvestir os dividendos recebidos para potencializar o patrimônio e gerar mais eficiência no longo prazo, para que possa ter o efeito bola de neve em seus investimentos.

“Afinal de contas, a matemática dos juros compostos nos investimentos é algo factível”, finaliza Deodoro, assessor na iHUB Investimentos.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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