Política

Revogação de resoluções do Conama põe meio ambiente em risco, dizem especialistas

07 out 2020, 19:24 - atualizado em 07 out 2020, 19:24
Pantanal Meio Ambiente Desmatamento Queimadas
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal exigiu explicações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

O Conselho Nacional do Meio Ambiente deixou de ser nacional quando 22 estados foram retirados de sua composição. A afirmação é do ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho.

Ele participou de reunião virtual da Frente Parlamentar Ambientalista, nesta quarta-feira (7), que debateu as mudanças na composição do Conama e a recente revogação de resoluções do conselho. Para ele, a instituição virou um conselho federal ao fixar apenas cinco representantes estaduais, sendo um de cada região.

Na opinião dele, até mesmo a União está sub-representada no Conselho Nacional do Meio Ambiente, pois nem todos os ministérios que tocam no tema meio ambiente estão ali. Antes da mudança, o Conama tinha 96 titulares; hoje, tem 23 membros. As ONGs, que tinham 22 vagas, ficaram com apenas 4.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal exigiu explicações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre essas mudanças, criadas com a justificativa de dar mais agilidade às discussões do Conama.

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Sociedade não foi ouvida

O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, alerta que a derrubada das resoluções ocorreu sem discussão com a comunidade científica e com a sociedade. As mudanças foram feitas a partir de um parecer jurídico do Ministério do Meio Ambiente.

Mesma reclamação faz a professora do Instituto Oceanográfico da USP Yara Schaeffer Novelli, que estranha essa mudança repentina após 18 anos de vigência da faixa de 300 metros de proteção às restingas.

“Por que revogar? Se as resoluções não acompanharam o ritmo de conhecimento e domínio sobre a zona costeira, proponha-se um grupo de trabalho, uma câmara técnica, vamos trabalhar para melhorar”, diz ela, que reclamou ainda de a atitude ter sido tomada numa reunião convocada extraordinariamente. “Reunião extraordinária é para fatos que não podem aguardar”.

O mediador da reunião, deputado Nilto Tatto (PT-SP) afirma que a Justiça pode ser a esperança para a volta da vigência das resoluções.

Nilto Tatto espera que a Justiça possa reverter a decisão do governo (Imagem: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

“Avaliando a composição do Congresso Nacional, as forças políticas nesse momento, o papel do Executivo como maior protagonista desses retrocessos que a gente está tendo — em especial na pauta ambiental —, a gente se volta para o Judiciário, o último limite para poder garantir as garantias constitucionais que a gente tem de proteção do meio ambiente”.

Agenda

A Frente Parlamentar Ambientalista vai debater na semana que vem em nova reunião virtual o papel dos insumos na produção agrícola e sua influência na biodiversidade.

agencia.camara@moneytimes.com.br