Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), Cemig (CMIG4), BB (BBAS3): O que vale a pena no Ibovespa hoje

Em 28 de fevereiro, o Ibovespa encerrou o pregão aos 122.799 pontos, registrando sua mínima no ano de 2025.
Desde então, o mercado acionário brasileiro iniciou uma trajetória de recuperação, atingindo 135.134 pontos em 2 de maio.
No dia 7, fechou a 133.398. Diante desse movimento, muitos se perguntam se o principal índice da Bolsa brasileira possui fôlego para sustentar essa tendência de alta ao longo do ano.
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O consenso de mercado é que sim — posição que também compartilho — e, a seguir, explico os fundamentos que sustentam meu otimismo.
O patamar atual foi atingido com apoio predominante do fluxo de capital doméstico, mesmo com o RSI (Relative Strength Index ou Índice de Força Relativa) indicando uma condição de sobrecompra em 68.
Isso sinaliza que pode haver uma correção de preços no curto prazo, com investidores aproveitando para realizar lucros.
Contudo, embora o mercado esteja tecnicamente sobrecomprado, os múltiplos fundamentalistas não indicam uma sobrevalorização.
A Bolsa brasileira está sendo negociada a 8,1 vezes o lucro projetado (P/L forward), abaixo da média histórica.
Considerando as estimativas de crescimento de 9% nos lucros das companhias listadas no Ibovespa em 2025, aliadas à queda de 45 pontos-base (0,45%) no DI com vencimento em janeiro de 2029, o cenário se mostra favorável.
Se as projeções dos analistas se confirmarem e a taxa Selic encerrar o ano abaixo de 15%, o Ibovespa tem potencial para alcançar entre 138 mil e 142 mil pontos em 2026 — uma valorização estimada entre 5% e 8%.
Em resumo, há razões sólidas para acreditar na continuidade desse movimento altista. Evidentemente, tal projeção considera as condições atuais, ciente de que o ambiente pode se alterar por fatores internos ou externos.
A sustentação da Bolsa reside nos lucros robustos do setor bancário (com ROE igual ou superior a 20%), nos dividendos expressivos de companhias como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3), e em medidas pontuais de alívio fiscal — como a arrecadação extraordinária com royalties.
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Em contrapartida, há fatores de pressão, como a elevação adicional de 50 pontos-base na Selic para 14,75% e que deve restringir ainda mais o consumo.
Soma-se a isso a fraqueza dos dados econômicos da China e a postura contracionista do Federal Reserve, que impactam negativamente as commodities e reduzem o fluxo de capital para mercados emergentes.
A pauta da reforma tributária, prevista para junho e que pode aumentar a carga sobre o setor de serviços, também traz um viés de cautela, ainda que o Ibovespa permaneça descontado.
Cada elevação de 50 pontos-base na taxa de juros comprime em cerca de 3% o valor presente dos fluxos de caixa nos setores mais alavancados — impactando negativamente segmentos como shoppings, construção civil e varejo.
Já para os bancos, o efeito tende a ser neutro ou até positivo, com aumento de aproximadamente 40 pontos-base no ROE via NII (receita líquida de juros).
Elétricas e empresas de telecomunicações sofrem com compressão de margens devido a dívidas atreladas ao CDI, enquanto os repasses tarifários não ocorrem; as construtoras, por sua vez, já negociam a apenas 0,6 vezes seu valor patrimonial.
Diante desse contexto, é natural que surja a pergunta: quais seriam, então, as melhores oportunidades de investimento na Bolsa para o investidor aproveitar esse cenário?
Encerrando este artigo, listo alguns nomes que, em minha visão, têm potencial de gerar retornos significativos.
Setor bancário:
Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) destacam-se. Os spreads sobre CDI permanecem elevados e a inadimplência estabilizou.
O setor combina crescimento de lucro com payout entre 40% e 45%, garantindo um fluxo robusto de dividendos mesmo em um cenário de Selic a 14,75%.
O valuation continua atrativo, com múltiplos próximos de 1,5 vezes o valor patrimonial.
Celulose:
A Suzano (SUZB3) merece atenção. O preço da celulose gira em torno de US$ 625 por tonelada. Com a desvalorização do real, a empresa volta a gerar caixa com força, reduz sua alavancagem e reforça sua tese de classificação como investment grade.
A parada de fábrica da concorrente Arauco, prevista para junho, deve apertar a oferta global e sustentar os preços, favorecendo uma revisão positiva do EBITDA.
Petróleo e Gás:
A Petrobras segue como uma opção relevante. Mesmo após o recente corte de 4,7% no preço do diesel, a companhia tende a entregar dividend yield superior a 15% em 2025, impulsionada pelo Brent em torno de US$ 86 o barril e pela disciplina na alocação de capital.
O novo Plano Estratégico 2025‑2029, previsto para julho, poderá trazer um programa de recompra de ações e catalisadores de curto prazo.
Setor elétrico:
Destaco Cemig (CMIG4) e Isa Energia (ISAE4). Empresas de transmissão e distribuição oferecem proteção de caixa em ciclos de aperto monetário: contratos indexados ao IPCA mitigam os efeitos da alta dos juros e asseguram previsibilidade no fluxo de receitas.
Um exemplo é a revisão tarifária da Cemig, em junho, que pode elevar sua Receita Anual Permitida (RAP) em até 200 pontos-base, destravando valor adicional para o semestre.
Construção de alta renda:
Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3) são bons exemplos. Ambas negociam com desconto entre 40% e 50% em relação ao seu valor patrimonial, atendendo a um público menos sensível às taxas de juros.
Os lançamentos em bairros de alto padrão em São Paulo apresentam velocidade de vendas superior a 25% no trimestre, e os repasses de preços aos clientes protegem as margens brutas, mesmo com a Selic elevada.
Para concluir, é importante destacar que variáveis macroeconômicas adversas não implicam, necessariamente, desempenhos negativos no mercado acionário.
Tomar decisões de investimento baseando-se exclusivamente no cenário macro pode ser um equívoco. Alocar recursos com base no fluxo de capitais difere substancialmente da prática de stock picking (seleção de ações).
Por isso, é fundamental manter uma leitura crítica do noticiário e não se deixar levar por excessivo pessimismo.
Quem acredita que o Ibovespa não pode avançar ainda mais, talvez esteja falhando na interpretação dos sinais reais do mercado.