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Rodolfo Amstalden: Como fazer dinheiro e influenciar pessoas

12 nov 2020, 14:14 - atualizado em 12 nov 2020, 14:14
Rodolfo Amstalden
“Ao ganhar dinheiro, acabamos convencendo as pessoas ao redor de que estamos certos, sendo que nem queríamos estar certos”, diz o colunista (Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

“Evite discutir com seu antagonista em um âmbito privado.

Você será incapaz de convencê-lo do seu argumento.

Em vez disso, discuta com ele em público, com vistas a convencer as pessoas em torno dele.”

Essa é uma das recomendações que o Taleb faz questão de escrever (publicamente) sob a forma de aforismo.

Mesmo sem ter nenhum antagonista específico em mente, notamos a implicação direta desse preceito talebiano dentro do mercado.

O que é o mercado senão uma enorme discussão pública?

A cada casamento entre um bid e um ask, o comprador se encontra com o vendedor, com vistas a resolver diferenças de prazo, liquidez, propensão ao risco, retorno esperado, etc.

Trata-se de um encontro pacífico, amoral; não há intenção alguma de convencimento.

Uma parte não visa a convencer outra parte; o comprador não quer transformar o vendedor em outro comprador.

Ao contrário: até certo ponto, o comprador prefere começar sozinho em seu argumento, pois assim compra mais barato; e acha ótimo que o vendedor tenha uma posição contrária à sua, quaisquer que sejam os motivos alheios.

Na maioria das milhares de transações ocorridas a cada dia, o comprador não conhece o vendedor — o que inibe o uso de argumentos ad hominem.

Ainda mais importante: o comprador não quer provar ao vendedor que está certo — ou, ao menos, não deveria querer provar nada. Na discussão de mercado, queremos apenas ganhar dinheiro.

No entanto, ao ganhar dinheiro, acabamos convencendo as pessoas ao redor de que estamos certos, sendo que nem queríamos estar certos!

Não é maluco isso?

No momento, há uma série de vendedores de stay at home, enquanto compradores buscam casos descontados pelo isolamento — naquilo que é chamado de “rotation trade”.

Sem querer convencer ninguém se estou certo ou errado, considero extremamente infeliz a ideia de vender techs para comprar aéreas neste momento.

Boa parte dos prêmios desenvolvidos pelas tech stocks nos últimos meses diz respeito ao teste pandêmico pelo qual todos passamos, e do qual as techs saíram como antifrágeis e as aéreas saíram como frágeis.

Embora o conceito talebiano de antifragilidade seja maravilhoso na teoria, sua aplicação prática é raríssima. Há pouquíssimos ativos antifrágeis à disposição do investidor, e são todos dependentes de contexto. Quando eles aparecem, devemos celebrá-los com justiça.

Ademais, sempre há o risco da eclosão de novas ondas de contágio, com sérias consequências financeiras. Se essas ondas vierem, as aéreas derreterão uma vez mais, obrigando o mercado a correr de volta para as techs, perdendo nas duas pontas.

As techs funcionam bem com pandemia ou sem pandemia. A decisão de comprá-las ou não tem a ver com preço, mas não tem a ver com a própria existência das mesmas em longo prazo.

Para as aéreas, entretanto, o payoff é bem menos favorável, é quase que binário.

É claro, estou aqui falando de techs e aéreas, mas o raciocínio se estende para outras classes de ativos situadas nos extremos de stay at home versus I want to break free.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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