Comprar ou vender?

Saiba como se proteger do estresse dos mercados investindo em ouro

23 set 2021, 15:40 - atualizado em 23 set 2021, 15:40
Ouro, Commodities
Ouro, a reserva de valor “mais clássica” da história da humanidade (Imagem: Unsplash/@pokmer)

O sobe e desce do mercado de ações reflete o atual cenário de volatilidade no Brasil. O Ibovespa, que abriu a semana atingindo a mínima em quase 10 meses, vive um momento de “respiro” após a tão aguardada divulgação dos dados das taxas de juros americana e brasileira, que vieram em linha com o esperado.

Ainda assim, o momento atual do mercado é de muita incerteza. A recuperação da economia mundial continua sendo um ponto de atenção, e problemas político-fiscais no âmbito doméstico, bem como a aproximação das eleições presidenciais, potencializam os ruídos já existentes.

Porém, existem alternativas para se proteger do estresse do mercado. Uma delas é investir em ouro, considerado por muitos um “safe haven” ou, para o analista da Empiricus Matheus Spiess, a reserva de valor “mais clássica” da história da humanidade.

A correção dos preços das commodities mais forte que o esperado, com o minério de ferro em destaque, deixou o mercado em alerta. O ouro, por ser um mineral, está inserido neste setor, tem as mesmas condições de uma commodity, mas sofre influência de outras variáveis, o que o torna um caso diferenciado.

Além da dinâmica do mercado de commodities, o ouro tem sensibilidade a taxas reais nos Estados Unidos. O desempenho do metal também está sujeito à força de moedas fortes, em especial da moeda americana, bem como à conjuntura global. Spiess disse, em entrevista para o Money Times, que essas quatro variáveis têm uma média de explicação da variação semanal do ouro em algo próximo a 80%.

Então, o que o cenário macroeconômico atual diz sobre o ouro?

O momento atual é de inflação. E, segundo Spiess, momentos de inflação no mundo são historicamente positivos para o ouro.

“Para o investidor brasileiro, dado o cenário de conjuntura, vai ser benéfico para ele se posicionar em ouro, porque é uma reserva de valor”, afirmou. “A gente não está conseguindo ancorar a inflação. Apesar do processo de normalização de juros no Brasil e nos Estados Unidos, acho que é benéfico ter posições em ouro”.

O analista destacou que os próximos dez anos serão de mais inflação do que nos últimos dez. Não porque o mundo vivenciará uma explosão da inflação, mas por uma base de comparação mais fraca.

“Nos últimos dez anos, a gente ainda carregou a crise de 2008 e, em seguida, a crise da Zona do Euro. E agora teremos vários estímulos fiscais ao redor do mundo inteiro, como o pacote de infraestrutura para os próximos oito anos nos Estados Unidos. Vai ter mais crescimento. Então, vai ser um momento de mais inflação”, afirmou Spiess.

O especialista disse que o ouro pode ficar pressionado no curto prazo, pois o cenário está mais propenso a um aperto monetário dos Estados Unidos. No entanto, Spiess não acha que a cotação vá sair muito do patamar atual, negociando entre US$ 1.700 e US$ 1.800 a onça.

Spiess recomenda não só investir em ouro, mas também em outros minérios. De acordo com o analista, a prata é vista como um “ouro alavancado”, então é bom ter na carteira, ainda que em menor proporção.

Spiess também gosta de cobre. Falando de minerais no geral, o especialista indica lítio e urânio nesse momento de correção de preços das commodities.

Como investir em ouro

Existem diversas maneiras de investir em ouro. Quando se fala em comprar ouro, muitas pessoas acabam remetendo ao físico (joias). Ainda que seja a maneira mais segura em termos de lastro, há opções mais líquidas que o mercado financeiro possibilita.

O investidor pode aplicar seu dinheiro, por exemplo, em fundos que investem em contratos futuros de ouro aqui no Brasil. Spiess aconselha escolher o dolarizado ou sem o hedge, caso tenha opção, para ficar exposto ao câmbio.

O mercado também permite comprar o contrato futuro, mas, para pessoa física, não é a opção mais viável. Spiess destacou que o fundo é mais prático, pois o investidor tem o auxílio do gestor especializado.

Outra opção de investimento é o ETF (Exchange-Traded Fund, também conhecidos como fundo de índice) de ouro. Produtos desse tipo começaram a ser lançados no Brasil, mas as opções no exterior são mais consolidadas.

Ouro
Mescla de investimentos: Matheus Spiess, analista da Empiricus, aconselha ter exposição ao ouro tanto via fundo quanto em ETF (Imagem: Michaela Handrek-Rehle/Bloomberg)

Spiess gosta da ideia de ter uma mescla das duas últimas modalidades de investimento: um pouco de ETF, um pouco de fundo.

“São dois veículos diferentes de exposição, mas com a mesma essência, que é o ouro”, disse o analista.

Outra maneira de ter exposição ao ouro é investindo em ações ligadas ao mineral. Esse é o caso da Aura Minerals, que, mesmo listada no mercado canadense, chama a atenção dos investidores brasileiros.

Atrativos da Aura

Spiess afirmou que o caso da Aura é “bastante enigmático”. É uma empresa antiga, com mais de 70 anos de atuação no mercado. Ela passou por uma transformação nos últimos anos que deve impulsionar seu crescimento.

“Essa reestruturação tem feito uma reeducação na empresa impressionante que acho que ainda não se materializou nos preços”, defendeu o especialista. “Acho que, nos próximos anos, vai potencializar uma combinação muito forte de crescimento com maior aderência a essas mudanças que foram feitas pelo management de qualidade, e também uma captura de ciclo de caixa de commodity dolarizada”.

O analista da Empiricus destacou que várias minas da companhia vão começar a operar. Elas ainda não começaram a beneficiar diretamente a mineradora, mas é bem provável que isso aconteça mais para frente, engatando o ritmo de crescimento da Aura.

“Acredito que a Aura está bem alinhada com o panorama internacional, caminhando junto com os players. Os que estão mais avançados, ela está fazendo um catch up. Os que estão mais atrasados, ela está sendo usada como referência. E isso deve se aprofundar nos próximos anos”, completou Spiess.

No mercado brasileiro, é possível investir no BDR (Brazilian Depositary Receipt, certificado emitido no Brasil que possui como lastro uma ação emitida no exterior) da Aura, sob ticker AURA33.

Aura Minerals
Transparência por parte das mineradoras: “A Aura é um exemplo clássico de como a governança tem melhorado”, afirmou Spiess (Imagem: Divulgação/Aura Minerals)

Onda ESG: dias contados para mineradoras?

O mundo vive uma onda sustentável. O setor de energia, por exemplo, já presencia mudanças significativas puxadas pela migração para fontes limpas. Essa tendência de nível global é definitivamente benéfica para o meio ambiente, mas gera dúvidas quanto ao futuro das mineradoras.

Segundo Spiess, ainda não há motivos para acreditar que o fim da indústria de extração mineral está próximo.

“A gente precisa de mineração para fazer boa parte do mundo funcionar hoje. Então, a gente não pode parar”, afirmou. “A gente tem feito uma migração muito violenta – e deve continuar fazendo – para essas energias renováveis, e isso dá um boost na demanda por minérios. Imagina: você vai ter que construir um monte de usina nuclear. Vai precisar de muita matéria-prima de commodity para extrair”.

Ademais, a mineração vem melhorando muito nos últimos anos. Spiess usou a Aura mais uma vez como exemplo dessa mudança de postura para com o meio ambiente e o mercado.

A Aura é um exemplo clássico de como a governança tem melhorado. Já conversei várias vezes com o management deles e são exemplo de gestão, auxílio às comunidades de influência e trato das minas que têm utilizado”, concluiu o analista.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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