Política

Secretária contraria Pazuello e admite que aplicativo TrateCov não foi hackeado

25 maio 2021, 14:44 - atualizado em 25 maio 2021, 14:44

A secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, admitiu nesta terça-feira, em depoimento à CPI da Covid, que o aplicativo TrateCov, criado pelo governo para indicar tratamentos sem eficácia comprovada para a Covid-19, não foi hackeado nem alterado nas informações que passava, como alegou o ministério.

Questionada sobre quais alterações foram feitas no aplicativo pelo suposto ataque hacker, Pinheiro admitiu que não houve alterações e garantiu que a plataforma era segura.

“Ele não conseguiu, o sistema é seguro, ele não conseguiu hackear. Hackear é quando você usa a senha de alguém, entra dentro de uma plataforma, de um sistema”, disse a secretaria.

Perguntada então pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se confirmava que não havia acontecido um hackeamento, Pinheiro afirmou que esse era um “termo de leigos” que ela e outras pessoas haviam usado, mas que o termo correto seria extração indevida de dados.

“Então houve extração de dados, mas não houve alteração do que estava proposto no TrateCov?”, perguntou Renan.

“Não, porque o sistema era seguro. O que ele fez foram simulações completamente indevidas, fora de contexto epidemiológico”, respondeu Pinheiro.

A declaração da secretária contraria afirmação feita à CPI pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que afirmou que a plataforma TrateCov foi retirada do ar após sofrer um ataque hacker em que um invasor teria alterado os dados do sistema.

“Não, porque o sistema era seguro. O que ele fez foram simulações completamente indevidas, fora de contexto epidemiológico”, respondeu Pinheiro (Imagem: TV Senado)

“Não houve alteração, e, não havendo alteração, nada justificaria a retirada do ar, porque a informação que o Pazuello passou aqui, e foi outra mentira, é que havia uma deturpação e um desvio da finalidade do TrateCov”, disse Renan.

A secretária acusou um jornalista, que à época foi o primeiro a revelar o funcionamento do TrateCov, de ter agido irregularmente na extração indevida de dados, e afirmou que ele estaria sendo processado.

Na verdade, o aplicativo havia sido lançado em 14 de janeiro em Manaus, como mostram notas distribuídas pelo próprio Ministério da Saúde, e o link para acesso já existia, apesar de ainda não estar em uso, como mostrou à época o site The Intercept e foi confirmado depois pela Reuters.

À época, a Reuters fez seis simulações de pacientes no aplicativo. Independentemente da idade, sintomas ou doenças preexistentes, a recomendação foi sempre a mesma: difostato de cloroquina 500 mg, hidroxicloroquina 200 mg, ivermectina 6mg, azitromicina 500 mg, doxiciclina 100mg, sulfato de zinco e dexametasona.