Opinião

Sidnei Nehme: BC mantendo postura de “observar sem intervir”

04 set 2018, 8:56 - atualizado em 04 set 2018, 8:56

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

É notório o crescimento da propagação de especialistas conceituados como Templeton, Goldman Sachs, UBS e outros do mesmo calibre, até mesmo a mediana de projeções do Boletim FOCUS, que vêm se manifestando com ponto de vista rigorosamente em linha com o que vimos colocando desde alguns meses atrás, sobre o entendimento da improcedência e falta de sustentabilidade de movimento especulativo sobre o preço do dólar no nosso mercado de câmbio, tendo em vista que o contexto do país neste segmento é de absoluta tranquilidade e acabará por contaminar “para o bem” o necessário entendimento do que ocorre no país e a falta absoluta de fundamentos para a depreciação exagerada da moeda nacional.

Há uma clara convergência de entendimento de que a taxa cambial deva estar no intervalo entre R$ 3,70 a R$ 4,00, e o entendimento de que o quadro cambial do Brasil é bastante confortável com base nas reservas cambiais e mecanismos operacionais que detém o BC para atuar, se e quando necessário com fundamentos, provendo o mercado de câmbio com liquidez, seja por demanda de proteção cambial, seja por liquidez no mercado à vista.

Não há no momento quaisquer indícios de pressões de demanda que possam impulsionar agravando a depreciação do real além do ponto de equilíbrio, no nosso entender, R$ 3,80, que aglutina todos os fatores de influência na formação do preço e que o conduziram de R$ 3,30 até este patamar.

Mesmo que se radicalize a perspectiva de que o pior está por vir, a situação cambial do país estará ancorada no estoque de divisas efetivas que o país detém e que é um escudo real em defesa da imunidade a uma crise cambial.

O impacto maior se ocorrer será nas perspectivas para a atividade econômica, superação da crise fiscal, recuperação do emprego e da renda, mas no que diz respeito ao quadro cambial este está sólido e apto a responder até a uma eventual pressão de demanda.

A “memória” sobre ocorrências em períodos pré-eleitorais do passado faz com que muitos acreditem que cenários de elevado desconforto vivenciados possam se fazer presentes na atualidade, o que é rigorosamente um ledo engano.

Ratificando, mais uma vez, há absoluta transparência nos dados em torno da questão cambial do Brasil que deixam inconteste a excelente condição que o país detém e que não permite que se suscitem quaisquer dúvidas sobre a imunidade presente contra qualquer risco de crise cambial.

Repetindo o que temos dito quase que diariamente, o Brasil detém reservas cambiais da ordem de US$ 380,0 Bi, o que o faz totalmente diferente dos demais países emergentes na atualidade e tem somente algo em torno de 0,7% do PIB de déficit em transações correntes, enquanto que em 2002 detinha tão somente US$ 37,0 Bi de reservas cambiais e déficit em transações correntes em torno de 1,70% do PIB. A existência de tamanha reserva cambial permite que o BC operacionalize com absoluta tranquilidade e credibilidade do mercado instrumentos de proteção cambial e/ou gere liquidez no mercado de câmbio à vista, com operações de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

O BC deve acentuar sua ação na comunicação, utilizando a mídia para esclarecer de forma objetiva a absoluta tranquilidade do país na questão cambial e que torna absolutamente inoportuna a intervenção do BC no mercado.

O BC deve agir para desmistificar a ideia de que há um “efeito manada” em busca desesperada pelo dólar, como postura defensiva ante o cenário de incerteza que é propagado no momento.

Não há absolutamente nenhuma necessidade do BC intervir, e se o fizer acabará por fortalecer aqueles que estão fomentando a especulação, pois estará insinuando que haja realmente o “efeito manada” na direção do dólar, num momento em que isto não ocorre.

Acreditamos que não se envolvendo, porém esclarecendo o público, já que há um número crescente de especialistas apontando para a irrealidade do momento atual do preço do dólar, o movimento especulativo acabará por ser minado e desacreditado, retrocedendo o preço da moeda americana para a sua realidade.

Este é um período que destacamos como o trimestre (ago-out) de fortes pressões, queda da atividade econômica, retração dos investimentos, estagnação da geração de empregos e renda, o que é natural dada a elevada incerteza em torno das perspectivas para a economia brasileira, e naturalmente a manutenção de preços do dólar exacerbados por um período poderá ter reflexos nos indicadores inflacionários, mas isto deverá ser suportado, sem que se altere a taxa SELIC, por ser uma ocorrência claramente pontual e não sustentável, devendo a autoridade agir para desacreditar o movimento.

O enfrentamento, insinuado com a oferta de 30.000 contratos de swaps cambiais, será um erro, pois sancionará o reconhecimento de algo que efetivamente não existe de forma crível e fundamentado.

O especulador é ágil e sábio o suficiente para perceber o enfraquecimento de sua ação e assim será o primeiro a concorrer para o desmonte do movimento.

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