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Suspensão de novela brasileira da HBO Max: qual é o recado que fica para o mercado?

12 jul 2022, 11:53 - atualizado em 12 jul 2022, 11:53
HBO
HBO Max suspendeu a produção da novela “Segundas Intençães”, a primeira da plataforma (Imagem: Unsplash/Nicolas J Leclercq)

Logo após o fim do expediente da última sexta-feira (8), a HBO surpreendeu parte do mercado ao anunciar que estava suspendendo a produção de “Segundas Intenções”, sua primeira novela. O anúncio em si dividiu reações.

A mídia especializada e profissionais ligados ao meio já vinham ventilando, há algumas semanas, que as coisas não iam bem nos bastidores.

Raphael Montes é um consagrado autor de livros, mas nunca escreveu novelas. Silvio de Abreu, com mais de 45 anos de experiência na dramaturgia, por sua vez nunca fez uma novela para o streaming. Ou seja, todos estavam descobrindo juntos como se fazer – impactando em atrasos.

Em paralelo, os menos aficionados no mercado, mas ainda assim ligados ao mundo das celebridades e aos bastidores de TV foram pegos de surpresa por conta do porte do projeto da HBO.

“Segundas Intenções” tem vários ex-globais de primeiro escalão – inclusive essa seria a primeira aparição deles após tantas décadas na Globo.

Camila Pitanga e Antonio Fagundes liderariam esse time. A direção-geral seria de Joana Jabace, que foi uma das diretoras do grande sucesso “Avenida Brasil”.

A própria Globo se mostrou apreensiva com a movimentação da HBO e montou uma operação de guerra – o qual agora, após esse adiamento, se mostrou inútil.

Em uma estratégia sem precedentes, a Globo escalou João Emanuel Carneiro, da mesma “Avenida Brasil” de Joana Jabace, para escrever para o Globoplay.

Seu folhetim leva o nome de “Todas as Flores” e iria estrear na TV neste ano com 160 capítulos. O projeto foi reduzido pela metade, mas sem perder prestígio: nos comunicados à imprensa e ao público, a Globo anunciava que estava produzindo duas novelas das 21h simultaneamente: uma para o streaming e outra para sua programação linear.

Globo leva a melhor em primeiro embate com americanos

Ainda que “Segundas Intenções” não tenha sido cancelada e só suspensa, tal acontecimento eleva o prestígio da Globo junto ao mercado artístico, publicitário e público.

Vale lembrar que a Netflix também ensaiou a produção de novelas por aqui, mas até agora não se ouviu uma claquete batida.

Por mais que haja projetos e intenções, quem realmente produz novelas no Brasil é a Globo, e ela segue como porto seguro para grandes produções.

Mercados prioritários

A suspensão da estreia de “Segundas Intenções” apenas antecipa uma movimentação que poderia ocorrer a qualquer momento – mesmo caso a novela tivesse estreado e sido um sucesso.

Diferente da Globo, que está no Brasil há quase 60 anos, que tem aqui seu mercado prioritário e responsável por praticamente todo seu resultado financeiro, empresas como HBO e Netflix enxergam o nosso país como mais um de tantos outros disponíveis para investimentos.

A Netflix, por exemplo, não investe apenas nos EUA: saíram de países da Europa e da Ásia sucessos como “Elite”, “La Casa de Papel”, “Heartstopper” “Round 6” e “Sex Education”.

Existe uma considerável dependência do mercado audiovisual da Netflix nestes países. Qual seria o impacto da cadeia de produção de audiovisual local caso a empresa decidisse zerar os investimentos em um país para privilegiar outro?

O caso do CNN+

O CNN+, serviço de streaming da CNN que durou apenas um mês, é um ótimo exemplo de como para os gigantes americanos podem desistir de uma operação num estalar de dedos.

Em março deste ano, a empresa anunciou o CNN+ ao mercado. O serviço de streaming, ao custo de US$ 5,99 mensais, estrearia oficialmente no dia 29 daquele mesmo mês. Mais de US$ 100 milhões foram investidos e gastos em estrutura, campanhas publicitárias e cerca de 700 contratações.

Após 32 dias, no final de abril, Chris Licht, CEO da CNN, convocou seus funcionários para uma reunião em um dos estúdios da sede de Nova York, no 19º andar, e anunciou que o fim do CNN+.

É verdade que neste curto espaço de tempo, a Discovery havia assumido o controle da HBO, CNN e Warner. Mas também é verdade que não houve esforço algum em insistir no projeto. Que investidor desistiria de um negócio de US$ 100 milhões em apenas 32 dias?

A fusão nos EUA e a política de custos imposta pela Discovery também pode ter influenciado na decisão de adiar “Segundas Intenções”.

Mas o ponto aqui é outro: se nos EUA, principal mercado do planeta e sede de todas as empresas aqui citadas, não houve pudor em jogar no lixo um projeto de US$ 100 milhões, por que o Brasil resistiria a uma determinação da matriz americana para se levantar acampamento daqui? E neste ponto a Globo leva vantagem.

Esperança a médio prazo

Existe uma luz no fim do túnel para produtores de conteúdo no Brasil. O Congresso Nacional derrubou, no último dia 5, os vetos de Jair Bolsonaro às propostas de incentivo à cultura Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo. Tais vetos serão publicados como lei e injetam ânimo ao setor.

A Lei Aldir Blanc 2 prevê repasses de R$ 3 bilhões anuais do caixa da União a estados, ao Distrito Federal e a municípios para ações no setor cultural, as quais serão definidas por meio de editais, chamadas públicas, prêmios, entre outros. A política estará em vigor durante os próximos cinco anos e a disponibilização dos recursos poderá ocorrer já em 2023.

Já a Lei Paulo Gustavo, em homenagem ao humorista falecido em 2011 por conta dos efeitos da Covid-19, determina o repasse de R$ 3,8 bilhões do Fundo Nacional de Cultura para fomento de atividades e produtos culturais afetados por conta da pandemia.

É importante ressaltar, no entanto, que esses recursos não foram criados como forma de beneficiar players como Netflix, HBO e Globoplay, mas sim os produtores de audiovisual.

Tais empresas poderão se aproveitar deste valor para viabilizar produções, mas em contrapartida sem acesso à propriedade intelectual – algo não muito comum ou interessante a elas. Caso queiram deter de todo o controle e da propriedade intelectual das produções, caberá a elas mesmas financiarem os conteúdos.

Para o telespectador, resta torcer para que tais leis resultem em mais opções de conteúdo e que os adiamentos não se tornem cancelamentos. É extremamente importante que o mercado deixe de se concentrar apenas em um ou poucos players. É dessa forma que novas histórias, linguagens e a representatividade poderão ganhar escala.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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