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SVB é só a ponta do iceberg e 190 bancos dos EUA podem quebrar, alerta estudo

20 mar 2023, 16:39 - atualizado em 21 mar 2023, 10:40
SVB Crise financeira
SVB pode ser apenas a ponta do iceberg de uma grande crise financeira (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)

O colapso do SVB pode ter sido apenas a ponta do iceberg de uma crise bancária de larga proporção nos Estados Unidos, com repercussões imprevisíveis para o sistema financeiro global.

O alerta é emitido por um estudo divulgado no último dia 13 de março e elaborado por um conjunto de professores de Finanças de importantes centros acadêmicos dos EUA. Entre eles, a Universidade de Columbia, o Instituto Kellogg (Universidade  de Northwestern, em Illinois) e a Universidade de Stanford.

De acordo com os pesquisadores, cerca de 4.800 instituições financeiras atualmente funcionam no país. Dessas, 10% demonstraram em seus balanços perdas não reconhecidas que são maiores do que aquelas apresentadas pelo SVB. Outros 10% possuem uma capitalização inferior àquela do banco das startups do Vale do Silício.

Os nomes dos bancos em questão não foram revelados pelo artigo. Afinal, a publicidade negativa pode provocar um movimento especulativo sobre os papéis, agravando ainda mais o cenário atual.

Ainda assim, o estudo mostra que tais perdas de valor de mercado face o valor contábil (marcado no balanço), combinada com uma larga fatia de depositantes não segurados pelo FIDC (o Fundo Garantidor de Crédito dos EUA), podem ameaçar seriamente a estabilidade financeira de quase duas centenas de instituições.

“Mesmo se metade dos clientes não segurados começarem uma corrida bancária, quase 190 bancos podem sofrer o risco de imparidade“, diz o estudo, contaminando até US$ 300 bilhões em depósitos segurados em escala nacional. No entanto, o FIDC garante o pagamento de apenas até US$ 250 mil para clientes de instituições insolventes.

SVB se repete por toda parte

A posição frágil dos bancos de pequeno e médio porte dos EUA se escancarou com o aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve desde março do ano passado, como parte do combate à inflação galopante no país.

Em apenas um ano, os juros saltaram do intervalo de 0%-0,5% para alcançar os 4,50-4,75% praticados hoje, assinalando a subida mais inclinada para as taxas deste século.

Ocorre que, com o aumento vertiginoso dos juros, os títulos de longo-prazo (T-notes de 10, 20 e 30 anos e hipotecas) que compõem a reserva de liquidez desses bancos estão sofrendo perdas gigantescas em seus valores justos (o preço e o prêmio dos títulos tem relação inversa), marcados na curva com perdas não-realizadas.

Para se ter ideia, entre os primeiros dois meses de 2022 e 2023, o valor de mercado das hipotecas residenciais e comerciais caiu, respectivamente, 11% e 10%. As bonds (títulos do Tesouro americano) de 10 e 20 anos assumiram perdas ainda maiores: 25% e 30%, respectivamente, como sugerido pelos fundos de índices (ETF) de Treasuries da Blackrock no determinado período.

O fenômeno pode ser constatado pelo levantamento, explicitado em gráfico abaixo, do Banco Inter, que mostra uma queda média de 15% do retorno dos títulos desde a máxima há quase três anos.

SVB
Retorno dos bonds está em queda livre [Fonte: Banco Inter]
Como já conhecido, no caso do SVB, as perdas não-realizadas relacionadas à desvalorização do seu portfólio de títulos seriam de cerca de US$ 15 bilhões, impactando quase a totalidade do seu patrimônio líquido de US$ 16 bilhões, praticamente zerando o seu índice Basileia (mede a relação entre o capital do banco e o de terceiros, isto é, seus clientes).

Esse ‘script’ pode estar sendo perigosamente replicado por diversas instituições, carentes, portanto, de liquidez. De acordo com o estudo, o valor de mercado dos ativos (sobretudo, títulos da dívida americana e títulos hipotecários) sob gestão do sistema bancário americano é US$ 2 trilhões menor do que o computado nos registros contábeis.

Depósitos não segurados pelo ‘FGC’ do EUA somam US$ 9 tri

Além disso, a questão envolvendo a desvalorização do balanço de ativos dos bancos soma-se a um ambiente macroeconômico que obriga cada vez mais depositantes a sacarem recursos dos bancos para honrar as próprias despesas financeiras. Tal corrida por saques exacerba o encarecimento do crédito.

O cenário é ainda mais preocupante se considerado a parcela de depositantes não securitizados pelo FIDC. Isto é, os clientes que possuem depositados valores acima de US$ 250 mil.

O estudo estima que essa fatia represente até US$ 9 trilhões do total depositado em bancos comerciais. Portanto, em caso de uma corrida bancária mais sustentada, esses bancos poderiam ter esgotadas suas capacidades de financiar os títulos de longo prazo através dos recursos alocados.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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