Saúde

Taxa de mortalidade por covid-19 em Paraisópolis aumenta 240%

09 set 2020, 13:46 - atualizado em 09 set 2020, 13:46
Paraisópolis-São Paulo-Favela
A secretaria diz ainda que Paraisópolis está 100% coberta pela estratégia saúde da família, com 59,9 mil pessoas cadastradas através de três unidades básicas de saúde (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Após conseguir bons resultados no início da pandemia, a favela de Paraisópolis, segunda maior da capital paulista, teve um aumento de quase 240% na taxa de mortalidade por covid-19 em três meses.

Em maio, no distrito da Vila Andrade, onde está localizada Paraisópolis, a taxa de mortes por covid-19 era de 50 vítimas para cada 100 mil habitantes.

Em relação apenas à favela, a taxa era de 16 mortes para cada 100 mil. Em agosto, o índice passou para 54 óbitos por covid-19 a cada 100 mil habitantes, um aumento de 237,5%.

O levantamento foi feito pelo Instituto Polis e pelo Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) com base em dados da Secretaria Municipal de Saúde, fornecidos por meio da Lei de Acesso a Informação.

A secretaria de Saúde, no entanto, informou por meio de nota que o distrito da Vila Andrade vem “apresentando queda dos óbitos nos últimos meses”. Segundo o comunicado, foram registradas, até agosto, 123 mortes confirmadas ou suspeitas de covid-19, sendo que 39 das vítimas morreram em maio e oito em agosto.

A secretaria diz ainda que Paraisópolis está 100% coberta pela estratégia saúde da família, com 59,9 mil pessoas cadastradas através de três unidades básicas de saúde.

Organização comunitária

A comunidade da favela da zona sul paulistana, onde vivem cerca de 100 mil pessoas em 21 mil residências, organizou um sistema chamado de “presidentes de rua” no qual agentes voluntários eram responsáveis por “cuidar” de 50 casas. Esses voluntários reforçavam as instruções de isolamento social, além de apoiar a entrega das doações de mantimentos e material de higiene.

Para o médico sanitarista e pesquisador do Instituto Polis, Jorge Kayano, houve um esgotamento das ações comunitárias com o passar dos meses. “Todas as medidas que foram adotadas acabam se esgotando ao longo do tempo por não conseguirem conter mais a população dentro das suas casas esperando acabar a pandemia”, aponta.

Além disso, ele destaca que o fluxo de doações tende a diminuir depois de algum tempo. “Não há filantropia ou poder de contribuição que permaneça indefinidamente. Precisam de ação complementar do setor público”, acrescenta.

Falta de apoio

A falta de apoio do Poder Público é, na avaliação do médico, a principal razão para que, mesmo com uma boa contenção da pandemia nos primeiros meses, o número de mortes tenha crescido tanto na comunidade. “A ação pública poderia ao menos fazer uma contribuição efetiva para que as iniciativas feitas pela própria comunidade tivessem mais alcance e poder de fogo”, enfatiza.

A própria medida adotada na comunidade é, de acordo com o médico, uma reação à falta de apoio dos governos e da prefeitura. “Agora está claro que não foi suficiente para manter essa situação de baixa taxa de mortalidade. Isso não pode ser cobrado dos moradores de Paraisópolis”, ressalta.

Testagem e rastreamento

Kayano defende que o Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ter atuado de forma mais enérgica, mobilizando os agentes da atenção básica em um modelo semelhante ao feito no Uruguai.

No país vizinho, segundo o médico, houve um esforço de testagem, permitindo localizar as pessoas infectadas e fornecer condições para que elas fizessem o isolamento social. Além disso, o especialista destaca a importância de rastrear os casos, testando as pessoas que tiveram contato com a pessoa confirmada com o vírus.

“Isso poderia ser feito em vários bairros de São Paulo que tem iniciativas parecidas com Paraisópolis”, afirma.

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