Eleições Americanas

Trump cansou de ser bonzinho: Deportação em massa, controle de gravidez, sobretaxas de importados e muito mais vêm aí

30 abr 2024, 18:39 - atualizado em 30 abr 2024, 18:41
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Mais Trump do que nunca: candidato republicano à Casa Branca está “totalmente em modo de guerra”, segundo aliados disseram à Time (Imagem: REUTERS/ Alyssa Pointer)

Donald Trump cansou de ser bonzinho. Caso vença a eleição presidencial americana deste ano, o republicano jogará mais duro contra adversários e estará mais confiante e determinado para tomar decisões polêmicas que, de algum modo, acabaram escanteadas em seu primeiro mandato na Casa Branca, entre 2017 e 2021. Essa é a conclusão da reportagem de capa desta semana da Time, uma das mais respeitadas revistas do mundo.

Eric Cortellessa, jornalista que assina o texto, entrevistou Trump duas vezes para a reportagem, além de acompanhá-lo em eventos de campanha. Também falou com aliados históricos do republicano, bem como pessoas que já se movimentam para consolidar um pacote de políticas públicas que seria o coração do segundo mandato de Trump.

“Não acho que é um grande mistério qual seria a sua agenda”, afirmou Kellyanne Conway, uma de suas assessoras mais próximas, à Time. “Mas eu acredito que as pessoas se surpreenderão com o vigor com que ele partirá para a ação”, completou.

Outro conselheiro próximo, o polêmico Stephen Bannon, também atesta a disposição de Trump para atacar mais do que se defender. “Ele [Trump] está totalmente em modo de guerra“, disse o conselheiro à Time. Bannon acrescenta que o ex-presidente possui uma visão “quase apocalíptica” da situação em que os Estados Unidos se encontram. “É nisso que está o coração de Trump. É onde está sua obsessão”, explicou Bannon à revista.

Mas até onde Trump está disposto a ir, numa cada vez mais provável vitória sobre  Joe Biden, atual presidente e candidato à reeleição pelos Democratas? Veja, a seguir, o que a Time apurou com o próprio protagonista da reportagem e com seus aliados:

1. Trump planeja deportação em massa de imigrantes ilegais

Quando se fala em deportação em massa, Trump quer dizer “em massa mesmo”. Segundo a Time, sua equipe de campanha prepara um plano para expatriar mais de 11 milhões de imigrantes ilegais. O próprio republicano afirmou, à revista, que, para implementar seu plano, está disposto a construir campos de detenção, bem como a utilizar as Forças Armadas, tanto no controle de fronteira, quanto em patrulhamento interno.

Além disso, Trump pretende resgatar políticas de seu primeiro mandato, como o “Remain in Mexico”, segundo a qual, imigrantes que requeiram asilo nos Estados Unidos devem aguardar fora do território americano até a data de sua audiência. Outro exemplo é o Title 42, que permite que autoridades alfandegárias americanas expulsem imigrantes e os impeçam de solicitar asilo.

O polêmico muro na fronteira com o México, cuja construção foi uma promessa da primeira campanha de Trump à Casa Branca, cumprida parcialmente, também deve retornar à pauta. Caso vença a eleição deste ano, o republicano não descarta utiliza recursos destinados à Defesa para concluir a obra.

Outro aspecto que causará controvérsias é a disposição de Trump de usar a Guarda Nacional para localizar ilegais e apoiar a deportação em massa. O candidato afirma que, caso a Guarda não consiga cumprir a missão, recorrerá às Forças Armadas. A medida o colocaria em rota de colisão com uma lei de 1878, a Posse Comitatus, que proíbe o uso das forças militares contra civis.

Segundo a Time, Trump não se abala com o argumento. “Bem, eles [os ilegais] não são civis”, respondeu o ex-presidente à revista. “Há pessoas que não estão legalmente no país”, completou. A Time acrescenta que ele não hesitará, também, em adotar retaliações contra forças policiais locais que não cooperem com o plano. A estratégia é óbvia: cortar o orçamento dessas corporações. “Há a possibilidade de que alguns não desejarão participar [da operação], então, não participarão também da partilha de riquezas”, sublinhou.

2. Sobretaxa de mais de 10% para produtos importados (e não apenas os chineses)

O aspirante à Casa Branca afirmou ainda à Time que planeja intensificar as políticas protecionistas contra produtos importados, a fim de incentivar um “renascimento” da indústria americana. Segundo a revista, Trump pretende adotar uma alíquota de mais de 10% sobre todas as importações. Para algumas mercadorias chinesas, essa sobretaxa poderá chegar a 100%.

Trump não teme o impacto das sobretaxas na inflação. Sua resposta ao repórter da Time é que, durante seu primeiro mandato, a inflação média dos Estados Unidos foi de menos de 2% ao ano.

3. Trump ameaça demitir procuradores

A separação entre poderes, um dos pilares da democracia desde sua concepção pelos Iluministas do século XVIII, também está na mira de um segundo mandato de Trump. Ele admite que não descarta demitir procuradores que não obedeçam suas ordens para abrir investigações. “Depende da situação”, respondeu à revista.

Segundo a Time, ele tem afirmado a apoiadores que pretende punir inimigos que o atormentaram durante e após seu primeiro mandato, caso volte à presidência. Na lista, estariam Fani Willis, procuradora do distrito de Atlanta que o acusou de tentar interferir no resultado das eleições em 2021; e Alvin Bragg, responsável pelo caso envolvendo Stormy Daniels, garota de programa paga com recursos da campanha de Trump.

O ex-presidente evitou dar uma resposta direta sobre sua disposição de retaliar desafetos do Judiciário. “Não quero fazer isso. Estamos vendo um monte de coisas. O que eles [os procuradores] fizeram foi terrível”, disse.

4. Aliados internacionais podem perder apoio

Recentemente, Trump afirmou, num evento de campanha, que a Rússia “poderia fazer o que quisesse” com países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que, na avaliação do republicano, não estejam gastando o suficiente para a defesa da aliança militar.

À Time, Trump sublinhou que a declaração não foi apenas uma bravata para insuflar seus eleitores. Ele falava sério. “Se você não vai pagar, então estará por conta própria”, sublinhou. Para Trump, a Otan vem dilapidando os Estados Unidos, à medida que seus membros não investem  tanto quanto os americanos na aliança.

Neste aspecto, pelo menos, Trump parece ter provocado alguma reação: Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan durante o primeiro mandato do republicano, afirmou que foi graças à sua postura dura, que os membros da Otan elevaram em US$ 100 bilhões os gastos militares no período.

A Europa também teme que Trump cumpra a promessa de não enviar mais recursos para a Ucrânia sustentar a guerra contra a Rússia, se os países europeus não colocarem a mão no bolso também. Ele reafirmou sua disposição, na conversa com a Time: “se a Europa não vai pagar [pela defesa da Ucrânia], por que nós [Estados Unidos] deveríamos? Eles [europeus] são muito mais afetados [pela guerra]”.

A guinada na política externa americana, sob um novo governo Trump, ecoaria também na geopolítica da Ásia. Embora prepare-se para uma ferrenha guerra comercial com a China, o bilionário de Mar-a-Lago pode incentivar, indiretamente, as aspirações expansionistas de Pequim.

O governo de Taiwan, por exemplo, afirmou recentemente que o dinheiro enviado pelos Estados Unidos para a defesa da Ucrânia foi “crítico” para deter os planos do presidente chinês, Xi Jinping, de invadir a ilha. “Os líderes da China comunista precisam entender que coisas assim não virão facilmente”, disse Trump à Time. De acordo com a revista, ele evitou, contudo, responder se, sob seu comando, os Estados Unidos participariam ativamente da defesa de Taiwan, em caso de invasão.

5. Controle de gravidez e punição por aborto

Na pauta de costumes, Trump promete ser mais contundente com alguns temas. Ele defendeu abertamente, nas conversas com a Time, o direito de Estados americanos acompanharem a gravidez das mulheres. “Eu acho que eles poderiam fazer isto”, disse. O objetivo seria punir aquelas que façam um aborto.

Atualmente, 20 Estados proíbem total ou parcialmente o aborto. O republicano não escondeu a satisfação de ter indicado três juízes conservadores para a Suprema Corte americana em seu primeiro mandato. Com uma corte mais conservadora, Trump está confiante de que políticas estaduais anti-aborto poderão ser implementadas sem problemas.

Sua confiança no avanço de leis estaduais mais restritivas é tanta, que, na conversa com a revista, Trump afirmou que sua posição sobre o assunto já é “irrelevante, porque os Estados estão tomando essas decisões [de proibir o aborto]”.

 

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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