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UBS promove Vale para “compra” pela primeira vez, desde junho de 2013

03 jun 2020, 12:57 - atualizado em 03 jun 2020, 12:57
Vale VALE3
Sem coincidências: para o UBS, há uma forte correlação entre a alta do petróleo e o aumento do minério de ferro (Imagem: Vale/Marcelo Coelho)

As ações da mineradora Vale (VALE3) podem ser impulsionadas pela tendência de recuperação nos preços internacionais do petróleo, uma vez que esse movimento pode impactar custos como o frete e consequentemente as cotações do minério de ferro, principal produto da companhia, apontaram analistas do banco suíço UBS em relatório nesta quarta-feira.

Os papéis da Vale já subiram quase 60% desde mínimas tocadas no final de março, quando a pandemia de coronavírus começou a se agravar no Brasil, acompanhando um avanço nos preços do minério de ferro na China.

Os futuros da matéria-prima utilizada na fabricação do aço têm sido impulsionados pela gradual retomada das atividades na economia chinesa e mais recentemente por temores sobre possíveis consequências dos crescentes casos de coronavírus e mortes pela doença no Brasil sobre a produção da Vale.

Essa alta do minério de ferro também está no radar do UBS, que projetou preços entre 65 dólares e 87 dólares por tonelada para o produto, contra patamar de 60 dólares precificado pela Vale.

“Nós atualizamos Vale para ‘compra’ pela primeira vez desde que iniciamos a cobertura em junho de 2013”, escreveram os analistas sobre os papéis da empresa.

Ajuda do petróleo

Para eles, o petróleo poderia ter efeito mais relevante sobre as ações da Vale do que um eventual salto nas cotações do minério de ferro que seja puxado por fatores de curto prazo, como estímulos na China ou uma redução temporária da oferta.

“Acreditamos que o mercado pagará um valor de mercado justo por uma elevação estrutural nos preços do minério de ferro puxada pelo petróleo subindo além do ponto de equilíbrio dos produtores, mas não por uma elevação temporária dos preços do minério (por estímulos ou interrupções de oferta)”, apontaram.

Custos estruturais: petróleo mais caro eleva o custo do frete e, por tabela, a cotação do minério de ferro, segundo o UBS (Imagem: Divulgação/Vale)

Segundo eles, a correlação entre os preços do minério de ferro e as ações da mineradora brasileira caiu para cerca de 50% nos últimos anos, sendo às vezes até negativa, enquanto a correlação com o petróleo aumentou para mais de 90%.

“A correlação com o petróleo não é coincidência, mas guiada pelo impacto material do petróleo sobre a curva de custos do minério de ferro (frete marítimo, mineração, transporte via caminhões)”, explicaram.

As expectativas otimistas do UBS para a Vale levam em conta a visão altista da área e energia do banco sobre o petróleo, com projeção de preço de 48 dólares por barril em 2021.

O petróleo Brent operava pouco abaixo de 40 dólares na manhã desta quarta-feira (horário de Brasília), após ter chegado a tocar mínima de 21 anos em abril, a 16 dólares.

Retomada gradual

Os analistas do banco suíço também destacaram a expectativa de que a Vale retome gradualmente capacidade de produção desativada depois do desastre de Brumadinho em 2019, o que diluiria custos e compensaria em parte uma esperada redução dos preços do minério de ferro em 2021.

Para eles, a recente alta nas cotações do minério está mais associada aos temores sobre redução da produção do que à força da demanda.

O principal risco negativo no cenário otimista traçado para as ações da Vale seria um eventual aumento de impostos sobre o setor de mineração no Brasil, além de preocupações associadas a sustentabilidade, questões sociais e governança (ESG, na sigla em inglês), disseram os analistas.

No acumulado de 2020, os papéis da mineradora estão praticamente estáveis.

As cotações das ações da Vale estão ainda cerca de 1,5% abaixo dos valores vistos em 24 de janeiro de 2019, antes do rompimento de uma barragem da companhia em Brumadinho (MG), que deixou centenas de mortos.