Uma cidade e os impactos do tarifaço e da política anti-imigrantes de Trump na indústria têxtil dos EUA

No centro da tradicional indústria têxtil de Fall River, cidade no sul de Massachusetts, o panorama é desolador para antigos trabalhadores e empresários do setor. As máquinas que antes funcionavam a todo vapor agora ecoam fracamente, com apenas 15 funcionários produzindo equipamentos neonatais hospitalares em uma fábrica centenária. A família Teixeira, que liderava uma das maiores operações locais, migrou para o setor de armazenagem, refletindo a crise enfrentada.
Esse cenário é resultado direto das tarifas impostas pela administração Trump, que variam entre 10% e 50% sobre importações, e de políticas migratórias restritivas que dificultam a contratação de mão de obra. Muitos empresários rejeitam ofertas para retomar a produção têxtil, diante da escassez de trabalhadores e da incerteza sobre a demanda futura.
Esses fatos contrastam com a promessa de campanha do ex-presidente de revitalizar os empregos industriais americanos. Em Fall River, que surpreendeu ao dar uma vitória republicana inédita em quase um século, os efeitos das tarifas se manifestam no aumento dos custos para fabricantes que dependem de insumos importados.
Pesquisa do Federal Reserve de Dallas revelada em agosto aponta que 71% dos fabricantes locais já sentem impacto negativo das tarifas, entre eles a Matouk, fabricante de roupas de cama de luxo fundada em 1929. A empresa enfrenta aumento mensal superior a US$ 100 mil em matérias-primas como algodão importado de Portugal, Índia e Liechtenstein, resultando em cortes de investimentos e elevação de preços. “Fizemos tudo o que deveríamos para manter a indústria, mas agora estamos sendo penalizados”, afirma George Matouk, neto do fundador.
Embora estudos indiquem que a política tarifária tenha gerado empregos em setores protegidos, como o siderúrgico, setores dependentes da importação, caso do têxtil, enfrentam perda de competitividade e cortes de postos de trabalho.
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Apesar do cenário adverso, o apoio a Trump permanece forte nas ruas de Fall River. Trabalhadores aposentados como Tom Teixeira, de 72 anos, que votou no ex-presidente nas últimas três eleições, mantém a esperança na retomada da economia local: “Se as coisas não melhorarem em um ano, veremos”, declara.
Por sua vez, o dono da fabricante Vanson Leathers, Mike van der Sleesen, que votou em Trump, admite compreender o objetivo do equilíbrio comercial, mas alerta para o risco de sufocamento das produções locais.