BusinessTimes

Vale (VALE3): Queda recente é oportunidade ou alerta para ficar longe da ação?

28 fev 2023, 12:26 - atualizado em 28 fev 2023, 12:26
Vale, ações
Ação da Vale caminha para fechar fevereiro com perdas de 10% (Imagem: Bloomberg)

As ações da Vale (VALE3) caminham para encerrar fevereiro com uma forte correção. Pressionada pelo noticiário menos animado no exterior, a mineradora perdeu 10% na Bolsa desde o início do mês.

Foram sucessivos pregões seguidos de queda ao longo do período, em meio a restrições de negociações nos mercados de minério de ferro na China e com temores persistentes envolvendo o ritmo de recuperação do país, uma vez que as perspectivas para a demanda da segunda maior economia do mundo ainda não se concretizaram.

Aos poucos, agentes do mercado começaram a revisar para baixo as estimativas para o minério de ferro. Algumas instituições avaliam que, nos patamares atuais, a matéria-prima siderúrgica é negociada a preços “insustentáveis”. O Bank of America é uma das casas que prevê a proximidade da queda, apesar de acreditar que a sazonalidade pode dar suporte aos preços no curto prazo.

Queda à vista

Na avaliação do banco americano, os preços do minério de ferro devem cair em direção à média projetada para 2023 de US$ 100 a tonelada, “especialmente no segundo semestre”.

Já a Genial Investimentos considera que existe certo nível de especulação em cima da curva de minério de ferro. Acima de US$ 110/tonelada, a curva não parece razoável, visto que a demanda das siderúrgicas chinesas não sustenta o nível dos preços, defende.

De fato, o recente rali da commodity foi tão acelerado que reguladores chineses mostraram preocupações com as mudanças de preços e avisaram que iam apertar a supervisão para conter o nível de especulação do mercado.

Com tais fatores pesando sobre o minério de ferro, as ações expostas à commodity têm sido penalizadas pelos mercados. Segundo Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed, a tendência é de que o movimento de correção continue.

Albuquerque avalia, a partir de análise técnica, que existe um descasamento entre a performance de preços do minério de ferro e a cotação da Vale.

“Quando a gente olha os topos da ação da Vale, eles estão praticamente nos mesmos níveis de preço. E os topos do minério de ferro não; estão cada vez mais baixos. Se a gente olhar pelo gráfico semanal, é como se o padrão de preço da Vale estivesse formando um triângulo ascendente, que é um padrão de continuidade de alta. Já o minério de ferro parece estar formando um padrão de triângulo descendente, que é baixista”, explica.

“Existe uma contradição na movimentação dos preços entre o minério de ferro e a cotação da empresa. Isso me deixa apreensivo no curto prazo e, por isso, acho que a tendência é de que a correção continue”, completa o analista.

Vale em bom ponto de entrada?

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, avalia que, embora exista o peso positivo dos estímulos injetados por parte do governo chinês em setores-chave da economia, mercados como os de construção civil e infraestrutura ainda enfrentam gargalos que impedem uma retomada mais forte do país.

“O que temos visto agora é uma acomodação das estimativas”, afirma Arbetman.

Na avaliação do analista, considerando os preços atuais negociados pela Vale hoje, de R$ 85-90, e os preços de minério de ferro esperados para frente, a ação da mineradora está mais do que precificada – mesmo com uma nova distribuição robusta de dividendos marcada para março.

De acordo com Arbetman, a cotação atual da Vale reflete a dicotomia de uma expectativa de retomada da economia chinesa e os gargalos que impedem a consumação dessa expectativa. Embora não veja motivos para o papel da companhia voltar às mínimas de 2022, na faixa dos R$ 60, o analista acredita que a faixa dos R$ 80-90 reflete bem a dinâmica atual.

Considerando os múltiplos justos nos patamares atuais, a Ativa rebaixou recentemente a recomendação da Vale de “compra” para “neutro”.

Em termos de fundamentos, Vale é uma empresa excelente, defende analista (Imagem: Reuters/Washington Alves)

Pela tendência observada para o curto/médio prazo, o analista da Quantzed acredita que a ação da Vale pode ficar mais barata. A isso, ele menciona a falta de sinais convictos de alta do minério de ferro e a queda no lucro da empresa.

“Mas entendo que essa decisão [de comprar ou não a ação] é muito difícil de tomar. Se a gente olhar pelo lado dos fundamentos, para o longo prazo, a empresa tem números excelentes”, pondera Albuquerque.

Ainda a melhor escolha do setor

Albuquerque reforça que, em termos de fundamentos, a Vale é uma empresa excelente. O analista destaca a posição dominante da companhia no mercado global e seu pouco nível de endividamento, com grau de alavancagem baixa e entregando dividend yield (rendimento do dividendo) de quase 9% ao ano. E ainda sendo negociada a 4 vezes o lucro, acrescenta.

“Dá medo de ficar esperando a ação cair. Mas vai cair até onde, com a empresa negociada a 4 vezes?”, questiona o analista da Quantzed.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, destaca que a Vale, no Brasil, é o principal player quando se trata de qualidade, eficiência, gestão e dividendos.

“Um verdadeiro competidor de nível global, que só encontra pares internacionais como a Rio Tinto, que ainda assim fica ‘atrás’ da Vale”, defende.

Alves diz que, apesar de o preço da ação parecer caro, a Vale consegue entregar uma eficiência que poucas empresas do setor conseguem.

Para a Ativa, dois fatores lançam a Vale como a principal ação do setor: a exposição ao minério de ferro, que tem se sobressaído em relação à siderurgia e é “fonte de geração de caixa forte”, e os investimentos na divisão de metais básicos, que trazem uma “opcionalidade” à tese.

Segundo Arbetman, o investidor encontra na Vale o melhor de dois mundos: um case tanto de valor (operação de minério de ferro consolidada) quanto de crescimento (cobre e níquel).

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
diana.cheng@moneytimes.com.br
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.