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Alta da Selic pode não ser suficiente para sustentar a atratividade do real

04 mar 2021, 15:42 - atualizado em 04 mar 2021, 15:42
Dolar, Real
O dólar se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes (Imagem: Reuters)

O dólar pode ter pouco alívio com uma esperada elevação da Selic no dia 17, se os investidores não dissiparem suas incertezas fiscais e se não houver melhora também na pandemia, dois fatores que têm piorado o cenário do Brasil.

Embora uma alta de 0,50 pp, como está majoritariamente precificado na curva de juros, possa teoricamente melhorar a atratividade da moeda, analistas dizem que isso pode não ser suficiente. Mesmo um aperto mais agressivo faria pouco para resgatar o real, dizem alguns.

Uma amostra de quanto o fiscal está por trás da alta do dólar foi vista nesta quarta-feira, quando a cotação cedeu rapidamente de R$ 5,75 para R$ 5,63 após o presidente da Câmara, Arthur Lira, descartar riscos ao teto de gastos na votação da PEC Emergencial — depois aprovada em dois turnos no Senado. Um resultado que o BC não conseguiu alcançar mesmo com dois leilões de swap cambial no mesmo dia.

“Podemos ver um alívio no câmbio se for aprovada a PEC com os gatilhos e se o BC elevar os juros para lidar com o problema da inflação”, diz Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil. Uma coisa sem a outra também não vai adiantar. “Se resolver o problema fiscal, a gente ainda tem um problema de inflação e de juro muito baixo, que atrapalha o câmbio, e também se elevar o juro e não resolver o problema fiscal, o mercado vai começar a colocar em questão a dominância fiscal e a sustentabilidade da dívida.”

O dólar se valorizou nos últimos dias, com o real tendo o pior desempenho entre as moedas emergentes, enquanto a precificação de alta da Selic saltou da faixa de 40 pontos-base para a casa dos 65 pontos, indicando chances marginalmente maiores de o Banco Central elevar o juro em 0,75 pp – no que seria o maior aumento de taxas em mais de uma década.

“Em tempos normais, o esperado aumento de taxa de 50 a 75 pontos-base daria ao real alguma tração, mas estes não são tempos normais”, disse Win Thin, estrategista da Brown Brothers Harriman. “O sentimento sobre o Brasil mudou drasticamente e será difícil reverter isso tão cedo, especialmente porque a pandemia continua a grassar.”

A precificação marginal de alta de 0,75 pp reflete risco maior pela deterioração da discussão sobre o fiscal, segundo Solange Srour. Já uma alta de apenas 0,25 ponto seria muito mal-acolhida pelo mercado, mesmo em um cenário em que a PEC Emergencial esteja encaminhada.

As altas do dólar e dos juros futuros têm uma fonte comum, que é a incerteza fiscal, mas isso não significa que o BC vai elevar a Selic em 0,75 ponto para segurar o câmbio, diz Rachel de Sá, analista de macroeconomia da XP Investimentos. “O objetivo do BC não é controlar o dólar, e sim a inflação. O câmbio não tem teto.”

As perdas recentes dos ativos brasileiros ainda foram ampliadas pelos sinais de maior intervencionismo do governo brasileiro, realçados pela troca de comando na Petrobras, e pela alta dos rendimentos dos títulos no exterior.

Para a alta do juro ter impacto no dólar, o BC teria que elevar a taxa o dobro da elevação já precificada de 0,50 pp, diz Italo Abucater, gerente da mesa de câmbio da Tullett Prebon. Provavelmente o BC elevará os juros de forma mais lenta, o que dará espaço para o dólar continuar subindo, diz ele.

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