Política

Análise: escolha de novo comandante indica que Exército não se envolverá na política

31 mar 2021, 21:25 - atualizado em 31 mar 2021, 21:25
Novos comandantes das Forças Armadas, em Brasília
Novos comandantes das Forças Armadas, em Brasília (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O presidente Jair Bolsonaro não obteve o controle das Forças Armadas que pretendia ao trocar o ministro da Defesa, uma vez que se viu forçado a nomear para o comando do Exército o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que defende a mesma linha adotada por seu antecessor no cargo, na avaliação de analistas.

Se por um lado o presidente conquistou uma vitória ao demitir o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, na segunda-feira, e colocar Walter Braga Netto no lugar, Bolsonaro acabou sendo levado a nomear Oliveira, que pode ser “até mais rigoroso” do que o antecessor Edson Pujol com relação à separação entre Forças Armadas e política.

Pujol desagradava o presidente justamente por recusar um alinhamento da cúpula militar com o governo.

“A nomeação foi uma vitória dos militares, ou pelo menos do generalato dos militares, e uma derrota para Jair Bolsonaro. É claro que a gente tem que ver como isso vai acontecer daqui para frente, mas o novo comandante parece seguir aquilo que o Pujol estava fazendo”, avaliou o professor Rafael Alcadipani, da Fundação Getulio Vargas e também membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Se bobear, eu acho que ele é até mais rigoroso do que o Pujol com relação a essa separação entre Forças Armadas e política e mostra que o presidente não vai ter um títere a sua disposição no Exército”, acrescentou. “O Exército está reagindo como uma força de Estado”.

O novo comandante do Exército, até então chefe do departamento pessoal da Força, defendeu em entrevista ao jornal Correio Braziliense, no fim de semana, as medidas sanitárias tomadas entre os militares, seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo o distanciamento, testagem em larga escala e o uso de máscaras, temas que são alvos de críticas de Bolsonaro.

Almir Garnier, do Exército, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, e da Força Aérea, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior
O novo comandante do Exército defendeu em as medidas sanitárias, seguindo as diretrizes da OMS (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Oliveira integrava lista de nomes selecionados pelo critério de antiguidade na Força.

Na avaliação do consultor político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, Bolsonaro fez valer sua vontade ao trocar o ministro da Defesa e exonerar o então comandante do Exército, mas entendeu, no novo cenário, que não poderia esticar a corda ao ponto de impor um nome em substituição a Pujol.

“Me parece que havia uma tentativa de queda-de-braço do presidente com o Exército como um todo. Essa queda-de-braço não foi vencida”, disse ele à Reuters.

Souza destacou que o presidente teve de se ater à lista de antiguidade oferecida para a escolha dos comandantes, e lembrou que ele não seguiu tradição semelhante quando escolheu Augusto Aras –nome fora de lista tríplice– para a chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Jair Bolsonaro
Souza destacou que o presidente teve de se ater à lista de antiguidade oferecida para a escolha dos comandantes (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

“Acho que se ele tivesse a oportunidade de impor um nome, ele o faria. Mas não teve”, afirmou.

Bolsonaro não apenas acatou o nome dos militares, como posou em foto posteriormente publicada em redes sociais com o ministro e os novos comandantes.

Braga Netto anunciou ainda nesta quarta o almirante Almir Garnier, que até então ocupava a Secretaria-Geral do Ministério da Defesa, para o comando da Marinha, e o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, comandante do Comando-Geral de Apoio da FAB, para a Força Aérea.

Missão

Alcadipani, da FGV, lembrou que os militares mantêm diversos cargos no Executivo, e justamente por isso podem se sentir pressionados a resgatar a imagem e a reputação da instituição já bastante atrelada a um governo criticado por sua gestão, principalmente a relacionada à pandemia.

Por muito tempo foi um militar, o general Eduardo Pazuello, quem comandou o criticado Ministério da Saúde, o que pode ter sido um dos motivos para a queda-de-braço e rejeição das Forças Armadas a um maior envolvimento político.

Não à toa, o novo ministro da Defesa reforçou, no discurso em que anunciou os comandantes, que as Forças Armadas se mantêm fieis a seus compromissos constitucionais, como a garantia da democracia.

“Os militares não faltaram no passado e não faltarão sempre que o país precisar. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os Poderes constitucionais e as liberdades democráticas”, disse o ministro da Defesa.

“Neste dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo”.

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