Economia

Aposta de Wall Street para China em 2022 já está dando errado

28 jan 2022, 21:24 - atualizado em 28 jan 2022, 21:24
No mercado de crédito, a crise já contagia algumas das incorporadoras imobiliárias mais robustas (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Os mercados financeiros da China iam tão mal que praticamente todo mundo em Wall Street dizia que as ações e títulos do país só poderiam subir.

Essa aposta não deu tão certo. As bolsas do continente entraram em território pessimista (bear market, no jargão do mercado) pela primeira vez desde a guerra comercial iniciada sob o ex-presidente americano Donald Trump.

Em Hong Kong, o mercado acionário teve sua pior semana em cinco meses, com intensa movimentação de investidores que fazem vendas a descoberto.

No mercado de crédito, a crise já contagia algumas das incorporadoras imobiliárias mais robustas.

Ativos outrora resilientes, como a moeda chinesa e os títulos públicos, não são mais imunes e o yuan enfrenta em sua fase mais volátil desde agosto.

Ainda é janeiro, mas perdas cada vez maiores estão testando a capacidade das autoridades em Pequim de apoiar os mercados, mesmo após a promessa da agência reguladora de valores mobiliários de impedir volatilidade “com firmeza”.

Em Wall Street, a situação surpreende quem esperava que medidas de flexibilização pelo governo chinês seriam o catalisador necessário para a recuperação dos ativos do país. As autoridades já baixaram juros e se comprometeram a fazer mais para apoiar a economia.

Wall Street
A reabertura foi tão brutal que negócios com mais de 1.000 ações foram paralisados (Imagem: REUTERS/Carlo Allegri)

O desconforto de Pequim com a queda do mercado acionário já desencadeou medidas visíveis de apoio — incluindo artigos de primeira página na imprensa estatal pedindo calma e grandes fundos mútuos prometendo comprar seus próprios produtos focados em ações.

O banco central acelerou as injeções de liquidez nos últimos dias para ajudar as instituições financeiras durante o feriado prolongado do Ano Novo Lunar, quando costuma acontecer um enxugamento.

Intervenções mais direcionadas podem acontecer porque o Partido Comunista prioriza estabilidade antes dos Jogos Olímpicos de Inverno e durante os últimos meses do segundo mandato do presidente Xi Jinping.

“O consenso é que haverá apoio para a economia e os mercados chineses  e isso faz sentido para nós”, disse Paul Gambles, cofundador e sócio gestor da MBMG Group, em entrevista à Bloomberg TV na sexta-feira. “Mas entender os mercados chineses? Essa é uma tarefa difícil. É difícil para qualquer um.”

Para os investidores, ficar comprado em ativos chineses durante um feriado prolongado pode ser perigoso. Em 2020, os mercados do país foram fechados quando a pandemia de Covid-19 se espalhou a partir de Wuhan.

A reabertura foi tão brutal que negócios com mais de 1.000 ações foram paralisados. Em 2019, houve reação semelhante quando postagens de Trump no Twitter sinalizaram uma escalada na guerra comercial com os EUA.

China
Ainda é janeiro, mas perdas cada vez maiores estão testando a capacidade das autoridades em Pequim de apoiar os mercados (Imagem: Pixabay)

Os mercados do continente estarão fechados durante toda a próxima semana.

Há razões de sobra para cautela. A estratégia de tolerância zero com a Covid está quase no limite. Ordens de lockdown em cidades inteiras podem abalar o gasto do consumidor durante a alta temporada.

A desaceleração do mercado imobiliário, que representa cerca de um quarto do PIB, está longe de se resolver.

No exterior, a retirada rápida de estímulos por alguns países pode prejudicar as exportações, que foram fator determinante para o crescimento econômico da China nos últimos dois anos.

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