Economia

Argentina: O que acontece com a Bolsa do país com juros beirando 100%?

16 maio 2023, 18:12 - atualizado em 16 maio 2023, 18:12
Argentina Câmbio
De mal a pior: Argentina tem terceiro mês de inflação acima dos 100%.  (Imagem: Unsplash/Angelica Reyes)

A Argentina está mergulhada em uma crise de hiperinflação. Em abril, o índice de preços ao consumidor disparou 8,4%, superando — e muito — o avanço dos preços em outros países com tendências inflacionárias descontroladas, como Chile e Venezuela.

Com isso, o país platino completa o terceiro mês consecutivo com inflação anual acima dos 100%, sem a perspectiva que o mês de maio traga uma notícia diferente.

Na tentativa de conter a catástrofe ao custo de vida da população, o governo de Alberto Fernández anunciou um pacote emergencial de medidas econômicas. Entre elas, está um aumento da taxa de juros para 97% ao ano e intervenção direta do Banco Central argentino no câmbio do país.

Se a perspectiva de um juros a três dígitos é suficiente para aterrorizar a economia doméstica, um setor em específico parece não ter esboçado uma reação tão enérgica. Trata-se do mercado de capitais.

Apesar  da gravidade da situação, o índice S&P Merval (MERV) da Bolsa de Buenos Aires fechou o pregão de ontem — data do anúncio do pacote — com queda inferior a 1,0%. Hoje, o recuo do MERV era cerca de 0,30%.

A razão da “desindexação” do índice acionário à realidade do país é simples: o preço dos ativos da Bolsa argentina são cotados na divisa norte-americana, uma consequência da falta de confiança do mercado em relação à moeda local.

A dolarização da economia vem sendo um processo que ocorre desde o fim da década da 1980. Mas tomou novo fôlego depois dos anos 2000, quando o peso argentino começou uma desvalorização de quase 99% no câmbio oficial.

Bolsa da Argentina foi campeã em 2022, mas isso não quer dizer muito

Usando o dólar por parâmetro, a Bolsa argentina foi o mercado que mais avançou em 2022. O ganho do índice acionário foi de 30,8%, chegando aos 543 pontos.

O rali na Bolsa argentina se deu através de dois fatores que também acompanharam outros mercados emergente em 2022. Foram eles: valuation descontado dos ativos e alta do preço das commodities energéticas e agrícolas no mercado internacional. 

Mas, desde a virada do ano, o fôlego da Bolsa esgotou, à medida que o país enfrentou a pior seca dos últimos 60 anos. O evento climático extremo comprometeu severamente as expectativas de produção do setor agrícola argentino, que respondem por um volume considerável da negociação em Bolsa.

Não à toa, o índice MERV voltou a uma queda que supera 40% no ano, contra alta de 1,71% do Ibovespa. Usando de comparação a janela dos últimos 40 anos, o desempenho atual do índice argentino é mais de 70% inferior a média histórica.

Agora, com o novo pacote de medidas drásticas tomando efeito, Marco Saravalle, sócio-fundador da SaraInvest, analisa que o ambiente deve se tornar ainda mais árido para a geração de negócios.

Isso porque, embora o retorno sobre o empréstimo de capital seja alto, o que poderia facilitar a migração de investidores estrangeiros, o esfacelamento da base cambial e a pressão de custos acabam neutralizando os retornos.

Como explica Saravalle, um dos fatores que catalisaram a atual situação da Argentina foi o abandono temporário das metas de inflação pelo Banco Central. A medida logo desancorou as expectativas de preço no país, algo a que o governo também demorou a responder.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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