Política

Atentado contra Cristina Kirchner acende alerta em campanhas de Lula e Bolsonaro

02 set 2022, 17:47 - atualizado em 02 set 2022, 17:47
Lula eleições
Bolsonaro só comentou o atentado quando questionado por jornalistas no Rio Grande do Sul no fim da manha desta sexta (Imagem: TV Band)

Os principais candidatos à Presidência da República repudiaram nesta sexta-feira a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, num momento em que a polarização política imprime tensão a uma campanha eleitoral brasileira já marcada por episódios de violência.

Nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida ao Planalto, e do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), o atentado frustrado provocou conversas internas de suas equipes, que já vinham lidando com reforço das medidas de segurança nos últimos meses.

“Causou preocupação, sim, foi conversado na campanha. O ex-presidente tem um esquema muito organizado de segurança, tanto da PF (Polícia Federal) e também o sistema dele, que vão analisar a situação”, disse à Reuters o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos subcordenadores da campanha petista.

No QG de Bolsonaro, segundo uma fonte, a tentativa de assassinato da vice-presidente argentina também foi pauta. No comitê, a avaliação é que o assunto entrará nas preocupações da campanha e vai gerar um debate no reforço da segurança do presidente, conduzida principalmente pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Outro ponto de atenção, segundo a fonte da campanha bolsonarista, é pelo episódio violento envolver um brasileiro o suspeito detido pelo atentado nasceu em São Paulo.

Crítico frequente de Cristina Kirchner, Bolsonaro só comentou o atentado quando questionado por jornalistas no Rio Grande do Sul no fim da manha desta sexta.

Disse lamentar o ocorrido, mas reclamou do que considerou falta de solidariedade da esquerda quando sofreu uma facada na campanha de 2018  apesar de, na verdade, seus adversários políticos terem condenado o ataque à época.

“Eu lamento, é um risco que todo mundo corre, eu quase morri em 2018 e não vi a esquerda se preocupando comigo, mas tudo bem”, disse Bolsonaro em Esteio, na Grande Porto Alegre. “Apesar de não ter nenhuma simpatia por ela, não desejo isso para ela.”

Lula
O tema da violência política, especialmente no ambiente digital mas não só, tem povoado a campanha eleitoral brasileira (Imagem: Flickr/ Lula Oficial/Ricardo Stuckert)

Lula, um aliado político regional de Cristina Kirchner, fez uma publicação no Twitter em solidariedade ainda na noite de quinta-feira. “Que o autor sofra todas as consequências legais. Esta violência e ódio político que vêm sendo estimulados por alguns é uma ameaça à democracia na nossa região”, afirmou.

Ciro Gomes (PDT), em terceiro nas pesquisas, e Simone Tebet (MDB), em quarto, usaram a condenação ao episódio para repudiar a violência política também no Brasil.

“Para nós, fica a lição de onde pode chegar o radicalismo cego, e como polarizações odientas podem armar braços de loucos radicais ou de radicais loucos. Ainda há tempo de salvar o Brasil de uma grande tragédia gerada pelo ódio. Paz!”, escreveu Ciro em sua rede social.

Violência Política

Neste ano, o assassinato a tiros em julho de um petista por um apoiador de Bolsonaro inflamou os temores de mais violência política no Brasil. Mesmo antes da morte do correligionário do PT, Lula já vinha aumentando as precauções com sua segurança, com uso de colete à prova de balas em alguns eventos.

Em sua conversa com jornalistas nesta sexta, Bolsonaro se queixou dizendo que “já teve gente querendo botar na minha conta este problema”, em alusão ao atentado contra Cristina.

O presidente é apontado pelos críticos como um estimulador de discurso de ódio e de intolerância política e religiosa, ao dizer, por exemplo, que sua campanha é uma luta “do bem contra o mal”.

Jair Bolsonaro
No QG de Bolsonaro, segundo uma fonte, a tentativa de assassinato da vice-presidente argentina também foi pauta (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

O tema da violência política, especialmente no ambiente digital mas não só, tem povoado a campanha eleitoral brasileira.

Em julho, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ordenou, a pedido da PF, a prisão temporária em Belo Horizonte de um homem que defendeu em redes sociais que Lula e o deputado Marcelo Freixo (PSB), candidato ao governo do Rio, além de ministros do próprio Supremo, fossem “caçados”.

Há ainda também outros termômetros da tensão. Só no primeiro semestre de 2022, as denúncias de crimes que envolvem discurso de ódio na internet cresceram 67,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Safernet, ONG de proteção dos direitos humanos no ambiente digital.

A atenção ao tema se intensifica quando se aproximam as comemorações do 7 de Setembro, na semana que vem, para as quais Bolsonaro convocou apoiadores a marchar “pela última vez” em defesa de suas propostas, mesclando um movimento de demonstração de força e mobilização de sua campanha com a celebração do Bicentenário da Independência.

Para além da ameaça de violência política, a campanha eleitoral brasileira também registra outros pontos de preocupação com segurança.

Nesta sexta, a assessoria de imprensa do governo do Estado de São Paulo citou em nota ameaças que o governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), vem sofrendo e disse que a Casa Militar do governo paulista cuida da segurança do governador, e afirmando que não dará mais detalhes sobre os procedimentos.

De acordo com informações veiculadas na imprensa, ameaças a Garcia vindas da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) foram detectadas em interceptações telefônicas e, desde então, ele passou a usar colete à prova de bala e a andar com escolta policial.

As ameaças seriam uma reação ao discurso mais duro em relação à criminalidade adotado pelo tucano na campanha eleitoral, segundo a imprensa.

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