Bradesco (BBDC4) entrega e ação dispara até 16%; os dias de cão acabaram? Analistas respondem

O investidor de Bradesco (BBDC4) amanheceu feliz da vida nesta quinta-feira (8) após entrega de resultados do primeiro trimestre. Na noite da última quarta, o banco anunciou lucro de quase R$ 6 bilhões, com alta de 40% em relação ao ano passado.
A reação foi imediata. No after-market de Nova York, as ADRs dispararam 5%, após fecharem em queda de 3%. Mais cedo, saltavam mais de 10%. Aqui no Brasil, o papel chegou a entrar em leilão. Por volta das 12h24, subiam 16,56%.
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De acordo com os analistas, a alta reflete um ajuste, já que parte do mercado esperava piora dos números, ou pelo menos estabilidade.
A ação caiu 4% nas quatro sessões anteriores aos números. Agora, os mercados refazem as contas e já veem alguma revisão das projeções, consideradas conservadoras.
Apesar disso, o CEO, Marcelo Noronha, continua cauteloso. Na teleconferência com analistas, reafirmou que a melhora do banco será ‘passo a passo’, como tem sempre afirma nas apresentações.
“Não se trabalha com a expectativa de surpresas arrebatadoras. A perspectiva é de um crescimento gradual, com expectativa de um resultado superior ao cenário intermediário”, afirmou.
Dias de cão
“Os dias de cão acabaram?”, escreveu a equipe do Citi no título do relatório obtido pela Reuters sobre os números, ainda na véspera, poucas horas após a divulgação do balanço, que considerou positivo.
“Ao contrário dos trimestres anteriores, este é talvez o primeiro trimestre em que a tendência de receita orgânica sugere uma melhora estrutural, sem saltos relevantes em nenhuma das linhas restantes”, afirmaram Gustavo Schroden e equipe.
Os analistas do Citi ponderaram que o Bradesco continua com desafios pela frente, já que as receitas e despesas não decorrentes de juros devem continuar pressionando os resultados.
“Mas reconhecemos que os esforços do banco estão começando a dar frutos com um perfil de risco mais equilibrado”, afirmaram. “No geral, uma leitura construtiva para a recuperação e credibilidade do Bradesco”, acrescentaram.
O Safra também observou métricas de qualidade de ativos limpas, apesar das novas normas contábeis, e tendências positivas de receita para 2025, confirmando o otimismo da gestão.
“Os resultados podem reforçar a confiança nas metas de guidance e desencadear revisões positivas de lucro no mercado”.
Para a XP, que considerou os números fortes, o que impulsionou o lucro foi a NII (margem financeira) de clientes, que cresceu 15%, refletindo uma originação de empréstimos mais forte com um mix mais saudável e custos de financiamento mais baixos.
A casa lembra ainda que as receitas de seguros também tiveram um bom desempenho, aumentando 30% no ano. Tudo isso com a qualidade dos ativos sob controle.
A inadimplência, importante termômetro para medir a capacidade dos clientes de honrarem suas dívidas, se manteve estável para acima de 90 dias, a 4,1%, e com queda de 0,9 ponto percentual no ano.
Para tanto, as despesas com PDD, reserva de capital que bancos fazem para lidar em casos de inadimplência, expandida recuaram 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado, a R$ 7 bilhões.
Guidance e ROE: Vem mudança por aí?
Como o Bradesco cresceu acima do esperado, é possível haver uma desaceleração pela frente, ao menos que mude as projeções.
A carteira de crédito, por exemplo, subiu 13%, ultrapassando a marca do trilhão, contra projeção de 4% a 8% no ano, assim como a receita, que subiu 10,2%, ante a faixa de 5% a 9%.
Para a Genial, o desempenho acima das expectativas reforça a tendência e abre espaço para revisões positivas nas projeções de lucro ao longo dos próximos trimestres.
Já a XP afirma que o banco começou o ano em alta, com várias linhas acima das faixas do guidance, embora o Bradesco tenha reafirmado seu guidance para o ano inteiro, “o que pode sugerir alguma acomodação nos próximos trimestres”.
Na visão do BTG, o banco provavelmente se aproximará do limite superior de suas projeções – especialmente considerando as expectativas de uma alíquota de imposto mais baixa.
O CEO diz acreditar “com firmeza” que o crescimento da carteira de crédito está mais próximo da banda superior do guidance — algo entre 6% e 8%.
Já o ROE (retorno sobre o capital próprio) subiu forte, disparando 4,2% no ano e rompendo a casa dos 14%.
“Acreditamos que a rentabilidade do Bradesco pode estar finalmente se aproximando do seu custo de capital — estimado em torno de 15% a 16% — em pelo menos um trimestre de 2025”, diz a Genial.
Porém, Noronha evitou dar um prazo para que o ROE supere esta barreira.
O que fazer com Bradesco?
Mesmo com euforia e com os números bons, o resultado do Bradesco não foi suficiente para mudar as recomendações, que no geral continuam céticas.
O BTG diz os demais números apresentaram resultados em linha ou melhores do que o esperado.
“Dito isso, destacamos que o Bradesco está passando por uma transformação significativa. E, dado o porte e a complexidade do banco, é provável que este seja um processo gradual de longo prazo”.
Ainda segundo os analistas, tirar conclusões sólidas com base em um único trimestre pode ser enganoso – “algo que vimos acontecer mais de uma vez nos últimos anos”.
No ano passado, por exemplo, o segundo trimestre do Bradesco foi suficiente para impulsionar a ação, com alta de 30%. Tudo levava a crer que o banco teria um ano de brilhar os olhos.
No entanto, a perspectiva de juros mais altos jogou água na recuperação, com a Selic indo a 14,75%, o maior patamar desde o período da presidente Dilma Rousseff.
Já o BB Investimentos reiterou recomendação de compra. Para a casa, o salto quantitativo do Bradesco neste trimestre marca uma virada mais contundente para o banco, muito parecido com que se viu no Santander.
“Na balança, temos de um lado um conjunto de vetores que sugerem uma retomada mais visível da rentabilidade por meio de um mix mais favorável, carteira que se expande a um bom ritmo, conjunto de despesas core controlados, e o mais importante: indícios de que a reestruturação custosa”.
Já do outro lado temos pela frente um cenário em que no curto prazo a seletividade deve ser a tônica setorial, e é provável que vejamos inclusive uma elevação da inadimplência. Ainda que nenhum banco sinalize nada próximo de uma possível crise, a palavra de ordem é cautela.
JPMorgan e Citi mantiveram suas classificações neutra e neutra/alto risco para os papéis.