‘Cannabis medicinal está apenas começando no Brasil’, diz José Bacellar, da Verdemed

José Bacellar é fundador e CEO da Verdemed, farmacêutica que oferece produtos canabinoides já aprovados e em prospecção para toda a América Latina e para todos os países nos quais as jurisdições já estão legalizadas para a comercialização de cannabis medicinal.

Na entrevista a seguir, o executivo formado pela Universidade de São Paulo (USP), comenta o potencial de mercado da cannabis medicinal no Brasil, os desafios do acesso a este tipo de medicamento, além de alguns dos planos de negócio da Verdemed. Confira:

Qual é o potencial de mercado que a cannabis medicinal representa no Brasil?

O potencial é muito grande, estimado em mais de R$ 5 bilhões de vendas no varejo. Os dados de mercado de dezembro de 2022 indicam que somente a Prati Donaduzzi, empresa paranaense pioneira no segmento, já ultrapassou R$100 milhões/ano de faturamento. Ela está praticamente sozinha com mais de 95% do mercado.

Em 2023, grandes empresas farmacêuticas como a Biolab, Eurofarma e Hypera-Mantecorp devem expandir suas atividades e o mercado de produtos derivados de cannabis pode triplicar. Outras empresas especializadas, como a Verdemed, iniciaram suas atividades ano passado e também tendem a confirmar um crescimento nas vendas.

Os produtos derivados de cannabis, como terapia adjuntiva aos tratamentos de ansiedade, distúrbios do sono, e dores crônicas, como as fibromialgias, são os mais relevantes. São as indicações mais prescritas pelos médicos no Brasil. Estas enfermidades atingem milhões de brasileiros e a oferta dos produtos nas farmácias tornará mais fácil o acesso aos tratamentos.

O que impede que brasileiros tenham acesso direto a produtos à base de canabidiol? E por que eles são tão caros?

O tema do acesso aos medicamentos é crítico. Os produtos são caros porque a demanda está apenas começando, e enquanto a escala de produção não aumentar ficará difícil fazer reduções significativas de preço. No entanto, nos próximos dois ou três anos, a partir da produção local e com a expansão da demanda, veremos os preços caírem.

Entretanto, há outra razão para os preços elevados: todos os produtos derivados de cannabis no Brasil possuem grau farmacêutico, segundo a Anvisa. A pesquisa e desenvolvimento dos produtos, a preparação de dossiers para análise e registro pela Anvisa e, posteriormente, a produção de plantas farmacêuticas com boas práticas de fabricação, tornam os custos muito mais elevados do que os simples extratos vegetais hoje importados diretamente pelos pacientes.

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As empresas terão ainda de desenvolver pesquisas clínicas para demonstrar a eficácia terapêutica dos produtos. Estes estudos, como é sabido, possuem um tempo de execução longo e custo elevado. A qualidade dos produtos que chegam nas farmácias brasileiras torna os preços deles estruturalmente mais altos do que extratos de planta domésticos ou produzidos por associações, por exemplo.

Por fim, o Estado, os três níveis de governo no Brasil, precisam introduzir os produtos derivados na lista de compra pelo SUS. Hoje existe uma enorme demanda reprimida por causa dos preços altos e da dificuldade de ações judiciais pelos pacientes mais carentes para terem acesso aos produtos.

A partir da oferta pelo Estado, veremos compras em grande escala, o fim da judicialização e um aumento do acesso de modo ainda mais significativo. A cannabis medicinal está apenas começando no Brasil.

A VerdeMed tem mais de 10 produtos desenvolvidos, a maioria aguardando a aprovação da Anvisa. Quais são estes produtos e o que falta para eles estarem à venda no país?

O primeiro produto é o Canabidiol 50mg/ml em frascos de 30ml. Ele já está disponível nas lojas da Drogaria São Paulo e, em fevereiro, já poderá estar na Rede Panvel e nas lojas da Rede Raia-Drogasil. O Canabidiol 50mg/ml também está disponível em farmácias especializadas, em atendimento remoto, como a Cannect.Life e a Medicina.In. O foco de atuação é na Grande São Paulo, por enquanto.

A partir de março, a Verdemed lançará o segundo produto, o Canabidiol 23.75mg/ml em frascos de 10ml. Os planos são de ampliar para mais duas redes de varejo físicas – cobrindo MG, SP, RJ e o Sul do Brasil – e incluir mais três farmácias especializadas para atendimento remoto. A Verdemed também ampliará a equipe de promoção médica para dar suporte às prescrições médicas e à venda do produto pelas farmácias.

A previsão de chegada dos demais produtos é para o meio deste ano, a partir de junho ou julho, pois ainda aguardam a aprovação da Anvisa.