Saúde

Casos de covid-19 devem permanecer altos no verão, segundo Fiocruz

16 out 2020, 19:30 - atualizado em 16 out 2020, 19:30
Coronavirus SP
O estudo destaca a necessidade do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (Imagem: Rovena Rosa/ Agência Brasil)

O número de mortes por covid-19 pode permanecer alto nos próximos meses, caso o cenário atual permaneça, de acordo com a edição especial do Boletim Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada hoje (16). O estudo mostra que apesar da leve tendência de queda desde setembro, o país ainda está em patamar elevado de casos e óbitos.

O Boletim mostra que a curva da evolução de casos e óbitos por covid-19 no Brasil apresentou, desde o início da pandemia, um padrão diferente de outros países. Enquanto em países europeus, por exemplo, o número de casos subiu rapidamente e, após atingir um pico, caiu vertiginosamente – agora, a região passa por uma segunda onda de contaminação – no Brasil, a subida foi mais lenta e a descida também está sendo, de acordo com o vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, Christovam Barcellos.

“O que não significa que estamos livres da pandemia, ela tende a diminuir em direção ao verão, mas ainda com número muito alto”, diz Barcellos.

“A Europa está começando a viver o inverno. Nós vamos começar a viver o verão, com números caindo, o que significa talvez que a transmissão da covid-19 terá um pouco tendência sazonal: vai ser mais intensa no inverno, como todas as gripes, e menos intensa no verão”.

De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrava, até ontem (15), mais de 5,1 milhões de casos confirmados e 152 mil mortes por covid-19. “A permanência da pandemia nos próximos meses pode acrescentar algumas dezenas de milhares de novos óbitos no país”, diz o Boletim da Fiocruz.

Cuidados

Barcellos ressalta que ainda não é possível descuidar das medidas de combate ao vírus. “Muita gente tem que sair de casa, seja para trabalhar, fazer compras, encontrar amigos. Devem, de qualquer maneira, evitar aglomerações. Estudos têm mostrado que situações que têm muita transmissão são lugares fechados, pessoas muito próximas, sem máscara”, diz.

O sistema de saúde também deve seguir alerta. “Tem que manter alguns leitos disponíveis nos hospitais e reforçar o que chamamos de atenção primária de saúde, reforçar a estratégia de saúde da família, clínica da família e vigilância em saúde, fazendo testes, identificando as pessoas com os sintomas iniciais”, acrescenta.

O estudo destaca a necessidade do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e diz que a avaliação da capacidade instalada no país para atender pacientes graves de covid-19 revelou as grandes desigualdades entre as regiões e a forte concentração de recursos voltados para o setor de saúde suplementar em áreas específicas.

De acordo com Barcellos, os cuidados não poderão ser abandonados nem mesmo quando houver uma vacina.

“Existem diversas doenças circulando que têm vacina. Sarampo tem vacina, mas infelizmente tem surto localizado de sarampo, ou porque as pessoas não vacinaram ou porque vacina não funcionou 100%. Quase nenhuma vacina funciona 100%, toma e nunca mais vai adoecer, isso não existe em quase nenhuma vacina”, diz.

A vacina contra a covid-19, segundo a publicação, deve ser considerada uma estratégia adicional e não ser entendida como única solução para o enfrentamento da pandemia. É importante ainda o acesso universal à ela.