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CEO da Petrobras não planeja deixar empresa por pressões de Bolsonaro

19 fev 2021, 9:45 - atualizado em 19 fev 2021, 10:52
Jair Bolsonaro
Bolsonaro anunciou ainda na noite de quinta-feira que vai zerar em definitivo os impostos federais sobre o gás de cozinha e por dois meses os que incidem sobre o diesel (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

O presidente da Petrobras (PETR4), Roberto Castello Branco, não pretende pedir demissão da companhia, apesar de pressões do presidente Jair Bolsonaro devido a questões relacionadas a aumentos dos combustíveis, disseram duas fontes com conhecimento direto do assunto à Reuters, nesta sexta-feira.

“Não vai ceder e não pretende sair”, disse uma das fontes, na condição de anonimato.

“Já houve um tempo em que o conselho (de administração da empresa) era pró-governo, e agora é independente”, acrescentou a fonte, argumentando que o CEO tem apoio para continuar na empresa.

Na véspera, Bolsonaro afirmou em transmissão pelas redes sociais que “obviamente” vai ter consequência a fala do presidente da Petrobras, que dias atrás havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da Petrobras.

O comentário do presidente foi feito após o anúncio na quinta-feira de que a empresa elevará em cerca de 15% o preço médio do diesel nas refinarias e em mais de 10% o da gasolina, a partir desta sexta-feira.

Bolsonaro anunciou ainda na noite de quinta-feira que vai zerar em definitivo os impostos federais sobre o gás de cozinha e por dois meses os que incidem sobre o diesel, neste caso, com o objetivo de “contrabalançar” o reajuste que considerou “excessivo” da Petrobras.

Em meio a uma alta dos preços do petróleo, o reajuste foi o segundo anunciado para ambos os combustíveis em fevereiro e depois de a petroleira estatal ter sofrido com temores do mercado sobre possíveis interferências políticas na sua prática de preços.

Após uma reunião convocada por Bolsonaro no início do mês para discutir combustíveis, Castello Branco disse que o presidente nunca interferiu em políticas de preços da empresa.

Desde então, a empresa tem buscado reforçar que sua política segue alinhada aos preços ao mercado internacional e é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras.

Apesar das queixas, Bolsonaro disse na véspera que não pode e “nem iria interferir na Petrobras”, acrescentando em seguida: “Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa, vai acontecer.”

A isenção de impostos é mais um dos acenos que o governo tem feito aos caminhoneiros, uma categoria que vem sendo contemplada com decisões favoráveis do presidente. Integrantes da categoria ameaçaram com uma greve no início do mês, mas o movimento não ganhou adesão.

Bolsonaro defendeu também na véspera novamente a aprovação de um projeto, enviado pelo governo ao Congresso na semana passada, que tem por objetivo reduzir a volatilidade na alíquota do ICMS que incide sobre combustíveis.

Também disse que o governo prepara um decreto para obrigar os postos de combustíveis a divulgar qual o percentual de custos de cada um dos tributos na composição do insumo para venda ao consumidor.

As ações da Petrobras abriram em queda, às 10:19 a ação PN caía 3,6%, enquanto o papel ON recuava 3,7%. O Ibovespa perdia 0,41%, a 118.710,75 pontos.

A decisão do aumento de preços da Petrobras, de outro lado, foi bem recebida pelo mercado, com especialistas dizendo que o reajuste levou os preços de volta ou próximos da paridade de importação, o que evitaria perdas para a companhia.

(Atualizada às 10h52)