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Chama o Max: Efeitos colaterais

28 ago 2020, 15:15 - atualizado em 28 ago 2020, 15:15
Max Bohm
“Todos os dias acordamos com alguma notícia de uma oferta sendo preparada”, diz o colunista

Amigos, preparem-se!

Teremos uma enxurrada de ofertas de ações a acontecer nos próximos meses. Veremos bilhões de reais, ávidos pelo capital dos investidores domésticos e estrangeiros.

Todos os dias acordamos com alguma notícia de uma oferta sendo preparada. Nesta sexta, foi a Petrobras (PETR4), que pretende vender 37,5% da sua participação na BR Distribuidora (BRDT3), o que, ao preço de hoje, daria algo em torno de R$ 9,5 bilhões.

O mercado está aquecido. No entanto, vejo isso como um copo meio cheio ou meio vazio.

Explico.

Sempre fui um defensor do desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, sendo muito vocal ao afirmar que mais empresas deveriam ver a listagem de suas ações como forma de captar recursos visando crescimento.

Estamos a anos-luz de distância dos EUA e da Europa. Temos menos empresas listadas que países bem menos expressivos, como Israel e Taiwan. Precisamos acelerar esse processo.

Queremos ver empresas de qualidade dos mais diferentes setores entrando na B3. Como é o caso da ótima Ambipar (AMBP3), que é líder de mercado em serviços de gestão ambiental e uma das minhas sugeridas na série Microcap Alert, da Empiricus.

Setores como agronegócio, energia renovável e tecnologia, por exemplo, ainda são muito pouco representativos na nossa Bolsa.

No cenário atual, com juros de 2% ao ano e uma economia combalida pelos efeitos da pandemia, realizar ofertas de ações pode ser o melhor caminho para reforçar o caixa e ter capacidade de ser mais agressivo em fusões e aquisições.

Apesar do forte baque com o coronavírus, em que a maioria das transações e negócios ficou suspensa por alguns meses, o ano de 2020 está sendo bem interessante quando analisamos o total de ofertas de ações.

No primeiro semestre de 2020 foram sete follow-ons (ofertas subsequentes de ações) e cinco IPOs (oferta pública inicial), com quase o dobro da participação de pessoas físicas em relação ao mesmo período de 2019.

Considerando o pipeline de empresas que virão à Bolsa em busca de capital, serão mais 30 companhias até o final do ano, pelo menos. Muitas empresas aproveitando a janela de oportunidade com o aumento de liquidez decorrente principalmente do crescimento expressivo do número de pessoas físicas na B3, em busca de maiores retornos para seus investimentos.

Esse é o lado bom de um mercado aquecido: uma B3 cada vez mais diversificada e aberta a novas empresas e públicos.

Por outro lado, podemos ver este momento como um copo meio vazio. A Bolsa brasileira está “pesada” e essa condição está diretamente ligada aos bilhões que serão levantados com as ofertas dos próximos meses.

Acompanhe meus cálculos.

A empresa de logística ferroviária Rumo (RAIL3) foi muito bem-sucedida dois dias atrás, quando captou R$ 6,4 bilhões.

O BNDES pretende vender sua participação restante na Vale (VALE3), isto é, 3,7% da composição acionária até o final do ano. Considerando o valor de mercado atual da Vale (R$ 321 bilhões), serão mais R$ 12 bilhões.

O IPO da Petz (PETZ3), já com demanda de mais de 4 vezes a oferta, pode girar em torno de R$ 3,3 bilhões, se a precificação sair no topo do intervalo.

Também nesta semana a siderúrgica CSN (CSNA3) anunciou que pretende realizar o IPO do seu braço de mineração e espera captar R$ 10 bilhões.

Só essas quatro operações somam mais de R$ 30 bilhões. Se adicionarmos a esse número os 30 IPOs ainda na fila para serem lançados até o final do ano (a uma média conservadora de R$ 1 bilhão por oferta) e mais a operação de R$ 9,5 bilhões da Petrobras, vendendo suas ações da BR Distribuidora, temos um total de R$ 70 bilhões até o final de 2020.

É muito dinheiro sendo jorrado na B3. Quase R$ 20 bilhões por mês. Isso vem dragando o volume da Bolsa, pois, para entrar nessas ofertas mais adiante, os investidores estão vendendo seus ativos hoje, principalmente blue chips como Itaú, Bradesco, Petrobras, Vale e Ambev.

Como essas empresas respondem por boa parte do Ibovespa, a consequência direta disso é uma Bolsa que vai ficar de lado, empacada neste patamar próximo a 100 mil pontos.

Este é o dilema da Bolsa atualmente. Estamos animados com o maior número de empresas chegando à B3, mas os bilhões de reais ofertados mostram um efeito perverso na liquidez e na performance do Ibovespa.

Metaforicamente, a Bolsa é o organismo. As ofertas secundárias e os IPOs são as vitaminas. Se ingerirmos uma “superdosagem”, podemos ter efeitos colaterais (performance do Ibovespa).

E o que fazer diante de um cenário como este?

A velha regrinha de sempre: investir em empresas de qualidade com valuation atrativo. Sejam novas ou as velhas de guerras em setores como bancos, shoppings e varejo, que ainda estão devendo em termos de desempenho este ano.

Cabe a nós torcermos para que o investidor estrangeiro se empolgue com o Brasil em breve e que haja injeção de capital suficiente para IPOs, follow-ons e para o Ibovespa retornar à sua máxima histórica.

Se Guedes e Bolsonaro se entenderem, eu acredito.

 

 

 

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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