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Chama o Max: O difícil é mais gostoso

29 jan 2021, 14:13 - atualizado em 09 mar 2021, 7:29
“Para você se tornar um investidor melhor, sua mão deve estar bem calejada e seu estômago terá que sofrer alguns apertos” diz o colunista

Meu pai sempre me ensinou que as coisas que são conquistadas com o suor do trabalho são bem mais valorizadas.

Tudo o que vem fácil e que não lhe custou esforço para atravessar obstáculo não tem o mesmo gostinho.

Concordo totalmente com isso. Quando você ganha um bem, você fica feliz, mas ele não terá um alto valor percebido por você.

Diferentemente de quando você consegue comprar um carro ou imóvel onde você tira dinheiro não sei de onde para dar uma entrada, ralando anos para pagar um financiamento, para que no final de toda esta maratona você possa falar para si próprio: eu consegui!

Já vivi isso e posso afirmar que o gosto do objetivo alcançado é muito mais saboroso.

Lições da vida que levo também para o mercado de ações.

Para você se tornar um investidor melhor, sua mão deve estar bem calejada e seu estômago terá que sofrer alguns apertos que às vezes farão você até perder o ar.

Recentemente, a B3 divulgou um estudo no qual foi feito um diagnóstico das 2 milhões de pessoas que entraram na Bolsa em 2019 e 2020. Hoje, já somos mais de 3,2 milhões de investidores que pretendem ou estão negociando ações.

O perfil médio da nova safra de investidores é jovem, com idade média próxima a 30 anos, sem filhos, com renda mensal de até R$ 5.000 e com trabalho em tempo integral.

A grande maioria ainda é formada por homens (74%), mas as mulheres estão se interessando mais por ações, já que hoje temos mais de 800 mil mulheres comprando e vendendo ações, quando em 2018 elas eram somente 180 mil.

Tudo isso é ótimo para o mercado financeiro, tornando-o cada vez mais democrático e acessível.

No entanto, o que tenho visto é que a maioria desses novos investidores está em busca de ganho rápido e fácil, mas sinto dizer que a Bolsa não funciona assim.

Veja o que aconteceu nos últimos IPOs por aqui. Algumas ações debutaram na Bolsa e subiram mais de 100% em poucos meses.

Bancos coordenadores e acionistas controladores precificaram mal as empresas nos IPOs? Claro que não.

Tenho percebido um fluxo vindo de fóruns de ações, o que, em alguns casos, transformam algumas altas em valorizações artificiais.

Fachada de loja da GameStop em Nova York
Nos últimos dias, ficamos surpresos com o que aconteceu com as ações da varejista americana GameSto (Imagem: REUTERS/ Nick Zieminski)

O que está acontecendo é que a ações estão se valorizando muitas vezes devido a uma dica do amigo, do assessor ou simplesmente porque todo mundo do fórum está comprando e a ação está subindo.

Cuidado! O movimento das ações deve sempre seguir os fundamentos daquela companhia. Em última instancia, ação sempre acompanha o crescimento do lucro da empresa.

Movimentos técnicos e fictícios geralmente são seguidos de quedas bruscas. Tudo que sobe sem motivo, cai também sem explicação, e isso pode machucar investidores de primeira viagem. São as famosas “bolhas” decorrentes do excesso de liquidez e uma enxurrada de informações pelas redes sociais sem critérios ou embasamento.

Isso não está acontecendo somente no Brasil. Nos últimos dias, ficamos surpresos com o que aconteceu com as ações da varejista americana GameStop e de outras companhias, como a rede de cinemas AMC e as fabricantes de celulares Blackberry e Nokia, colocando na parede vários fundos de investimento que estavam com posição vendida (short) nessas ações.

Sem qualquer fundamento, pessoas físicas se organizaram para puxar estes papéis que possuem como característica em comum negócios decadentes. Movimento manipulado e muito perigoso já que fizeram uso de opções de compra para alavancar os ganhos.

Tudo isso em busca de ganhos rápidos sem qualquer estudo que fundamentasse a compra dessas ações. Ganho em um dia, derrota em outro. Isso não costuma acabar bem.

Recado para o pessoal que está chegando agora na Bolsa. Eu tenho mais de 15 anos de mercado e já vi muita gente se dar mal com esta estratégia da dica esperta que está bombando, sem se dar o trabalho de entender e estudar aquilo em que você está investindo.

Pode ter certeza de que você não vai enriquecer com a dica do fórum. Para conseguir uma rentabilidade sustentável no longo prazo, você precisa de disciplina, curiosidade, estudo, leitura, paciência, resiliência e mãos calejadas. Não é algo que se adquire de uma hora para outra. Não é fácil.

Falo por experiência própria. Quando você estuda detalhadamente uma empresa fora do radar como as microcaps e enxerga algo que a maioria do mercado não está vendo, se antecipando a um provável movimento de alta que acaba se configurando mais adiante, tenha certeza que o gostinho de ter acetado em cheio é muito melhor.

Só que isso requer trabalho, suor e dedicação. Não seja “maria vai com as outras”. Tenha sempre um pé atrás em relação às opiniões alheias. Faça a sua própria análise. Apegue-se sempre aos fundamentos.

Esta empresa possui vantagens competitivas? Está em um setor em amplo crescimento? Ela possui um bom produto ou serviço altamente demandado pelo mercado consumidor? Aquela ação está barata diante dos fundamentos que ela apresenta? Perguntas que você se deve fazer antes de investir. Se ela passou em todos os crivos, tudo indica ser um ótimo investimento.

Construa o seu próprio caminho como investidor. Diversifique e tenha sempre uma carteira de ações equilibrada com fundamentos sólidos. No longo prazo, é assim que você vai aumentar o seu patrimônio e ter aquele gostinho diferenciado do objetivo alcançado.

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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