Internacional

China se prepara para voltar às importações com maior concorrência entre fornecedores

06 fev 2020, 10:15 - atualizado em 06 fev 2020, 10:15
Lista chinesa com cortes deve incluir benefícios às carnes dos Estados Unidos (Imagem: Reuters/Jason Lee)

A decisão de Pequim de cortar as tarifas de produtos americanos em meio ao surto epidêmico pode ir além de um gesto de confiança emitido aos Estados Unidos. A crise sanitária refletindo na economia abre possibilidade de se acionar cláusula do acordo comercial relativa a “desastres”, mas a China quer mais que agradar. Não se deve desprezar que o país queira estar também melhor preparado para as pressões para quando voltar à carga nas importações.

Relatado pelas agências nesta quinta (6), o anúncio de redução das taxas pela metade não traz a lista dos mais de 1,1 mil produtos que serão atingidos e que estão na fase 1 do acordo negociado. Mas o agronegócio certamente está contemplado, pois os produtos são os que devem estar tirando o sono das autoridades. A população precisa comer, a China é muito dependente externamente e os estoques, feitos até dezembro de vários itens – carnes, principalmente – estão indo embora.

Também nesta quarta o governo já via alertado para a necessidade de diversificar importações.

Mais opções de fornecedores globais esvazia um pouco a força dos preços das importações, inclusive como salientou Michel Alaby, da Alaby Consultores Associados, ao Money Times ontem.

Na carne bovina, as tarifas de importações cobradas sobre a proteína dos Estados Unidos passam de 40%. Outras carnes também estão no foco naturalmente, mais agora que um surto de gripe aviária se alastra nas granjas somando potencial queda de produção de frangos aos prejuízos da peste suína africana.

Pequim já havia botado pressão sobre os frigoríficos brasileiros, argentinos e uruguaios, forçando-os a reverem preços contratados e, em paralelo, praticamente suspendeu as compras. O efeito poderá ser nulo quando tiverem que voltar a solicitar novas encomendas.

Não que os frigoríficos se aproveitariam como no segundo semestre de 2019, quando o reflexo da alta na China bateu num boi em São Paulo de R$ 240/@. Pequim já freia qualquer tentativa de especulação mais forte.

Em produtos commoditizados a redução de tarifas anunciada faz também as bolsas de futuros ficarem mais comportadas. Em meio a um déficit global de soja e com a China tendo que voltar a demandar grandes volumes, o país não pode abrir mão da oleaginosa americana, como inclusive reportou aqui também Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

É melhor – imaginando que, como as carnes, o grão esteja na lista de cortes – aparar parte dos 25% taxado sobre o produto dos Estados Unidos. Tira um pouco mais da força de fundamento da soja em Chicago.

A China aguarda um ano difícil, como também o governo expressou em comunicado conhecido nesta quarta, e alguma coisa precisa ser feita para evitar mais reflexos negativos vindo do exterior.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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