Coluna do Beto Assad

Ciclo de alta de Selic chegou ao fim? Não é hora de abandonar a renda fixa

14 ago 2022, 11:00 - atualizado em 12 ago 2022, 11:53

renda fixa

A última reunião do Copom trouxe a taxa Selic para 13,75% ao ano, maior patamar desde janeiro de 2017, o que já era totalmente esperado pelo mercado e beneficia alguns investimentos na renda fixa.

Mas a grande dúvida que ainda paira (pelo menos um pouco) é se finalmente o ciclo de alta da taxa de juros do Brasil terminou.

Por tudo o que vem acontecendo nesta semana, a possibilidade de que a Selic fique em 14% em 2022 é bem grande.

Primeiramente, o IPCA de julho teve um recuo de 0,68%, marcando a primeira deflação no índice em 2 anos. Grande parte se deve à queda dos preços dos combustíveis e da energia elétrica.

O último Boletim Focus, que coleta as expectativas de instituições do mercado financeiro, apontou a Selic a 13,75% até o final do ano em suas últimas divulgações.

Por fim tivemos a ata do Copom, que deixou a porta aberta para algum tipo de ajuste residual na próxima reunião em setembro, caso se faça necessário.

Assim, fica claro que dificilmente a Selic vá para cima de 14% ainda este ano. Porém, uma segunda parte da ata chama a atenção para um horizonte maior.

O Comitê deixa claro que as atuais políticas de apoio à renda promovidas pelo governo devem continuar a pressionar a inflação, além de piorar as contas públicas e aumentar o famoso risco fiscal.

Para deixar o cenário um pouco mais complexo, tanto Jair Bolsonaro quanto o Lula já manifestaram a vontade de manter o auxílio de R$ 600,00 para 2023.

Taxa Selic no longo prazo

Imagino um cenário no qual ela realmente não deva subir muito, a não ser que algum ingrediente novo apareça para apimentar ainda mais o já conturbado cenário econômico.

Mas começa a ficar claro na cabeça de muitos analistas, o qual me incluo, que a Selic deve permanecer acima de 2 dígitos por um bom tempo ainda.

E para o longo prazo é muito ruim, pois pode comprometer por um bom tempo o crescimento econômico do país.

Caso isso realmente aconteça, não será surpresa vermos a bolsa de valores andando de lado ou caindo, como aconteceu entre os anos de 2011 e 2016. Isso porque a bolsa deverá responder exatamente a um baixo crescimento econômico do país.

Além do mais, ainda temos que ficar atentos ao “problemático” cenário internacional.

Os EUA ainda não se livraram do possível cenário de recessão. A inflação ao consumidor, que veio mais baixa do que o esperado para o mês de julho, deve levar o Fed (Banco Central norte-americano) a realizar uma alta um pouco mais branda de sua taxa de juros em comparação às últimas altas de 0,75 pontos percentuais.

Mas como os dados de emprego vieram muito acima do esperado, a inflação deve continuar sendo pressionada no prazo mais longo, e as mexidas na taxa de juros devem continuar ocorrendo.

Isso, invariavelmente, vai levar a uma diminuição da atividade econômica para os norte-americanos (e boa parte do mundo a reboque).

Situação similar se encontra a Europa, ainda no início do processo de controle da maior inflação da história do Euro.

Isso sem contar o conflito sem fim entre Rússia e Ucrânia, onde o principal país da antiga União Soviética utiliza a redução do fornecimento de gás para o bloco europeu como forma de pressionar ainda mais os países.

Não abandone a renda fixa

Enfim, o cenário macroeconômico nacional e mundial pode apontar para uma estabilização da nossa taxa Selic para o curto e médio prazo.

Mas o horizonte mais distante ainda traz muitas incertezas. Isso deve deixar nossa taxa de juros num patamar pouco atraente para investimentos mais arriscados, seja na bolsa, seja na economia real.

Portanto, vejo a renda fixa ainda muito atrativa por pelo menos mais 1 ano. E quanto à renda variável, setores defensivos devem continuar sendo os mais interessantes, principalmente para investidores menos agressivos e com foco em prazos mais longos.

Se for apostar em ações de crescimento, que dependem de juros mais baixos para financiar suas atividades, todo cuidado é pouco.

Bons investimentos!

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Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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