Internacional

Com ou sem coronavírus, “bolha” da carne bovina (e das demais) na China foi estourada

18 fev 2020, 10:23 - atualizado em 19 fev 2020, 14:37
Frigoríficos Carnes Boi JBS Friboi
Carne bovina não terá em 2020 a mesma janela importadora na China, nem em volume e nem em preços (imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Esqueçamos o coronavírus e o quanto pode impactar a economia chinesa, o tempo que pode levar para seu controle e todas as outras dúvidas que se somam à epidemia. O certo é que em 2020 não se repetirá mais a farra das vendas de proteína animal ao país de qualquer remetente.

A concorrência internacional tirará volume e, mais ainda, preços, sobretudo com os Estados Unidos na cena, como já anotou Money Times em outras ocasiões.

A notícia do presidente Coopavel, a cooperativa de Cascavel, em entrevista ao Notícias Agrícolas, de que notou queda nos preços do frango nas exportações desde o final do ano passado, com a iminência do acordo comercial com os Estados Unidos, é exemplar. A carne de aves caiu 15%. Desde o dia 15, o acordo agora está em vigor e a China já avisou que a proteína americana está com as portas abertas.

Não será diferente nos suínos. E nem com carne bovina, a maior ganhadora do Brasil com as importações chinesas, depois que Pequim remover as taxas que beiram em 40% cobradas à carne americana.

Se há dúvida quanto ao volume que os Estados Unidos terão para atender mais prontamente a China, não há dúvida quanto às cotações. “Aquela bolha de 2019 foi inverossímil, não fazia sentido e a concorrência vai fortalecer a decisão da China de não pagar mais aqueles preços”, informa Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo, associação que reúne a maioria dos frigoríficos médios e pequenos.

O reflexo na pecuária foi um boi de R$ 240 a R$ 245,00/@ em São Paulo, no pico de novembro,

Concorrência interna

Desde dezembro a China se recolheu das compras pressionando para revisão dos preços e com o vírus na sequência cessou de vez. Salazar não sabe como deverá ser o nível de queda dos preços, até porque “se negocia a cada partida”, ao contrário do que muito se fala sobre a revisão dos contratos. “Não há precificação nos contratos, apenas volumes e prazos”, informa o executivo-chefe da Abrafrigo.

Em novembro, a tonelada para a China teve aumento de 21,6% sobre novembro de 2018. No ano, a receita com os chineses foi de mais 80% (US$ 2,07 bilhões) e 53,2% em volume, participando das 1,847 milhão de exportações totais do Brasil. Não está incluso Hong Kong.

Outro ponto que Péricles Salazar destaca é que a volta da China ao mercado também pegará os concorrentes brasileiros de carne bovina melhor preparados. No segundo semestre de 2019, com duas rodadas de habilitações de plantas frigoríficas, nem todas tiveram capacidade total para embarques. E não foram todas que conseguiram negociar bons volumes.

As maiores estavam preparadas com boi China disponível e já contavam com mercado aberto. Agora deverá ser diferente.

Voltando ao coronavírus: se a situação não for estancada e a economia cair do patamar de 5% a 6% do PIB – já revisado por algumas agências internacionais de risco dos pouco mais de 6% antes da doença -, aí então a dúvida aumenta.

Mas com resposta positiva das autoridades, num primeiro momento os preços podem ser atraentes, dados os rasos estoques de carnes naquele país asiático.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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