Coluna do Estevão Seccatto

Como superar uma crise? Entender os recursos é fundamental

09 maio 2023, 17:00 - atualizado em 09 maio 2023, 15:21
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Para sair da crise, uma empresa deve buscar medidas de melhoria que podem proporcionar recursos; confira o passo a passo (Imagem: Pixabay/ Myriams Fotos)

Medidas de melhoria podem proporcionar recursos ainda não presentes em uma empresa. Isso vale para captação financeira, renegociação de passivos e incremento de resultados operacionais.

Ao fazer assim, pessoas se engajarão, clientes terão expectativas atendidas e haverá negociação de condições de pagamento.  Ao final, a empresa terá mais chances de sair da crise.

Para descobrir quais recursos são necessários, a empresa deve analisar como chegou naquela situação. Para tanto, é fundamental permitir que os administradores descubram a situação atual e compare com cenários desejados.

É nesse exercício que serão definidos os recursos necessários para superação da crise. Além disso, será possível traçar como obtê-los. Isso inclui capacidades técnicas, recursos humanos e financeiros, processos, matérias-primas, tecnologia, entre outros.

Porém, pode ser necessário trazer talentos, desenvolver fornecedores, novos mercados ou novos produtos e processos. Da mesma forma, também é preciso avaliar a necessidade de buscar novos parceiros comerciais, terceirizar parte da produção e novas fontes de financiamento.

Portanto, esse mapeamento fará parte do plano completo de superação de crise. Ou seja, os gestores devem alocar seus recursos (internos ou externos) nos pontos fortes da empresa. Ao mesmo tempo, é preciso blindar os pontos fracos, preparando-se para atuar contra as ameaças e para aproveitar as oportunidades de mercado. Abaixo, os principais pontos de atenção para reflexão:

Foco em Recursos humanos – pessoas e capacidades técnicas:

Seja qual for a área, são as pessoas que irão protagonizar a mudança. São elas que irão “virar o jogo”. Isso porque o plano de superação de crise identificará quais habilidades e recursos humanos a empresa possui. Por sua vez, os líderes devem entender se as pessoas estão dispostas a “comprar a briga” da mudança, se possuem motivações para suportar o processo. Ou seja, pode ocorrer (ainda que improvável) que a empresa já possua pessoas com habilidades condizentes.

Assim, os gestores devem estabelecer o nível de energia e ritmo de entregas. Na maioria dos casos, precisarão buscar ajuda externa, seja contratando diretamente, ou como consultoria, para ter o foco do time em resultados. À medida em que pessoas não comprometidas forem desligadas, novas contratações se acumulam e o engajamento pela obtenção dos resultados emergirá naturalmente.

Recursos reputacionais – confiança dos clientes e dos fornecedores:

O maior patrimônio de uma empresa é a confiança dos clientes e fornecedores. Portanto, esses recursos necessitam de atenção da gestão, pois os relacionamentos tendem a ficar deteriorados pela crise. Assim, ter pessoal das linhas de frente orientado, com informações e com discurso alinhados é fundamental. A confiança deles é fator determinante para a aceitação de estratégias de saída da crise e retomada do crescimento.

Portanto, administradores: pratiquem comunicação transparente para que clientes e fornecedores saibam o que está ocorrendo; demonstrem o respeito e a seriedade sobre como os problemas estão sendo enfrentados.

Recursos financeiros – negociação de passivos e novas captações:

Causa comum de crise é desequilíbrio de caixa. Daí a necessidade de novas fontes de financiamento e readequação das dívidas. Tais recursos financeiros podem ser obtidos de algumas maneiras. Entre elas, através da redução do capital de giro (aumentando prazos de pagamento e reduzindo o prazo de recebimentos, otimizando estoques); com venda de ativos, com restruturação das dívidas. Os credores precisam ter seus interesses conciliados para aceitarem as propostas de parcelamento. Demonstrar de maneira técnica os motivos pelos quais a empresa não tem condições de arcar com a estrutura atual de pagamento é uma estratégia vencedora. Para financiar as operações e o “furo de caixa” até que as demais ações comecem a surtir efeito, pode-se recorrer a novas fontes de financiamento, junto a bancos, FIDCs ou outros parceiros. É fundamental ter claro para que o recurso é necessário, como será usado, e como será pago, para não aumentar o problema.

Recursos operacionais – eficiência operacional e novos fornecedores/clientes:

Tais recursos envolvem fornecedores, matérias-primas, processos, tecnologia, entre outros. Com isso, atacar a gestão operacional (maximizar eficiência, realizar cortes de pessoal, revisar contratos, rever custos e margens) é fundamental. Caso a gestão não tenha conhecimento para tal, deverá imediatamente procurar ajuda externa. Para tanto, é necessário alocar recursos em ações estratégicas e tirar a empresa da crise. Outras estratégias são aumentar o controle da produção com planejamento, estabilizar o ritmo de produção, reduzir desperdícios e custos, adicionar produtividade, controlar anormalidades, reduzir a dependência e concentração em clientes ou fornecedores, pulverizar o risco da empresa e avaliar a terceirização de produção de forma segura.

Recursos de informações – decisão sem dados é chute:

Os sócios e executivos devem tomar decisões com base em fatos e dados. Promover a implantação de ferramentas de informação para ajudar na gestão para extrair informações que suportem planos de ação, iniciativas e projetos de melhoria. A sugestão é a prática de gestão técnica e rápida, com indicadores, sem excesso de burocracias, favorecendo a rapidez da chegada dos resultados ao caixa.

Ou seja, em uma empresa em crise, o principal recurso é o caixa, e os gestores devem permear e aplicar esse conceito em todos os departamentos, não só em seus discursos. Todos na empresa devem ter essa prioridade, mesmo que para isso tenham que refazer planejamentos e análises já tidas como concluídas. Estas são oportunidades para monitorar o engajamento das equipes e identificar se há necessidade de substituição de colaboradores. O fluxo de caixa saudável e sem surpresas possibilitará alocação de recursos em iniciativas e projetos que tirarão a empresa da crise.

*Estevão Seccatto é professor de Turnaround na FIA Business School. Autor dos livros “Turnaround Bootcamp”, “Salve Seu Negócio, “Turnaround 100 Segredos” e “Psicologia da Crise”. Colunista do Money Times, entre outros veículos. Engenheiro naval (Poli/USP), com extensões em economia (Harvard), finanças e marketing (USP), tecnologia (Singularity), finanças (Duke), metrando (Liverpool), MBA em Banking (FIA). Cursando LLM em Direito dos Negócios pela Faculdade do Ministério Público. Foi head global de M&A da Atento (NYSE), reestruturador de empresas pela KPMG e IVIX, diretor da G4S (LSE) e associado de private equity. Ao longo de sua carreira, endereçou os desafios de mais de 150 empresas, de diversos setores e portes. 

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