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Condado digital: Quem são os empreendedores que ficaram milionários antes dos 30

26 dez 2022, 7:02 - atualizado em 26 dez 2022, 8:02
empreendedor, Mulher com computador saindo dinheiro da tela
Conheça os milionários com impérios digitais (Imagem: Shutterstock)

Em paralelo aos chamados Faria Limers, termo usado em referência aos profissionais que trabalham na região da Faria Lima, outra categoria de jovens endinheirados vem crescendo fora dos muros do “Condado”. São os outliers digitais, batizados assim por pensarem “fora da caixa”. Há algumas semelhanças entre os dois grupos, como o desejo de alcançar liberdade financeira cedo na vida e não medir esforços e horas de trabalho.

Mas há também grandes diferenças. Os outliers, por exemplo, são donos do próprio negócio e nômades digitais por essência. Com um computador na mala e acesso à internet banda larga, conseguem levantar milhões de qualquer lugar do mundo, o que é um dos grandes drives dessa turma. Quem explica isso é o empreendedor digital Thiago Finch, que ficou milionário aos 21 anos trabalhando com marketing digital.

Nascido e criado na pequena João Monlevade, em Minas Gerais, ele conta que descobriu a ferramenta aos 17 anos. No Brasil ainda não havia quase nada do tipo, mas os Estados Unidos já despontavam como polo na modalidade. Ele resolveu então encerrar o empreendimento que tocava desde os 12 anos – um pequeno comércio de games montado no estoque de calçados da loja da mãe – para decifrar o marketing digital e trabalhar com isso. “Meus pais ficaram bem céticos. Os dois eram empreendedores de classe média baixa e queriam que eu continuasse estudando. Foi polêmico, mas eu estava decidido.”

Ao contrário do que os pais acreditavam na época, os estudos vieram. “Comprei alguns cursos em inglês e comecei a estudar dentro de casa. O desafio era duplo porque eu tinha de interpretar o inglês e entender a parte técnica ao mesmo tempo”, explica Finch. “Foram quatro anos de estudo contínuo, dizendo não a convites para festas, aniversários e até Natal, rabiscando as paredes da minha mãe com funis de venda. Parecia um cientista maluco.”

O primeiro produto digital, segundo ele, foi desenvolvido com a ajuda de um amigo que emprestou o cartão de crédito para comprar as ferramentas necessárias e colocar toda a engenharia em operação. Era um curso sobre investimentos feito em parceria com um especialista da área, proprietário de uma rede de lojas na cidade natal do empreendedor. O primeiro resultado veio 8 meses após o início da jornada.

Na sequência ele começou a investir em PLRs (Private Label Rights), que são produtos digitais prontos para serem comprados e revendidos, sem cobrança de royalties. “Essa foi a grande sacada. Fiquei de 3 a 4 anos fazendo somente isso, sem expor a minha cara online. No PLR, 95% do trabalho é técnica de venda. Foram mais de R$ 40 milhões de faturamento”, diz Finch.

Foi a essa altura – já milionário com apenas 6 anos de estrada no marketing digital – que ele decidiu empacotar um conteúdo próprio. O curso Nômade Milionário, em que ensina o que ele mesmo colocou em prática para chegar a seus resultados, foi um marco na história do marketing digital não só no Brasil, mas no mundo, com R$ 24 milhões faturados só no primeiro lançamento.

“É a Apple dos cursos no mercado. A gente subiu a régua de qualidade para cursos e aulas”, afirma o empreendedor, hoje com 27 anos e dono de um império digital, onde um time de 54 pessoas trabalha em 25 PLRs e outros produtos digitais, além de um novo departamento de tecnologia que vai desenvolver programas de software para a área.

“Nos primeiros meses, sozinho no quarto da casa dos meus pais, me perguntei se eu não era só um doido sonhador. Mas eu via que a 10 mil quilômetros de mim tinha pessoas parecidas. Eram outliers”, diz ele. “São pessoas que conseguem construir um foguete olhando no Google. Fazem, erram, ajustam, otimizam e nunca desistem, independente de qualquer adversidade. Vão aprendendo e já aplicando na prática.”

Dinheiro sem tabu

Especialista em marketing digital, Rejane Toigo explica que uma das características que diferenciam o estilo de empreendedorismo dos outliers digitais é a ausência de um viés inconsciente específico, que muitas vezes impede o sucesso nos negócios. “Esses empreendedores são determinados a ganhar dinheiro. Como sociedade judaico-cristã, temos muitos pudores e o dinheiro é um deles. É um tabu”, ela analisa. “Esses jovens empreendedores não tiveram tempo de absorver a culpa do dinheiro; se despiram desse pudor e são determinados a prosperar.”

À frente da Like Marketing, a empresária fala que o caminho para fazer parte deste seleto grupo, no entanto, não é fácil. “Tem gente que faz meia dúzia de vídeos no youtube, lança um curso ou uma metodologia e se autodeclara especialista em determinado assunto. Mas antes precisa olhar para a trajetória da pessoa, ver se ela de fato faz o que está ensinando. Ela tem de mostrar resultados, no plural. Não adianta ter um case isolado. A metodologia precisa ser replicável.”

Ela afirma ainda que os resultados financeiros exigem, além de especialização, dedicação. “Primeiro é entender qual é o seu perfil, a que desenho de empreendimento vai se adequar, se quer ter previsibilidade de ganhos ou se quer ganhar muito e depois não trabalhar mais, por exemplo, para depois buscar o conhecimento. E não ache que vai trabalhar pouco. São 16, 18 horas por dia. Se a pessoa tem sucesso, tem horas de trabalho.”

Foco, comprometimento e consistência

Aos 28 anos, a carioca Sissi Toledo é uma das poucas mulheres entre os outliers digitais no Brasil. Ela conta que teve uma mente empreendedora desde cedo, quando trabalhava como modelo e começou a fazer projetos como web designer para a rede de networking que construiu na moda. Chegou a cursar uma faculdade de Direito, mas já sabia que seu ideal profissional iria por outros caminhos.

“Eu queria uma vida que fosse além de ter o ‘emprego dos sonhos’ para pagar boletos. Queria poder desfrutar de uma vida abundante e próspera e estava disposta a fazer todos os sacrifícios para ter resultados perenes”, afirma.

A empreendedora foi outra que encontrou seu espaço no mundo digital. Conheceu o mercado de coprodução na internet em 2019 e, em 2020, já tinha feito seu primeiro milhão com lançamentos de produtos digitais. Fundadora da Toniolo Media e da Uniq Brand Lab, ela hoje é líder em branding pessoal e especialista em posicionamento de marcas de alto valor e funil de vendas de produtos high ticket.

“Conquistei a minha liberdade através do empreendedorismo digital aos 23 anos”, afirma, revelando que seu trabalho também já gerou mais de R$ 10 milhões para seus clientes. “É um trabalho como qualquer outro, mas os segredos básicos são ter foco, comprometimento e consistência”, descreve a jovem milionária.

De influenciador para influenciador

Depois de passar por várias experiências ruins com agências de influenciadores, o youtuber Pedro Gelli, de 26 anos, dono de três canais de games que somam mais de 8 milhões de assinantes e 1,2 bilhões de acessos, resolveu ele mesmo fazer diferente. Ao lado do amigo de adolescência e especialista em marketing de influência Lucas Continentino, de 28 anos, e de Vitor Rabello, de 25 anos, que veio da área de finanças, o gamer profissional montou a Curta, hoje maior hub de influenciadores do Youtube.

“A Curta foi montada a partir das dores do mercado, em um modelo mais disruptivo. Queremos valorizar o influenciador de forma justa e temos a transformação do mercado de influência como propósito”, explica Continentino.

Juntos, os 30 influenciadores que estão sob o guarda-chuva da empresa acumulam mais de 120 milhões de inscritos e 1 bilhão de visualizações. Entre eles estão oito dos maiores youtubers gamers do universo Minecraft e Gabriel Neto, conhecido como Robin Hood Gamer e criador número 1 do Youtube Brasil em 2021.

A Curta trabalha a monetização dessas celebridades digitais através de parcerias com marcas, campanhas publicitárias, produtos e licenciamentos e canal digital. “Temos uma visão de influenciador para influenciador”, afirma Gelli, também conhecido como Gelli Clash pelos fãs na internet. “Procuramos olhar para todos os influenciadores individualmente, não só para os cinco ou seis maiores, como costuma acontecer nas agências tradicionais. Conseguimos fechar (negócios) para quase todos eles mensalmente.”

Líder da parte comercial do hub, que atualmente tem um time de 26 pessoas e deve encerrar o ano com um faturamento de R$ 30 milhões, Rabello complementa afirmando que só talento não basta para ter sucesso empreendendo como influencer. “Precisa ter consistência e vontade porque você vai fazer a mesma coisa das 8h às 18h.”

“Tem de conhecer as plataformas, saber para onde a correnteza leva a água no mercado e saber gerenciar dados para não perder o controle do negócio. Porque a internet muda o tempo todo.” Ele destaca ainda a questão geracional que joga a favor dos jovens outliers da internet. “Somos nativos digitais, então temos mais facilidade para acompanhar a velocidade da evolução da internet e das tecnologias. Isso corre na nossa veia”, conclui.