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Consumo de aviação, hotéis e zonas corporativas podem nunca voltar ao pré-pandemia

20 jun 2022, 16:32 - atualizado em 20 jun 2022, 16:32
consumo
Com as mudanças de consumo, diversos mercados podem não retomar ao que eram antes da pandemia.(Imagem: REUTERS/Evgenia Novozhenina)

Ainda que a pandemia do novo coronavírus não tenha acabado, e nem haja sinais para seu fim a curto prazo, o fim das restrições impostas pelo governo para desestimular a locomoção fez com que diversos hábitos de consumo voltassem ao normal ou até melhor que o período anterior à pandemia.

Apesar disso, alguns setores terão que recorrer a novas fórmulas para se manterem relevantes, já que determinadas atividades não têm previsão de voltar aos patamares anteriores à pandemia por duas questões claras: custo e eficiência.

O mercado, ao ser submetido de forma compulsória às atividades remotas, descobriu que muitas atividades podem ser cumpridas com a mesma eficiência custando muito menos.

Aviação

Estudo publicado pela McKinsey aponta que 20% das viagens a negócio, nicho que representa o maior lucro das companhias aéreas, poderão nunca mais ocorrer.

É bastante claro o porquê disso: uma viagem gera custos altos que vão além da própria passagem de avião. Acomodação, alimentação e deslocamento ajudam a pesar a linha orçamentária de viagens.

Com dois anos de pandemia, descobriu-se que muitas das tarefas desempenhadas in loco podem ser substituídas sem grande prejuízo por ferramentas de reuniões online, como o Teams, a um custo irrisório: cada licença do Microsoft Office custa, sem negociação, R$ 28 mensais.

Companhias aéreas dependerão mais da retomada do turismo de lazer, que precisará ser impulsionada pela melhora da economia, para preencher essa lacuna. E ainda que haja essa melhora, determinadas práticas jamais serão aceitas como vinham sendo, como as relacionadas ao preço das passagens.

Enquanto uma multinacional pode embolsar R$ 1.000 por uma passagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, dificilmente um funcionário se submeteria a tal condição para uma viagem de lazer.

Hotelaria

O setor hoteleiro talvez seja um dos que mais venha sofrendo com alterações irreversíveis de consumo do hóspede.

Enquanto o turismo de lazer foi fortemente atacado pela popularização do Airbnb, que proporciona diversas novas experiências (e muitas vezes mais econômicas), nos últimos dois anos o consumo do turismo de negócios é que foi bastante afetado.

Em concomitância com o que ocorre com as companhias aéreas, a redução de viagens a trabalho afeta diretamente os hotéis, sobretudo aqueles localizados em regiões com forte vocação corporativa.

Ainda que haja expectativa de uma reação no setor impulsionado pela volta do turismo de lazer, algumas retomadas podem nunca acontecer.

Alguém que queira visitar São Paulo por conta da vida noturna da Vila Madalena, dos bares e restaurantes dos Jardins e das baladas do centro expandido se hospedaria na Berrini ou na região da Santo Amaro, onde surgiram nos últimos anos diversos prédios corporativos que abrigam empresas como Nestlé, TIM e Claro?

Marcas como Accor, Wyndham, Intercity, Transamérica e Blue Tree poderão deslocar seus esforços para o setor de eventos para compensar a falta de hóspedes. Com a devolução de lajes corporativas e a redução de espaço físico, muitas empresas podem recorrer à locação de salas de reuniões ou auditórios para promover encontros presenciais sem o ônus de ter que mantê-los de forma permanente.

Zonas corporativas

Estudo encomendado pelo Estadão identificou que, durante os dois anos mais agressivos da pandemia, 663 mil metros quadrados foram devolvidos pelas empresas aos seus locadores.

Apenas o Itaú Unibanco devolveu 60 mil metros quadrados, portanto, abrindo mão de endereços em Pinheiros, Vila Leopoldina e Bela Vista.

A Unilever entregou quatro andares de sua sede na Chácara Santo Antônio e a Novonor (a nova Odebrecht) deixou de ocupar 35 mil metros quadrados de um luxuoso prédio às margens do Rio Pinheiros para um de 12 mil metros quadrados no Parque da Cidade.

Neste último caso, outros efeitos contribuíram para essa mudança, como a recuperação judicial e os efeitos da Lava Jato. A Riachuelo é uma das novas ocupantes do endereço antigo.

Com o estoque de lajes corporativas em alta, novos projetos estão sendo rediscutidos. Alguns urbanistas sugerem a conversão destes endereços para uso misto (permitindo que, além de escritórios, possam ser abrigados moradores). Tal ideia, inclusive, daria mais vida a regiões que só existem em horário comercial, como a Faria Lima.

A redução da migração pendular e seus efeitos econômicos

O fenômeno da migração pendular é caracterizado pelo deslocamento diário de pessoas de uma região para outra para trabalho ou estudo, retornando à região de origem posteriormente — esta, muitas vezes, caracterizada como bairro-dormitório ou cidade-dormitório. Em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, tais eventos são muito comuns.

O pós-pandemia impacta diretamente esse comportamento de consumo à medida que essa migração deixa de ocorrer com a mesma recorrência ou simplesmente deixa de ocorrer.

O efeito do home office ou do modelo híbrido de trabalho não tira o sono apenas das grandes incorporadoras. As PMEs (pequenas e médias empresas) são as que mais sofrem.

Qualquer um que trabalha numa região como a Berrini desde antes da pandemia, ao voltar à região, sentirá falta de algum restaurante ou comércio que costumava frequentar.

Se 10 mil funcionários de um determinado prédio corporativo trabalhavam presencialmente de segunda a sexta, havia a certeza de um número muito próximo a esse para consumo de pratos de almoço.

O café, o bar do happy hour, o salão de beleza e a farmácia também eram negócios que se sustentavam desse público. À medida que esse universo inicial de 10 mil funcionários diminui, gera-se um efeito dominó, já que toda essa cadeia é afetada.

Ainda que isso possa gerar o fechamento de comércios e desemprego, esse dinheiro não se perdeu: ele apenas se deslocou de espaço e passou a circular em regiões como ‘bairros-dormitório’ ou ‘cidade-dormitório’. Empregos e impostos gerados na cidade de São Paulo, por exemplo, poderão ser criados e gerados em Taboão da Serra, Osasco e Guarulhos, ou mesmo nas regiões mais periféricas.

Reinvenção do consumo

Várias expressões, como ‘novo normal’, surgiram no decorrer da pandemia, tornando-se muitas vezes piegas. O próprio conceito de reinvenção ou transformação, amplamente difundido pelas empresas, também é.

Mas independentemente do nome que se queira usar, é indispensável o exercício de releitura de cenários para se entender onde estávamos, onde estamos e para onde estamos caminhando.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
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