Mercados

Credit Suisse: Entenda a nova crise de um dos mais tradicionais bancos do mundo

15 mar 2023, 17:26 - atualizado em 15 mar 2023, 20:35
Credit Suisse
Credit Suisse gera desconfiança do investidor, após relatório financeiro divulgado ontem (Imagem: REUTERS/Arnd Wiegmann)

Passada a trégua da terça-feira (14), o setor bancário global retoma a crise de confiança à esteira da quebra do SVB e do Signature Bank. O ‘vilão’ da vez é um velho conhecido dos mercados: o Credit Suisse (CS).

O banco suíço chegou a tocar mínimas históricas, após o Saudi National Bank (SNB), principal acionista do Credit Suisse, descartar um novo aporte financeiro na instituição.

Em declaração à Reuters, o presidente do banco saudita, Ammar Al Khudairy, alegou que um aumento de capital colocaria os árabes acima dos 10% de participação, o que não seria permitido por questões regulatórias.

A ajuda financeira do SNB serviria para aplacar a animosidade dos investidores com o relatório anual do Credit, que aponta para riscos de liquidez na operação do banco. Após ser postergado em uma semana, o documento liberado na segunda-feira (13) fala em “fraquezas materiais” ao descrever o controle interno sobre as finanças e o fluxo de saques ainda não originado em 2022.

Somente entre outubro e dezembro do ano passado, o Credit experimentou uma onda de saques da ordem de 110 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 118 bilhões). Tudo isso em meio a uma sucessão de escândalos  que mancharam a credibilidade do banco.

O ano passado fechou com um rombo de US$ 8 bilhões para o banco. Sobre o fluxo de saída de recursos, o banco informou que, embora tenha diminuído de intensidade, ainda está ocorrendo a níveis elevados.

Qual o tamanho do problema do Credit Suisse?

Os problemas do Credit Suisse não surgiram do nada. O banco suíço, junto ao Deutsche Bank e alguns bancos italianos, carrega riscos desde o fim da última crise financeira global, que atingiu a Europa com mais força entre os anos de 2011 e 2012.

A estrutura inchada do banco, calcada em ativos de baixa liquidez, colocaria o Credit Suisse em uma situação delicada em caso de qualquer corrida bancária. Uma série de boatos sobre a saúde financeira do banco divulgados ao longo do ano passado deu as exatas condições para que ocorresse justamente isso.

“Para quebrar um banco, basta um boato”, comenta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. Somente em 2022, as ações do Credit Suisse negociadas em Nova York desabaram 30%; em 5 anos, essa queda é de 80%. Hoje a instituição tem um valor de mercado de US$ 10 bilhões.

Para tentar conter a sangria em torno da retirada de recursos, o conselho executivo correu para o mercado em busca de uma capitalização, prometendo um plano de reestruturação e maior rigidez nas regras de conformidade.

E conseguiu. Com ajuda do SNB, o Credit levantou US$ 4.2 bilhões, ajudando a acalmar preocupações do mercado. Mas qualquer tranquilidade veio abaixo com o colapso ‘gêmeo’ do SVB e do Signature no fim de semana passado, gerado, em última instância, por questões semelhantes àquelas enfrentadas pelos suíços.

“Se o banco não reverter as saídas de recursos, e não restaurar a quantidade de ativos sob gestão, o efeito adverso pode levar a uma situação mais extrema”, avalia o estrategista-chefe da Avenue. Castro Alves também destaca que a liquidez do banco permanece próxima ou até abaixo de níveis estabelecidas por reguladores.

É por acessar esse risco que os mercados viram uma explosão, nos últimos quatro dias, de 920 pontos-base (+0,92) no rendimento dos títulos de proteção contra falência, os CDS (Credit Default Swaps), com maturidade de um ano.

Na prática, o avanço vertiginoso do ativo aponta para um aumento, além de 50%, da probabilidade do banco se tornar insolvente.

Diferente dos bancos regionais americanos, o Credit Suisse é uma instituição de mais de um século e meio de existência, com 50 mil funcionários, US$ 1,5 trilhão sob gestão e negócios em vários continentes, o que torna os efeitos de uma falência muito mais temidos.

Na tentativa de por panos quentes à situação, o CEO Ulrich Koerner disse ontem que a situação financeira do banco é tranquila. Já Axel Lehmann, chairman do Credit, mencionou que uma ajuda governamental “não é um tópico” e que o esforço de retorno do banco à lucratividade não se assemelha aos problemas de liquidez dos menores credores americanos.

Mas a autoridade monetária do país não ter ouvido a fala de Lehmann. Há instantes, o Banco Central da Suíça comunicou que poderia ajudar o Credit com capital se necessário for.

Crise de bancos regionais dos EUA cruza o Atlântico

O novo turbilhão envolvendo o Credit Suisse assinala a chegada da crise do setor bancário para a outra margem do Atlântico.

Além do próprio Credit, diversos bancos italianos tiveram a negociação suspensa nessa quarta-feira, contribuindo para um tombo de quase 7% do índice STOXX 600 Banks, que reúne o desempenho dos principais credores europeus.

Em meio à onda de desconfiança, o Banco Central Europeu (BCE) disse que consultará os bancos europeus para entender o tamanho da exposição dos mesmos ao Credit Suisse.

O sinal negativo vindo da Europa voltou a penalizar as ações dos bancos regionais americanos, já fragilizados pela  Em Nova York, o First Republic Bank despenca mais de 19% — o banco agora tem a avaliação “junk” (porcaria) da agência de crédito S&P; outro banco que sofre é o PacWest Bancorp, que perde 15%.

O clube too big to fail, montado por Wells Fargo, Bank of America, JP Morgan, Citigroup e Goldman Sachs, permanece mais blindado à crise de confiança que paira no mercado, perdendo menos do que 5,5%.

Em um processo de canibalização em curso, antigos clientes dos bancos regionais já procuram os megabancos para a abertura de contas. Para o BofA, isso significou uma adição de US$ 15 bilhões em depósitos  nos últimos dias.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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