Opinião

Daniel Palaia: Retorno do fundo Classe High Yield

26 maio 2021, 15:31 - atualizado em 26 maio 2021, 15:31
Mercados
No Brasil é possível dividir os ativos high yield em 2 subclasses: O crédito estruturado e o crédito corporativo (Imagem: Unsplash/ Mohammadreza alidoost)

A classe High Yield é relativamente nova no Brasil. Surgiu há menos de 10 anos e vem ganhando cada vez mais peso a medida que aumentam os fundos focados nesse mercado ou estratégias que utilizam essa classe como parte da performance / risco agregado dentro de um portfolio com várias classes de ativos.

No Brasil é possível dividir os ativos high yield em 2 subclasses: O crédito estruturado e o crédito corporativo. Chamo de crédito estruturado, o tipo de operação que geralmente tem mais de um devedor, com recebíveis sendo securitizados e transformados num produto alocável num fundo e que possua garantias, sejam elas reais (Imóveis, terra, maquinário, etc), recebíveis financeiros (cartão de crédito, consignado, recebíveis de clientes, etc) ou subordinação, ou seja, dentro de uma estrutura onde exista classes de investidores, cada um alocando um risco e recebendo uma performance adequada aquele risco.

Finalmente é possível dizer que em muitas situações a operação estruturada não envolve o risco corporativo ainda que esse último esteja presente na estrutura como um todo. As possibilidades de ativos estruturados são diversas: Crédito Consignado público ou privado, carteiras de produtores rurais, recebíveis de cartão de crédito de pessoas físicas, antecipação de pagamento de fornecedores de PME´S, etc. O crédito corporativo é mais simples. É um crédito direto para uma empresa, onde a analise é puramente baseada nos números da empresa, governança, setor, etc.

Percebemos que no Brasil o crédito estruturado é melhor precificado e tem um risco menor do que o crédito corporativo. Essa diferença deve-se a dois motivos principais: Os bancos tem maior demanda pelo crédito corporativo por conta das externalidades que ele traz (serviços de cash management, fianças, etc) e pelo fato de que operações estruturadas geralmente consomem mais capital no balanço dos mesmos. As operações de crédito estruturado embora tenham menor risco são mais complexas e exigem portanto uma análise que nem todos os bancos / gestoras têm expertise ou tempo para fazer.

Para uma gestora que tem tempo e capacidade de avaliar operações estruturadas, sem dúvida a relação risco retorno é melhor do que o crédito corporativo. Historicamente é possível inclusive dizer que as perdas com operações estruturadas são menores que as com crédito corporativo, dadas as garantias atreladas as operações estruturadas.

Mercados, Europa
Atualmente a taxa mínima para um produto ser considerado High Yield no Brasil é próxima de CDI+6% (Imagem: REUTERS/Simon Dawson)

Diferentemente dos Estados Unidos, as operações High Yield no Brasil tem pouquíssima liquidez o que exige uma gestão bastante conservadora de liquidez nos fundos que compram esse tipo de ativo. Um segundo problema é que na maioria dos casos, os administradores de fundos ainda têm pouca experiência com esse tipo de estrutura, levando a uma dificuldade na marcação a mercado desses ativos. A falta de liquidez e a complexidade dos produtos high yield são os principais fatores para a falta de marcação a mercado.

O investidor que decidir investir num fundo High Yield tem que estar atento pois nem sempre o retorno do fundo refletirá a real performance dessas operações, podendo haver portanto uma distribuição injusta de riqueza a medida que as aplicações e resgates ocorrem no fundo. Tal problema é mitigado quando os gestores decidem lançar fundo com prazos de resgate longos. Felizmente temos visto no Brasil uma tendência de criação de fundos high yield com prazos de resgates longos, acima de 180 dias, realidade que não víamos há três anos, por exemplo.

Atualmente a taxa mínima para um produto ser considerado High Yield no Brasil é próxima de CDI+6%. Mesmo considerando todos os riscos e entendendo que o índice de Sharpe não é a melhor medida desse tipo de ativo por conta da iliquidez, são produtos que compõem muito bem os portfolios de multimercado onde o retorno médio da indústria é inferior a esse nível. Fundos dedicados ao crédito High Yield, desde que tenham prazo de resgate aderentes a liquidez dos ativos, também são uma ótima diversificação para as classes de ações e multimercados.

O movimento de diversificação de carteiras para esse tipo de fundo está apenas começando mas é perceptível o entendimento dos gestores de fundos de fundos (FoF) que essa classe é necessária na criação de um portfolio saudável. Entendemos que ao longo dos próximos anos, essa classe se tornará essencial na diversificação dos porfolios, como ocorre nos EUA e exigirá analistas especializados no assunto dada a complexidade do tema.

CIO e Sócio da Gama Investimentos
Atualmente é o Chief Investment Officer (CIO) e Sócio da Gama Investimentos, gestora focada em Crédito Privado e Feeders Funds. Atua no mercado financeiro desde 2001, com passagens por Assets e Tesourarias de bancos. Possui graduação em economia pela FEA USP, mestrado em economia pela FGV EESP (2008) e Doutorado pela FGV EESP (2014). Ingressou no banco Itaú em 2007 onde desde meados de 2014 até o final de 2020 foi o Head de gestão dos fundos de crédito High Grade e High Yield da Itaú Asset Management. Ministrou ao longo dos últimos anos diversos cursos internos de Renda Fixa / Crédito no Itaú para formação de analistas e trainees.
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Atualmente é o Chief Investment Officer (CIO) e Sócio da Gama Investimentos, gestora focada em Crédito Privado e Feeders Funds. Atua no mercado financeiro desde 2001, com passagens por Assets e Tesourarias de bancos. Possui graduação em economia pela FEA USP, mestrado em economia pela FGV EESP (2008) e Doutorado pela FGV EESP (2014). Ingressou no banco Itaú em 2007 onde desde meados de 2014 até o final de 2020 foi o Head de gestão dos fundos de crédito High Grade e High Yield da Itaú Asset Management. Ministrou ao longo dos últimos anos diversos cursos internos de Renda Fixa / Crédito no Itaú para formação de analistas e trainees.
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